Desde que vi o nome desse livro na lista de lançamentos da Companhia das Letras no começo do ano fiquei curiosa e procurei a sinopse no Goodreads. Estava ansiosa para o lançamento e quando o vi no meio dos lançamentos da Paralela na Bienal fiquei muito feliz. É distópico sem ser, é o tipo de romance desastre que se bem construído renderia uma história fascinante. 216 páginas depois posso dizer que Karen Thompson Walker foi genial. Ela construiu uma história única, desconstruindo tudo o que é caro para nós e narrado de uma forma tão magistral que é difícil acreditar que esse é seu livro de estreia.
Julia tem 12 anos e era uma garota como outra qualquer. Tinha uma melhor amiga e jogava futebol. Foi em uma tarde de jogo que a notícia começou a se espalhar pelos canais de televisão, internet e jornais. A rotação do planeta terra estava diminuindo de velocidade. O planeta estava desacelerando e ninguém sabia por quê. O dia ganhava minutos. Os cientistas estavam como loucos atrás de respostas. O que causou e se ia continuar. Nos dias que se seguiram a notícia todo o mundo estava em pânico, os mercados eram drenados, religiosos falavam em fim dos tempos. A primeira mudança foi a gravidade que estava ficando mais forte, pássaros eram puxados para o chão, as marés estavam mudando. Muitos estavam fugindo e a pergunta que Julia se fazia era para onde. Afinal não adiantava mudar de estado. A mãe de Julia mudou. Estava com o medo estampado na cara. Seu pai parecia calmo e seguiu trabalhando. Os dias iam passando e os minutos logo se tornaram horas. Os relógios estavam obsoletos. O dia passou há ter 25 horas, depois 28 horas, em pouco mais de um mês já eram 48 horas, e só ia aumentando. Vieram às noites brancas para aqueles que ainda seguiam às 24 horas independentes do céu claro ou escuro. O nascer e o pôr do sol estavam cada vez mais distantes. Semanas no claro, semanas no escuro. E Julia ia vivendo.
É essa a premissa genial que dá início a uma narrativa reflexiva e uma trama linear que desenvolve um cenário desolador. Um cenário que mexe com o leitor. Terminei o livro sentindo um amor que jamais imaginei que ia sentir pelo nosso planeta. Só de pensar naquele cenário se tornando realidade meu estômago gela. Instinto de sobrevivência? Pensar que tudo pode simplesmente começar a parar e ir morrendo. O fim de um planeta. Seria possível? O pior é que sim. Já é fato que a rotação do nosso planeta está diminuindo. Claro que em um ritmo muito lento, 2,3 milissegundos por século, mas ainda assim é preocupante. E se essa diminuição for aumentando? Daqui, sei lá, 200 anos o cenário do livro pode se tornar realidade.
É apavorante e ao mesmo tempo emocionante pensar nisso. Contraditório, mas é verdade. Imagina viver em um planeta assim? Plantações ficando impossíveis, frutas, animais e tudo isso virando passado. É fascinante e muito, muito triste. A humanidade pode não ser grandes coisas, cheia de erros e defeitos, mas somos criaturas estranhas, inteligentes, que lutam mesmo quando o fim é certo. Imagine isso tudo apagado? Um simples planeta, vazio, morto, uma mera pegada na areia, um eco. É assustador. Existem teorias que aconteceu algo assim com marte e olha o que tem lá hoje em dia. Será esse o destino da terra?
A narrativa da autora assume um tom poético, melancólico, sem a intenção de parecer científico e muito menos um alerta. É um relato humano do fim de um planeta. A sensação ao ler é como se fosse um diário encontrado abandonado depois de muitos anos. Julia é uma garota que presenciou o mundo mudar, mas ainda tem sentimentos adolescentes. Através do seu olhar, simples, ágil e triste uma história surpreendente se revela. É uma mistura única de sentimentos que muda quem lê. Um livro que vai ficar na minha cabeça por muito tempo. Em cada nascer e pôr do sol. Mas do que uma forma de acordar o ser humano é uma história que mostra como a vida é efêmera. Podemos prever furacões, podemos ver as geleiras derreterem e a camada de ozônio se deteriorando, mas ainda assim existem muitas coisas que nem os mais brilhantes físicos podem prever. Somos uma pulga no universo. Prontos para sermos expelidos tão rápido como surgimos.
Leitura rápida, mas que exerce um ritmo próprio sobre quem lê. Podia ter lido de uma vez só, mas a história de Karen Thompson Walker é para ser degustada aos poucos. Ela fica com o leitor, impressa no pensamento para ser apreciada a longo prazo. A edição da Paralela está (...)
Termine o último parágrafo em: http://www.cultivandoaleitura.com/2012/08/resenha-idade-dos-milagres.html