Victor Dantas 24/02/2021
Contato com os submundos do Japão. #41
Quando eu estava organizando minhas metas literárias para o ano de 2021, decidi ler livros contemporâneos fora do eixo EUA-UK e dá visibilidade para escritores africanos, asiáticos e latino-americanos, sendo assim, criei uma lista com 7 livros para cada continente para eu ler durante o ano.
Durante a montagem da lista dos livros asiáticos, encontrei no site da amazona uma obra de um autor asiático com um título bem peculiar, e ainda com um preço de feijão haha (10 reais). Logo, realizei a compra, e eis que finalizei a leitura dele hoje (24/02/21).
Estou falando de "Miso Soup" (1997), de Ryu Murakami.
A obra em questão se trata de um thriller, e se passa em Tóquio durante a virada do século XX para o século XXI, mais precisamente, em dezembro do ano de 1999.
O nosso protagonista é o Kenji. O Kenji é um jovem de 20 anos e trabalha como guia de turismo sexual nas noites da capital japonesa recebendo turistas de vários países do mundo.
Faltando 2 dias para a virada de ano novo, Kenji têm seus serviços solicitados por um turista norte-americano, o Frank. O Frank é um empresário que estava viajando à negócios no país, e decidiu então aproveitar a véspera e o feriado de ano novo nas noites eletrizantes de Tóquio. Uma das metrópoles que nunca dorme.
Kenji aceita acompanhar o Frank durante as duas últimas noites do ano. Na primeira noite, Kenji leva o Frank à alguns bares de strip tease, dark room e durante a noite, fica observando o comportamento do Frank, e logo a personalidade do Frank passa a lhe causar um desconforto, desconfiança e curiosidade.
Essa desconfiança aumenta quando no dia seguinte, ao acordar, Kenji vê uma reportagem na TV de um assassinato de um mendigo. O mendigo dormia na área externa de um clube de beisebol, clube esse qual o Kenji levou o Frank na noite anterior, e onde ele observou o Frank falar do mendigo de um jeito estranho.
Junto a esse fato, Kenji relembra outro caso de assassinato que foi noticiado no dia em que ele se encontrara com o Frank pela primeira vez. O assassinato fora de uma estudante japonesa de 16 anos, que foi estuprada e esquartejada.
A partir desses dois acontecimentos, Kenji passa desconfiar ainda mais do Frank, à medida que mais situações estranhas vão acontecendo.
Nas próximas 36 horas Kenji terá a oportunidade de confrontar o Frank, a respeito da sua real identidade e motivo de ele ter contratando os serviços do Kenji.
Pela primeira vez Kenji reconhece os perigos de sua profissão e está prestes a vivenciá-los...
Com uma narrativa ágil, pontual e em primeira pessoa, Ryu Murakami constrói uma trama que instiga o leitor a seguir com a leitura sem interrupções.
O livro é dividido em 3 partes: na primeira parte temos a apresentação das personagens; na segunda parte temos o conflito central e o plot twist e na terceira parte temos o desfecho da trama.
As duas primeiras partes são excepcionais, no entanto, na terceira parte, a história cai e muito. O autor exagera em digressões, monólogos, além disso, as justificativas para as ações que foram executadas pelo o antagonista da trama não são convincentes, pelo contrário, chega a ser fantasiosas. Parece que o autor quis fazer um antagonista extraordinário, e o resultado não foi tão bom.
Outrossim, o final é aberto, o que me frustrou ainda mais. Apesar de gostar de finais abertos, em thrillers quando não é bem executado a trama perde seu valor. Sendo assim, tais aspectos fizeram eu retirar 2 estrelas.
Contudo, um ponto positivo, é que obra está inserida em um contexto social bem interessante que levanta discussões.
Estamos diante de um Japão que está vivenciando a influência do imperialismo norte-americano na virada do século; uma Tóquio que está inserida na dinâmica da globalização, e que presencia os efeitos negativos desse fenômeno: violência, periferização, exclusão social; as repercussões da epidemia da Aids no Japão; a indústria do sexo ocidental se expandido na sociedade japonesa.
"Você não acha que vocês perderam a guerra há muito tempo e já não têm necessidade de imitar os americanos?" (p.33).
"Há muitas coisas no Japão que, vistos pelos olhos dos estrangeiros, não parecem normais, e maioria delas eu não saberia explicar" (p.49).
Por fim, vamos visitando por meio do texto do Ryu Murakami, os submundos do Japão.
Se você, assim como eu, quer sair um pouco do eixo EUA-UK ou se tem curiosidade de ler algo da literatura asiática, deixo aqui minha recomendação: "Miso Soup".