Jessica Becker 13/01/2017A EstrelaA luta do homem pela sobrevivência em um mundo que ele mesmo destruiu tem sido tema de várias obras nos últimos anos. As trilogias Jogos Vorazes e Divergente, a série Amanhã e o livro Metrô 2033 são apenas alguns exemplos do imenso acervo distópico disponível nas prateleiras do mundo inteiro. O livro A Estrela, dos espanhóis Javi Araguz e Isabel Hierro, também se enquadra no gênero, porém com alguns aspectos que o diferem dos demais e tornam sua leitura ainda mais prazerosa.
Diz a lenda que, em uma época muito distante, os seres humanos habitavam grandes cidades, podiam andar por toda a superfície do planeta sem se perder e não precisavam se preocupar com Rupturas, viviam numa Quietude sem fim. Mas isso foi em outros tempos. Agora o Linde sofre constantes mudanças geomórficas que obrigam seus habitantes a viverem em pequenos clãs, não podendo ultrapassar os Limites Seguros. Em algum lugar do planeta existe uma Ferida repleta de monstruosidades. Ela está cada vez maior tornando as Rupturas da Quietude mais frequentes e intensas.
"Os olhos do menino brilhavam com intensidade anunciando a iminente ruptura da Quietude. Lan sabia que era proibido tocar em um Caminhante da Estrela, mas agora já não havia volta e seus destinos estavam irremediavelmente unidos."
Foi em uma dessas Rupturas que o clã de Lan, Sálvia, foi destruído e ela se perdeu. Resgatada por um dos Errantes, nômades que causam a morte de quem tocam, tudo o que ela mais precisa é encontrar sua mãe e seus amigos e sanar as dúvidas que tem em relação aos seus salvadores. Considerados sábios e amigáveis, eles são recebidos com honras em todos os clãs. Mas quais segredos escondem? O que sabem sobre a situação de Linde que não podem compartilhar? Existem meios de salvar o planeta da completa destruição? E de trazer de volta a Quietude plena?
"Respeitamos o planeta, não queremos ser parasitas. Acreditamos que o grande Linde não é um animal que pode ser dominado, mas, sim, uma entidade superior a nós, que nos permite viver em sua superfície." (pág. 56)
Voltada para o público infantojuvenil a obra aborda de maneira fantasiosa uma temática bastante séria: a preservação do nosso planeta. O Linde nada mais é do que a Terra daqui a muitos anos, quase completamente destruída, prejudicada pela ação do homem.
"Existem várias teorias a respeito, ainda que a maioria aponte que abusaram do planeta até colocá-lo à beira da extinção. Então, começaram as rupturas, que acabaram com as cidades, o clima mudou rapidamente e... definitivamente, o mundo ficou de pernas para o ar. O mais provável é que sejamos seus descendentes." (pág. 75)
A Estrela superou todas as minhas expectativas. Quando a retirei da estante para ler imaginei que a fosse abandonar antes de chegar na centésima página. Talvez tenha sido a pouca repercussão do livro no Brasil ou ainda o receio por ser fruto de uma parceria entre dois autores, não esperava muito desta leitura. Qual foi minha surpresa quando percebi que não conseguia mais largar o livro! Sempre estava acontecendo algo, em momento algum a trama ficou lenta e os autores não deixaram de lado o enredo principal para se focar no romance. Existe sim um par romântico, que vive um amor puro e muito lindo, mas ele não ofusca a real proposta do livro.
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