Isa 03/09/2013
Fios de Prata - Reconstruindo Sandman
“Fios de Prata” nos apresenta a Mikael ou Allejo, 22 anos, jogador de futebol que está prestes a se tornar a transação mais cara do futebol mundial. Allejo está em Paris quando conhece Ariana, uma ginasta também brasileira, e se apaixona.
Há 18 meses Allejo não sabe o que é dormir direito, todas as noites tem pesadelos horríveis,ele não sabe, mas sua alma foi escolhida como a principal peça em um quebra-cabeça envolvendo uma disputa onírica em meio a intrigas, traições e conflitos de entidades extremamente soturnas e poderosas.E por consequência afetaria Ariana, que acabaria no inferno e alteraria os sonhos de todos os sete bilhões de sonhadores da Terra. E é aí que os deuses menores do Sonhar (Phantasos, Phobetor e Morpheus) e Madelein, anjo dos sonhos despertos, entram. Madelein em nome de seu sonho, tornar-se uma deusa, faz alianças inesperadas que aceleram a guerra neste reino.
“Demônios sorriram tão macabramente, que a geografia e as formas daquele condado começaram a sofrer uma transformação imediata no momento hediondo, tornando-se sombrosos e lúgubres. As correntes que prendiam Madelein explodiram e se tornaram pó. E os sonhos despertos de bilhões de pessoas se tornaram, de uma hora para outra, deturpados e extremamente malditos.
“Dias de pesadelo estavam por vir.” (pág. 141)
Há uma explosão de informações! Sim, um Big Bang que mistura vários assuntos, que se interligam no fim. Draccon, visivelmente, dedicou muitas horas para pesquisar mitologia, filosofia japonesa, cristianismo, cultura pop, fatos reais. Pode parecer confuso, né? Mas não é, e acho que deu muito certo. Gostei do modo como os elementos tradicionais de mitologia (Deuses como Hypnos, Thánatos, Morpheus, Phobetor e Phantasos), cristianismo (Jesus Cristo, Dimas, Agesta) e cultura japonesa (Masamune) se ‘fundiram’ a assuntos contemporâneos e reais, tanto no âmbito cultural (U2, J K Rowling, Neil Gaiman) quanto no social (através das diversas menções a catástrofes – uma delas, por exemplo, o caso do índio queimado vivo por playboys, em Brasília). Draccon conseguiu harmonizar realidade com a fantasia e como esses mundos interagem, sem soar esquizofrênico, e isso é pra poucos. Como a batalha é travada entre os irmãos que representam todas as personificações dos sonhos, tudo pode acontecer e todo tipo de seres participam dela. Então há elfos, dragões, feiticeiras, orcs, basilisco e guerreiros para todos os gostos.
Se consigo visualizar uma adaptação, com certeza, é porque a narrativa é eficiente. Draccon é minucioso nas descrições, às vezes, parecendo ter algum tipo de TOC. Particularmente, não me incomodo. Gosto de descrições apuradas, que tenham a capacidade de nos transportar para aquele mundo. Na verdade, em fantasia, considero esse atributo indispensável.
Raphael Draccon, além de autor, é roteirista e responsável pelo seloFantasy (da Editora Casa da Palavra, Grupo LeYa). Como escritor, é mais conhecido pela trilogia fantástica Dragões de Éter (LeYa), que já vendeu milhares de exemplares. Suas obras também já foram publicadas fora do país.