José

José Carlos Drummond de Andrade




Resenhas - José


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Katia Rodrigues 04/11/2021

Todo o sentimento do mundo
Drummond é na minha humilde opinião o principal poeta brasileiro do século XX, quiçá de todos os tempos, um desses gênios que aparecem de tempos em tempos e conseguem apreender e refletir poeticamente as inquietudes de uma época, tal qual um Fernando Pessoa.

Seguindo a máxima "nos menores frascos estão os melhores perfumes", "José" é super curtinho, possui apenas 12 poemas, porém traz dos mais representativos poemas de Drummond, como Edifício Esplendor, O lutador, Viagem em família.

Além disso, apresenta uma mudança de postura do eu lírico drummondiano, influenciada, sem dúvida, pelo contexto histórico. Nesse período, o mundo presenciou a ascensão do nazifascismo, a guerra na Espanha e a Segunda Guerra Mundial; no Brasil, tiveram lugar ainda a Intentona Comunista e a ditadura de Vargas. Não é de se surpreender que o eu lírico dessa fase manifeste interesse pelos problemas da vida social, da qual estivera isolado até então.

Por fim, considero esse livro uma excelente porta de entrada à obra do autor. Ahhhhhh e a título de curiosidade, "Sentimento do mundo", "José" e "Rosa do povo" compõem a fase social (1940-1045) da obra de Drummond.
Anthony Almeida 04/11/2021minha estante
Gosto do fato de Drummond ter experimentado várias vozes nos seus escritos. Na crônica, coisa que ele fez a carreira inteira, também nota-se as mudanças nas fases e vozes. Cada Drummond que você lê, é um Drummond diferente. ?


Katia Rodrigues 04/11/2021minha estante
A riqueza, a qualidade e a versatilidade da sua obra merecem aplausos. Drummond é bom demais ?


Alê | @alexandrejjr 04/11/2021minha estante
Também partilho da opinião de que Drummond é nosso poeta maior, Katia. Tanto é verdade que ele dividiu a lista final de indicações ao Nobel de 1967 ao lado de outro gigante da nossa literatura: Jorge Amado.




TalesVR 21/01/2024

E agora, José?
Se você gritasse
Se você gemesse
Se você tocasse
A valsa vienense
Se você dormisse
Se você cansasse
Se você morresse
Mas você não morre
Você é duro, José!
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Ana 16/06/2022

Não posso opinar porque amo Carlos Drummond de Andrade e tenho completo fascínio por cada um de seus poemas. Mas, realmente, esse livro não foge à regra: é bem construído, é crítico e belo em toda parte.
O posfácio também ajuda muito a compreender o contexto da obra e o momento do escritor.
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Gustavo Aranha 18/05/2020

Um dos melhores poemas de todos os tempos
José é um poema incrível, um dos melhores poemas de todos os tempos, eu o acho fantástico. Embora tenha sido escrito antes de 1942 é completamente atual, isso nos mostra o quanto ainda não evoluímos em relação aos conflitos da década de 1940. A literatura é isso, é esse algo que traz as melhores reflexões, ela é muito necessária, infelizmente não são todos os brasileiros que conseguem ter acesso a coisas tão fantásticas como este poema (José) por exemplo.
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Thais M 01/04/2020

Para começar!
Leituras de poemas e poesias sempre são um passo desafiador na vida de um leitor. Para saber ler poesia, é preciso estar preparado para pensar criticamente, é preciso ter a mente aberta e um pouco de criatividade. Imaginar cenários. Ler um poema é ler um contexto. E esta coletânea de poesias é um bom passo para iniciar nesse universo quando se lê Carlos Drummond de Andrade, um dos grandes nomes nacionais que tivemos na literatura brasileira. No caso deste livro encontramos 12 poemas do autor, onde podemos iniciar os primeiros passos nesse universo.
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Larissa.Guimaraes 09/03/2021

E agora, José?
A solidão, o vazio e a distância do conforto. Isolado dentro de um mundo que não é seu e perdido longe do que é conhecido. Eu lírico na cidade e o Boi só no campo. Drummond capricha na sentimentalidade e no pesar por um mundo morto e distante do seu. E agora, José? É um clássico e uma ótima reflexão. Itabira revela porque tudo estava tão morto, mesmo em meio a tanta confusão, segue sendo o Lar.
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Adriana Scarpin 09/06/2016

Os rostos imóveis
"Pai morto, namorada morta.
Tia morta, irmão nascido morto.
Primos mortos, amigo morto.
Avô morto, mãe morta
(mãos brancas, retrato sempre inclinado na parede, grão de poeira nos olhos).
Conhecidos mortos, professora morta.
Inimigo morto.

