Mari 08/09/2013Adormecer do Fogo | Sem Querer me Intrometer Antes de começar a resenha de Adormecer do Fogo, tenho que destacar que eu jamais havia lido uma estória de fantasia que se empenhasse em mostrar tão perfeitamente a cultura presente no universo criado. No livro, somos totalmente inseridos nos costumes, regras e normas dos Gha-laad (principal tribo da obra), o que nos faz realizar toda a leitura com outros olhos.
A narrativa é realizada através de pergaminhos antigos escritos por diversos autores de diferentes tribos, sendo feita, dessa forma, em primeira pessoa e com alto índice de parcialidade.
Apesar de não concordar, de maneira alguma, com a cultura Gha-laad (considerando que a tribo mantém regras que eu considero, simplesmente, detestáveis), é muito complicado encontrar o "vilão" em Adormecer do Fogo. Cada tribo apresentada mantém sua própria ideia do que é certo ou errado, o que faz com que todos os povos envolvidos na trama estejam corretos em suas ações, mesmo elas sendo tão contrárias umas às outras.
O livro é, basicamente, dividido em duas partes: Primeiro e Segundo Livro do Ciclo do Fogo. Então, para facilitar a compreensão dessa resenha, decidi dividi-la, também, nessas duas partes.
Primeiro Livro do Ciclo do Fogo (Adormecer do Fogo) - A primeira parte da obra é narrada, majoritariamente, por Ri-zir (responsável, na tribo, por escrever e perpetuar a história dos Gha-laad).
Após a chegada do inverno, os Gha-laad envolvem-se em um combate contra as poderosas Aixians (monstros gigantes que ameaçam a paz dos povos) e acabam perdendo aquilo que lhes era mais importante: o fogo sagrado.
No universo criado por Ben Green, o fogo é raríssimo e quem possui uma chama, deve protegê-la para garantir a sobrevivência de sua tribo, principalmente no Grande Inverno.
Por terem perdido a única chama que obtinham, Me-nec, Sa-Tûr, Me-feu e Me-deu, caçadores Gha-laad, ofereceram-se para, com a ajuda de Ri-zir (que conhecia escritas antigas que mencionavam a existência de fogo em outras partes do mundo), encontrarem outro ghaad (chama sagrada).
O primeiro capítulo consiste em narrar o início dessa jornada, os perigos enfrentados pelo grupo de Gha-laad e, principalmente, o envolvimento amoroso entre Ri-zir e Sa-Tûr (que possuíam, um pelo outro, sentimentos que eram, até então, desconhecidos pela tribo).
Acredito que essa parte do livro destaca-se por mostrar-nos que, muitas vezes, a falta de conhecimento e da vontade de obtê-lo leva o homem a ter que enfrentar diversos obstáculos que não existiriam caso ele abrisse sua mente para novas informações.
Segundo Livro do Ciclo do Fogo (Despertar do Fogo) - Na segunda parte da obra, conhecemos a personagem que, na minha opinião, é a mais carismática encontrada em Adormecer do Fogo, Cabelos de Fogo.
Nessa parte da narrativa, o autor nos apresenta diversas outras tribos e seus costumes. Assim como os Gha-laad, todos os outros povos buscam o fogo, o que leva a estória à ser repleta de barganhas entre as tribos, com a finalidade de obtenção das chamas, sejam por sacrifícios ou pela descoberta de novos conhecimentos.
O envolvimento de Cabelos de Fogo com o jovem caçador Me-deu também destaca-se nessa parte do livro. O sentimento entre os dois é realmente muito interessante, pois obriga ambos à romperem laços com suas tribos que jamais imaginariam romper.
O Segundo Livro do Ciclo do Fogo é repleto de ação, o que faz com que a leitura não seja nada tediosa. Os personagens principais se envolvem em inúmeros perigos, fazendo com que a busca pelo fogo torne-se cada vez mais complicada.
Adormecer do Fogo é uma estória realmente inovadora, com um mundo de fantasia extremamente bem criado e consolidado com aspectos culturais muito fortes. Porém, como o próprio Ben Green mencionou em uma de nossas conversas, a leitura requer atenção e tempo, pois apresenta diversos detalhes, poucos diálogos e uma linguagem que, além de ser intensamente aprimorada, conta com palavras criadas pelo autor para fazer referência à elementos do universo fantástico criado.
E para quem quer investir nessa leitura, minha dica é que não tome conclusões precipitadas sobre a estória. O autor sabe muito bem esconder alguns fatos até os últimos momentos. Por exemplo, a misteriosa carta encontrada no início da leitura, só pode ser corretamente interpretada após a leitura dos últimos capítulos do livro.
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