Tribo do Livro 11/09/2012
Resenha por Ver Sobreira
(...) Sabemos que vocês estão aqui, nossos irmãos e irmãs. Um dia sairemos do Domo e nos juntaremos a vocês em paz. Por enquanto, observamos de longe, com benevolência (...)
Bem, estamos definitivamente na onda da ficção distópica. Alguns textos interessantes e outros nem tanto. O tema é farto e realmente pode render muitas narrativas, já que criatividade para um autor parece algo "sem fim"– graças à Deus, rsrs...–. Às vezes não dá muito certo, mas por outra é trazido através da literatura assuntos tão polêmicos, que acabamos por conseguir mais de que esperávamos. Se por um lado é bom, pois sempre se soube que a literatura é feita para refletir o mundo, por outro terminamos saturados pelo tema, mas enfim.
Tudo que está na ficção não surge do nada, toda referência vem daquilo que tomamos com um sentido do real. Há sem sombra de dúvidas, um algo de realidade em que está escrito. Este é o caso de Puros, trilogia pós-apocalíptica de mesmo nome da autora estadunidense Julianna Baggot. Quase sempre sou "pé atrás" com os primeiros livros de trilogias ou séries, mas este me surpreendeu. Ação do começo ao fim e uma história fascinante e muito mais próxima da realidade do que se pode imaginar.
O mundo desabou. Houve as Explosões, os EUA não atacaram primeiro, porém o planeta Terra inteiro virou um caos. Parecia que o sol havia explodido, tudo se tornou cinzas e fumaça. Isto foi há nove anos,– o Antes – Pressia lembra-se pouco ou quase nada daquele dia em que perdeu sua mãe e seu pai. Ela sabia onde estava, no aeroporto chegando da Disney, pelo menos foi isso que seu avó lhe contou; Partridge tinha oito anos e meio quando tudo aconteceu, mas ele diferentemente de Pressia, estava protegido no Domo. Ele não se recorda muito deste dia, sabe que sua mãe morreu porque não chegou a tempo.
Ficção distópica? Sim, pois Puros nos traz um tema atual com conotações do passado. Pense na bomba atômica - em Hiroshima e Nagasaki - mas pense em explosões por todo mundo com uma potência 100 vezes maior. Quando tudo explodiu as pessoas foram fundidas ao elemento que se encontrava mais próximo delas. E aí os sobreviventes tornaram-se figuras grotescas, de todos os tipos, fundidas ao ferro, ao asfalto, ao vidro, a uma boneca, umas as outras como se fossem siameses, ou ainda pior.
Pressia, é aquela menina que apesar do mundo caótico que vive tenta buscar esperança; já Partrigde sabe que há algo de muito errado no mundo perfeito do Domo e ele precisa saber o que é. Estes dois personagens no começo da narrativa se sentem perdidos de alguma forma, mas conforme a história avança e vamos percebendo que nada, absolutamente nada é o que parece ser, se tornarão fortes e se unirão para descobrir o que relmente aconteceu , ou está ainda acontecendo?
(...) O rosto dele é suave e claro,os olhos são de um cinza-pálido. E ela não consegue acreditar que está olhando um Puro - um Puro vivo de verdade (...)
A narrativa de Baggott é intensa, grotesca e envolvente. É difícil não tentar imaginar como ficaram estas pessoas, animais, coisas depois de receberem tanta radiação e ainda assim sobreviverem e viverem fundidas a algo. Porém há o sublime, encontramos delicadeza em uma história que não parece nos trazer nada de bom, a não ser tragédia; delicadeza esta que se revela através de Pressia, Lyda e Illia personagens femininas de grande força.
Julianna Baggott, criou uma série de personagens secundários interessantíssimos e intrigantes. Cada um deles terá um função distinta na trama e serão responsavéis por fazer de Puros uma história dinâmica, instigante e imperdível de ler. Teorias da Conspiração confirmadas, testes genéticos em seres humanos comprovados, nanotecnologia, criação de uma elite que controlará o Novo Edén, entre outras histórias e também a vida e história de dois jovens que parecem se encontrar por acaso, encontramos em Puros.
Há uma moral muito válida nesta narrativa, nem sempre o grotesco é responsável pelo horror. Percebemos também uma influência de Mad Max e obviamente a mãe de todas as obras de ficção distópica Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Puros é uma narrativa desconcertante e inesquecível, pois te faz pensar: e se isso for verdade?
Conheça alguns personagens de Puros:
Pressia Belze- Uma Miserável, quando ocorreu as Explosões tinha apenas 7 anos, foi criada por seu avó paterno;
Partridge Willux- Um Puro, no momento das Explosões estava protegido no Domo, é filho de Ellery Willux, um influente cientista do Domo;
Bradwell - Um Miserável, porém dado como morto.Tinha nove anos quando tudo aconteceu, viveu sozinho durante muito tempo. Agora é uma espécie de historiador do Antes, sabe muito mais do que diz e terá um interesse romântico por Pressia;
Lyda - Uma Pura, que parece frágil e inofensiva, é apaixonada por Partridge e terá uma função importantíssima no desfecho da narrativa;
El Capitán e Helmud - Tinham dez e oito anos respectivamente, quando ocorreram as Explosões. Helmud está fundido às costas de El Capitán.
Professor Glassings - Professor na Academia onde Partridge estuda, sabe tudo sobre história antiga, sobre o Antes e outros segredos;
E mais, as Mães, os Poeiras, os Feras, os Grupais, a OBR - um tipo de grupo paramilitar que quer combater e destruir o Domo, por tê-los abandonado a própria sorte. Não deixem de ler Puros. Recomendadíssimo.Veja abaixo uma visão do mundo de Puros.