Noiva morta, amigas mortas.
Chefe de trem morto, passageiro morto.
Irreconhecível corpo morto: será homem? bicho?
Cão morto, passarinho morto.
Roseira morta, laranjeiras mortas.
Ar morto, enseada morta.
Esperança, paciência, olhos, sono, mover de mão: mortos.
Homem morto. Luzes acesas.
Trabalha à noite, como se fora vivo.

Bom dia! Está mais forte (como se fora vivo).

Morto sem notícia, morto secreto.
Sabe imitar fome, e como finge amor.

E como insiste em andar, e como anda bem.
Podia cortar casas, entra pela porta.

Sua mão pálida diz adeus à Rússia.
O tempo nele entra e sai sem conta.
Os mortos passam rápidos, já não há pegá-los.
Mal um se despede, outro te cutuca.
Acordei e vi a cidade:
eram mortos mecânicos,
eram casas de mortos,
ondas desfalecidas,
peito exausto cheirando a lírios,
pés amarrados.
Dormi e fui à cidade:
toda se queimava,
estalar de bambus,
boca seca, logo crispada.
Sonhei e volto à cidade.
Mas já não era a cidade.
Estavam todos mortos, o corregedor-geral verificava etiquetas nos cadáveres.
O próprio corregedor morrera há anos, mas sua mão continuava implacável.
O mau cheiro zumbia em tudo.

Desta varanda sem parapeito contemplo os dois crepúsculos.
Contemplo minha vida fugindo a passo de lobo, quero detê-la, serei mordido?
Olho meus pés, como cresceram, moscas entre eles circulam.
Olho tudo e faço a conta, nada sobrou, estou pobre, pobre, pobre,
mas não posso entrar na roda,
não posso ficar sozinho,
a todos beijarei na testa,
flores úmidas esparzirei,
depois. . . não há depois nem antes.
Frio há por todos os lados,
e um frio central, mais branco ainda.

Mais frio ainda. ..
Uma brancura que paga bem nossas antigas cóleras e amargos.. .
Sentir-me tão claro entre vós, beijar-vos e nenhuma poeira em boca ou rosto.
Paz de finas árvores,
de montes fragílimos lá em baixo, de ribeiras tímidas, de gestos que já não podem mais irritar,
doce paz sem olhos, no escuro, no ar.
Doce paz em mim,
em minha família que veio de brumas sem corte de sol
e por estradas subterrâneas regressa às suas ilhas,
na minha rua, no meu tempo — afinal — conciliado,
na minha cidade natal, no meu quarto alugado,
na minha vida, na vida de todos, na suave e profunda morte de mim e de todos."
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Mauro 14/09/2023

Essencial
José é um livro curtíssimo, mas essencial do mestre Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas em língua portuguesa.
Além do Magnum Opus homônimo "José" , também há os belos poemas A Bruxa, o Boi, dentre outros importantes.
Nota:10,0
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Adriana Scarpin 09/06/2016

Os rostos imóveis
"Pai morto, namorada morta.
Tia morta, irmão nascido morto.
Primos mortos, amigo morto.
Avô morto, mãe morta
(mãos brancas, retrato sempre inclinado na parede, grão de poeira nos olhos).
Conhecidos mortos, professora morta.
Inimigo morto.

Noiva morta, amigas mortas.
Chefe de trem morto, passageiro morto.
Irreconhecível corpo morto: será homem? bicho?
Cão morto, passarinho morto.
Roseira morta, laranjeiras mortas.
Ar morto, enseada morta.
Esperança, paciência, olhos, sono, mover de mão: mortos.
Homem morto. Luzes acesas.
Trabalha à noite, como se fora vivo.

