Juliana 21/07/2018
As discussões acerca da relação da mulher com seu corpo são historicamente silenciadas e tabus são criados. Quando o assunto é a vagina, a repressão é ainda mais acirrada e, não à toa, somos ensinadas a nunca falar diretamente esse nome ou sobre essa parte do nosso corpo, que não devemos nem ao menos falar e, se necessário, usar nomes alternativos, mas nunca o que lhe é cientificamente atribuído.
Os Monólogos da Vagina começa, então, listando esses diversos nomes. O livro, originado de uma peça, reúne entrevistas feitas por Eva Ensler a diversas mulheres que relataram - umas de forma mais aberta, outras repreendendo a própria entrevistadora - como se sentem com relação a suas vaginas, quais as percepções que possuem delas, como se sentem ao tocá-las. O resultado foi uma variedade de perspectivas e relatos: mulheres que, ao serem reprimidas por homens, foram humilhadas e nunca mais pensaram em se tocar novamente; mulheres que nunca sequer perceberam a existência de sua própria vagina, que nunca se tocaram; mulheres que sofreram com a repressão da família na primeira menstruação, taxadas de aberração e outras coisas horríveis; mulheres mutiladas em alguns países na África para que nunca sintam prazer - muitas nem sobrevivem à hemorragia e infecções para contar história.
Com isso, seja para nossas mães ou médicos, falar sobre mais um órgão de nosso corpo é sempre algo feito com muita dificuldade e timidez. Somos ensinadas que não devemos falar sobre, que não devemos nos relacionar com nossas vaginas, que não devemos conhecê-las e, através delas, conhecermos a nós mesmas.
Ainda que seja um livro curto e raso em alguns momentos, é inegável a importância de Os Monólogos da Vagina ao permitir não só que mulheres, muitas pela primeira vez, falem sobre a vagina, mas também ao levar isso a público em uma peça e depois contar o impacto que o espetáculo teve no público apenas com a leitura do título.
Para os que se iniciam nesse tipo de literatura, essa leitura pode ser muito proveitosa para mulheres tenham uma nova compreensão de seus corpos e dos de outras mulheres, e também para que homens tenham alguma noção de como a romantização da vagina recai sobre eles e como isso pode vir a afetar a relação de uma mulher com quem se relacionará com seu próprio corpo. Ainda que tenha sido publicado no ano de 2000, a temática do livro e os tabus relatados seguem sendo muito atuais e importantes de serem discutidas. Uma leitura rápida e aberta que foi muito bem-vinda.
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