Tania 28/06/2013
Confusões de um Viúvo
Leonardo Barth é protagonista do livro Confusões de um Viúvo, da minha querida Rosane Fantin, editado pela APED.
Leonardo é um arquiteto que vive a vida tensa e intensa de um pai de duas filhinhas, depois do repentino falecimento da esposa, há cerca de um ano.
O que a maioria das mulheres tira de letra, que é cuidar da casa, levar as filhas para a escola, para o balé, cuidar da educação e das emoções de duas menininhas de 4 e 6 e ainda administrar a vida profissional, Leo também precisa lidar com a dor da ausência de sua amada esposa.
Leo é um homem jovem e realista que tenta dar o seu melhor, mas que como qualquer pai ou mãe, que precisa exercer este papel sozinho, está sempre se questionando se está fazendo a coisa certa. Eu bem sei disso, pois crio a minha assim, sem ter com quem compartilhar a tarefa de educar e orientar uma filha. Enfim, é duro, é difícil, mas não impossível.
Filhos não vêm com manual de instrução e precisamos nos tornar especialistas em trocar fraldas, identificar os tipos de choro (eu desconhecia a enormidade de tipos), aprender a dizer o não necessário, a responder perguntas que nunca faríamos aos nossos pais, do tipo: “O que é masturbação?”.
Pois é, ter filhos nos torna pessoas diferentes, e em alguns casos, pessoas melhores.
Dá pra imaginar um carinha, gato, parado na porta do banheiro feminino de um shopping, aguardando uma alma feminina caridosa para socorrê-lo, pois suas duas filhinhas estão dentro do banheiro e uma delas fez cocô?
Eu nunca imaginei isso, não antes de ler a história de Leonardo. E curiosamente cheguei à conclusão de deve mesmo ser complicado para o homem. Eu mesma sempre fui aos shoppings, aos cinemas com a minha filhota e, obviamente nunca tive esse tipo de problema, claro. O que é ponto para nós, mesmo que fosse um menininho, ninguém jamais pediria para que uma mãe não entrasse no banheiro feminino com o guri.
Mas com o tempo nosso homem vai aprendendo a lidar com esse tipo de situação.
Mesmo com a cobrança, que sempre surge, de seus familiares e amigos para que ele tente se relacionar com outras mulheres, Leo vai administrando sua vida sem maiores intempéries. Até que ele conhece Bruna, a nova professora de balé de uma de suas filhas.
Depois de um incidente que os faz cair nas águas do lago do parque da Redenção em Porto Alegre, mesmo antes de serem oficialmente apresentados, ambos trocam farpas e são protagonistas de vários outros atritos.
Em meio a tantas “confusões”, a ideia de que cada um fosse comprometido não permitia que dessem vazão às emoções que vinham rondando-os insistentemente, e isso colaborava para que persistissem na “aversão” recíproca.
“Pensativo, foi para a cozinha, pegou um cálice e serviu-se de um pouco do vinho tinto que tinha aberto no dia anterior. Dirigiu-se para a sala, colocou um CD de jazz e sentou-se para ouvi-lo em sua poltrona predileta. As feridas pela perda de Cris estavam praticamente fechadas. Tati e Marina pareciam conformadas e tranquilas em relação a isso. Olhou em torno de si e notou que o silêncio na casa já não o perturbava tanto. A sensação de que Cris apareceria a qualquer momento com um sorriso nos lábios, indo na sua direção para beijá-lo ou com uma palavra de carinho para as filhas, desaparecera. Pelo menos não sentia mais o coração ser dilacerado ao perceber que isso nunca mais aconteceria.
Amanda Seyfried
Não pode evitar novamente a imagem de Bruna e seu desconforto diante da descoberta de sua viuvez no final de tarde. Será que ela pensava que ele ainda era casado? Seria esse o motivo para repudiá-lo tanto? Bobagem. Ela tinha namorado. Era melhor parar de fazer suposições. Além do mais, que mulher solteira e linda como ela pensaria em relacionar-se com um homem com duas filhas pequenas... Para passatempo? É melhor parar de pensar bobagens!
Voltou sua atenção para o som do trompete, que o envolvia, e ao prazer de degustar o delicioso vinho.”