Bom dia! Está mais forte (como se fora vivo).

Morto sem notícia, morto secreto.
Sabe imitar fome, e como finge amor.

E como insiste em andar, e como anda bem.
Podia cortar casas, entra pela porta.

Sua mão pálida diz adeus à Rússia.
O tempo nele entra e sai sem conta.
Os mortos passam rápidos, já não há pegá-los.
Mal um se despede, outro te cutuca.
Acordei e vi a cidade:
eram mortos mecânicos,
eram casas de mortos,
ondas desfalecidas,
peito exausto cheirando a lírios,
pés amarrados.
Dormi e fui à cidade:
toda se queimava,
estalar de bambus,
boca seca, logo crispada.
Sonhei e volto à cidade.
Mas já não era a cidade.
Estavam todos mortos, o corregedor-geral verificava etiquetas nos cadáveres.
O próprio corregedor morrera há anos, mas sua mão continuava implacável.
O mau cheiro zumbia em tudo.

Desta varanda sem parapeito contemplo os dois crepúsculos.
Contemplo minha vida fugindo a passo de lobo, quero detê-la, serei mordido?
Olho meus pés, como cresceram, moscas entre eles circulam.
Olho tudo e faço a conta, nada sobrou, estou pobre, pobre, pobre,
mas não posso entrar na roda,
não posso ficar sozinho,
a todos beijarei na testa,
flores úmidas esparzirei,
depois. . . não há depois nem antes.
Frio há por todos os lados,
e um frio central, mais branco ainda.

Mais frio ainda. ..
Uma brancura que paga bem nossas antigas cóleras e amargos.. .
Sentir-me tão claro entre vós, beijar-vos e nenhuma poeira em boca ou rosto.
Paz de finas árvores,
de montes fragílimos lá em baixo, de ribeiras tímidas, de gestos que já não podem mais irritar,
doce paz sem olhos, no escuro, no ar.
Doce paz em mim,
em minha família que veio de brumas sem corte de sol
e por estradas subterrâneas regressa às suas ilhas,
na minha rua, no meu tempo — afinal — conciliado,
na minha cidade natal, no meu quarto alugado,
na minha vida, na vida de todos, na suave e profunda morte de mim e de todos."
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Marina 17/10/2016

Angustiante
Se sem um bocado de tristeza não se faz um samba não, e também poesia, certo Drummond?

Angustiante
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Geane.Gouvea 30/08/2021

"E agora, José?"

Início resenhando com clássico da frase que trás o título da obra (José), pois a poesia tem isso de aproximar, questionar, e eternizar o que a vida inspira, né Drummond?!

Produzida especialmente para assinalar a homenagem a Drummond na 10ª edição da Flip, esta edição de José é especial por diversos motivos.

Em primeiro lugar, é a primeira vez que o livro, publicado originalmente em 1942 - incluído em Poesias, pela editora José Olympio -, aparece num volume separado.

São apenas doze poemas, e dos mais representativos da obra do poeta mineiro, como "Edifício Esplendor", "O lutador" e "Viagem na família". Sem falar, é claro, do poema que empresta título ao livro e que se tornaria, graças ao seu verso inicial ("E agora, José?"), uma frase-emblema na vida de todos os brasileiros.

Repetido, parodiado e homenageado em outros poemas, reportagens, peças publicitárias e slogans políticos, o verso de Drummond penetrou rapidamente no espírito brasileiro, quase a ponto de muitos nem sequer desconfiarem que faz parte de um poema do nosso modernismo.

? Curiosidades:
Neste livro, faz parte "José e algumas histórias" e a cronologia da vida do nosso querido escritor, Carlos Drummond de Andrade.
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Ceci.Ribeiro 13/04/2023

Sensivel
Amei, curso letras e li por conta do grupo de pesquisa, mas juro, não foi nenhum esforço, eu amei pq é VISCERAL DEMAIS, intenso e lindo
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