CrisVieira~ 29/12/2017O PRIMEIRO LIVRO da série PUBLICADO NO BRASILResolvi afinal escrever uma resenha sobre este livro em defesa de sua honra. Depois do lançamento da série de TV
Bones mais dois exemplares foram lançados pela editora Record e inclusive a editora disse que um deles era o "primeiro livro lançado da autora de Bones". Uma imprecisão digna de um estagiário, mas que uma editora não deveria cometer pois, graças aos deuses do mundo editorial existe algo chamado ISBN que é o registro de cada livro publicado aqui. E
Déjà Morta tem um que o indica como sendo o primeiro livro de Reichs apresentando a dra. Brennan que, antes, não passava de uma mera médica legista preterida até mesmo por seus colegas, mas muito curiosa e solitária em sua vida de mãe solo.
Mas falemos um pouco dessa obra que alavancou a carreira da antes desconhecida antropóloga Kathy Reichs a tornando um ícone dos trhilers forenses de mistério. Eu li este livro no início da adolescência porque fiquei apaixonada pelo título. Era evocativo e diferente e a história, arrepiante como eu jamais tinha visto antes. Infelizmente a sinopse que se encontra hoje na internet é incipiente e vazia de explicações. Não fala que mais do que apenas um corpo, a dra. Brennan lida com um serial killer que mata apenas mulheres de uma forma tão bárbara que ecoa nos confins da década de 1990 (época do lançamento do livro no mundo inteiro, inclusive no Brasil) os brados contra a misoginia - palavra que apenas nas últimas décadas tornou-se representante de um ódio visceral e intolerável contra pessoas designadas como mulheres (e/ou moças e meninas).
Na história, Brennan tem de lidar com o "IML" precário onde é obrigada a trabalhar que é muito diferente do hospital onde dava seus plantões. Ela uma inveterada bebedora de café (se eu não estiver enganada), é sarcástica e irônica sobre o que não mais tem à sua disposição no local onde foi parar para ter paz e tranquilidade para viver e trabalhar.
E é engraçado como a personagem foi modificada pela autora para caber no personagem que a série criou. A Brennan de
Déjà Morta é engraçada, insegura, corajosa, persistente, reservada e um pouco sonhadora. Inteligente ao extremo, claro - e o que causa inveja e o desprezo em seus colegas do departamento onde tem de trabalhar -, curiosa e obstinada em dar um desfecho para as pobres mulheres violentadas (até depois da morte, literalmente falando) e destroçadas que vão surgindo à medida que a história avança.
É instigante tentar descobrir quem seria o monstro que descontroladamente ataca mulheres e as desmembra para que Brennan as acolha em sua fria mesa para tentar montar aquele difícil quebra-cabeças.
Claro, o livro tem alguns pontos que mostram que era o primeiro trabalho de Reichs (e me lembro disso até hoje), mas era possível já naquela época saber que o caminho que Reichs trilharia seria de sucesso.
OS autores da série de TV foram espertos em comprar os direitos autorais para passá-la para a TV, mas acredito que espetacularizar os livros talvez possa tê-los empobrecido naquilo que o primeiro deles tinha de melhor: Temperance Brennan é super-humana. Ela é sensível até o último fio de cabelo. Ao contrário da "Bones" da série, por exemplo, ela é capaz de "fazer um barraco" por pouca coisa e, sim, o lance dela e do policial, às vezes, a faz quase querer largar tudo só para fugir com ele para bem longe.
E fora que há seu lado materno, as preocupações (que toda mulher que tem filhos acaba tendo) de não ser uma mãe perfeita e as inseguranças que aumentam quando mãe e filha discutem por nada.
Enfim, li este livro há muito tempo e já passou da hora de relê-lo, para refrescar a memória (e não cometer imprecisões como posso ter cometido aqui!), pois é uma obra que me marcou. Era a primeira vez que eu via uma personagem mulher humaníssima e determinada a não desfazerem dela por ser brilhante e sensível.
Assim, defendendo a honra do
primeiro romance de Kathy Reichs lançado no Brasil pela Record, Déjà Morta, eu digo que mesmo que qualquer outro romance de Brennan seja bom, sem ler a origem da personagem (e talvez se incomodar com as mudanças desnecessárias que Reichs pode ter feito para adequá-lo a um programa de TV (blasfêmia das piores contra uma obra literária!)) não é possível entender a essência da desprezada e brilhante médica legista que, sozinha, enfrentou um misógino e implacável assassino de mulheres.
Eu recomendo:
LEIAM Déjà Morta! :D
Nota: 4,5✯.
P.S.: Livros onde há assassinatos merecem nota 5, mas não recebem por causa exatamente das mortes. Assim, se recebeu 4, 5, entenda como um 5✯.