Mas nenhuma dessas confusões ou sensações tira Leo de seu foco: suas filhas e tudo que pudesse fazer para proporcionar-lhe uma vida confortável e um lar amoroso. Ele até foi procurar um livro de culinária, desses “todo-mundo-pode-fazer”, para que não necessitassem se alimentar de congelados ou fast food, ou pior, depender da avó das meninas.
Nessa sua tímida incursão pela livraria ele tem seu primeiro encontro pacífico (ou não) com Bruna.
“[...] Tinha dois volumes seguros na mão, quando notou que estava sendo observado por alguém. Ao virar-se para o lado, deu de cara com dois grandes e doces olhos azuis a cuidá-lo. Surpreendeu-se ao ser pego em flagrante e deixou cair os livros com grande estardalhaço, atraindo para o altoda livraria a atenção da maioria dos presentes.
– Esta cidade é realmente pequena, não é mesmo? – reconheceu Bruna, segurando-se para não rir da atrapalhação de Leonardo ao vê-la, buscando recolher rapidamente os livros que deixara cair, escondendo-os sob o braço. Será que ele é tímido mesmo?
– Oi... O que está fazendo aqui? – Perguntou incisivo, ainda atrapalhado com o flagrante e, principalmente, por ter sido Bruna a autora deste.
– Procurava CDs de música para a escola. – Explicou, apontando para sessão bem próxima a eles.
Ela chegou mais perto de onde ele estava, ficando sob seu nariz, bisbilhotando a carreira de obras impressas a sua frente.
– Culinária... Interessante. Achei que era arquiteto. – Virou-se bruscamente, provocando-o. Estavam muito próximos um do outro. Mais uma vez sentiu-se próxima a uma combustão espontânea. Apesar de ser alta, ele a ultrapassava em quase uns vinte centímetros. Deve ter quase 1.90 m de altura.
– E sou. – Respondeu sem desviar um milímetro de onde estava, desistindo de fugir do olhar instigante da bailarina. – Algum problema com homens na cozinha?
– Nenhum. – Respondeu corando levemente, repreendendo-se por estar se insinuando tanto para ele. Virou-se mais uma vez para a estante, fingindo estar lendo os títulos a sua frente. – A maioria dos grandes chefs são homens.
Era difícil resistir àquele perfume que ela usava, levemente adocicado. Instintivamente abaixou-se um pouco para senti-lo nos cabelos dourados, que se encontravam soltos, caindo em cascata sobre os ombros. Então ela virou o rosto repentinamente, permitindo que seus lábios quase se roçassem tal a proximidade em que se encontravam. A forte atração que ocorrera no dia anterior na escola voltou intensa. Esquecido de onde estava, Leonardo não precisou de muito esforço para puxar Bruna pela cintura, contra seu corpo e beijá-la, degustando seus lábios. Por sua vez, depois de passada a surpresa, ela o envolveu com os braços em sua nuca, ficando na ponta dos pés para moldar-se melhor ao corpo dele. Por um momento ele pensou em soltá-la, temendo estar indo muito rápido, mas ela o reteve e voltou a beijá-lo, sendo plenamente correspondida.
Com os lábios entreabertos, permitiu que a língua quente e úmida invadisse sua boca, desvendasse seu sabor e saciasse sua sede. Grudada nele, percebeu a pulsante ereção, sob a fina calça de lã, pressionando seu baixo ventre, provocando-a. [...]
Suspirando por aqui... ai ai!
Leo é assim, responsável, com aquele olhar meio distraído de quem sofre uma grande perda, é um filho zeloso, um pai extraordinário, tem um irmão que bem que merece um livro próprio – viu Rosane? – mas é também sensual, sedento e tem um charme dos homens atrapalhados, desses bem desastrados mesmo, que eu amo demais.
Lamentavelmente viúvo, apetitosamente faminto, ainda que trave uma luta interna contra essa fome, e deliciosamente esperando para ser feliz.
Rosane, mais uma vez, eu tenho que te agradecer por me salvar de uma vida sem doçura, sem romance. Você, querida, é uma das responsáveis pela minha incursão nos livros cuja temática é mais suave e delicada. Agora, vamos combinar... que tesão de viúvo!
Vou ficando por aqui, com esse calor em meio a um dia frio na Cidade Maravilhosa, desejando a todos uma Sexta fabulosa é um excelente fim de semana!
site: http://asenvenenadaspelamaca.blogspot.com.br/2013/05/sexta-envenenada-confusoes-de-um-viuvo.html