Ju 22/01/2013Charlotte StreetCharlotte Street não é um livro para rir o tempo todo, ou para chorar descontroladamente, ou para suspirar por um romance. É um livro em que acompanhamos a jornada de Jason rumo ao autoconhecimento. Ele encontra, por acaso, uma garota na Charlotte Street, a ajuda a carregar alguns pacotes e a colocá-los em um táxi e, quando ela parte, percebe que ficou com uma câmera descartável nas mãos. E é aí que começa uma longa história.
Eu, no início, não me convenci de que ele queria mesmo saber quem era a garota. Isso porque o Jason estava completamente obcecado pela ex-namorada, Sarah (e só mais ou menos no meio do livro o autor nos diz porque, afinal, o relacionamento deles havia acabado).
"Eu ia pedi-la em casamento, na verdade. Não pedi, mas ia. Um dia. Eu tinha tudo planejado. Bem, não exatamente planejado, mas tinha planejado fazer planos. Planejar fazia parte dos meus planos."
A garota, na minha opinião, era mais uma válvula de escape, uma tentativa de enganar a si mesmo e de se livrar da opinião de outras pessoas que insistiam em se meter no assunto. Mas não é que funcionou? Jason acabou deixando a obsessão de lado ao se ocupar com outros aspectos de sua vida, um efeito da busca pela garota misteriosa (ele tem uns delírios impagáveis sobre a vida dela).
"Talvez eu estivesse certo ao pensar que poderia parar de ter as pessoas tomando decisões por mim. Que eu deveria começar a decidir."
Enquanto ele a procura, ela desabafa em um blog. Fiquei ansiosa pelas poucas postagens que ela escrevia. Me diverti bastante com A Garota. Pena que a participação direta dela na história é bem pequena.
"Há seis pessoas seguindo esse blogue agora., mesmo que até agora eu tenha escrito três posts embaraçosamente chorosos. (...) Vocês provavelmente devem estar se perguntando sobre o último post. Eu escrevi isso em um dia ruim. Foi um dia em que perdi algo. Duas coisas, na verdade, nenhuma das quais recuperei. Uma foi o amor, e provavelmente o mais importante, eu acredito, porque poucos poetas escrevem poemas maravilhosos sobre a perda de uma câmera descartável, que foi a outra coisa que perdi."
Voltemos ao Jason. Sim, ele me irritou. Me irritou bastante, aliás. Mas, com o tempo, passei a gostar dele. Ele fala diretamente com o leitor, e enrola a gente por uma boa parte da história. Só que acabei percebendo que ele não fazia por mal, e sim por medo. Medo de encarar os fatos de sua vida. Decide contar versões completas e reais quando está preparado para isso.
"Porque estávamos nos dando bem, eu sinto, você e eu. Nós tivemos um começo meio complicado, acho; talvez eu tenha sido um pouco irritante, mas você sabe que eu tive meus motivos."
Teve uma coisa que me incomodou demais. A história se passa em Londres, as personagens são de lá. Por que razão os preços são citados em reais? Não faz o menor sentido...
Em compensação, a questão da câmera descartável me trouxe ótimas recordações. Pois é, eu sou idosa e usava uma dessas... rs... máquina Love, a gente levava pra revelar as fotos na Sonora e aí ganhava uma nova... hahaha... Nem me lembrava disso, mas Charlotte Street me permitiu rever vários momentos da minha vida. E sim, a gente realmente precisava escolher bem o momento de tirar uma foto.
"- O negócio com as descartáveis é que elas são fotos especiais. Você deleta fotos normalmente, porque você sabe que pode, então você as apaga sem pensar ou considerar a qualidade ou o tempo. (...) Mas essas... (...) Essas são cliques característicos. Cliques da vida. Momentos felizes ou especiais, e você tem que decidir tirá-las. Você tem que planejá-las. Porque você pode perder os momentos. Você está sempre por um fio de perdê-los. (...) Na hora que você tira a última foto, é melhor ter certeza de que aquele momento é especial, pois e se o próximo vier e você tiver que deixá-lo ir?"
Eu sou apaixonada pela capa desse livro, linda demais. Mas talvez ela seja o maior problema, porque realmente dá a entender que é um romance meloso. E o livro é tudo menos isso. Pode até ser uma história de amor, mas não sobre Jason e A Garota. O amor pelos amigos tem um destaque bem maior na obra.
Charlotte Street não me envolveu profundamente, mas me permitiu viajar. E fiquei satisfeita ao perceber o sorriso no meu rosto quando terminei a leitura.
Postada originalmente em: http://entrepalcoselivros.blogspot.com.br/2013/01/resenha-charlotte-street.html