Thaisa 23/11/2023
Uma HQ encantadora, dolorosa e extremamente necessária
Marjane Satrapi nasceu em 1969 em Rasht, no Irã. Nessa graphic novel, ela conta como foi crescer, dos 6 aos 14 anos, em Tehran durante a Revolução Islâmica - e como isso afetou sua vida, a vida de sua família, a vida de seus amigos e a vida de toda uma nação...
Acompanhamos, ao longo dos anos, como foi a derrubada do regime do Shah, como a Revolução Islâmica se instalou e as mudanças que isso trouxe para o país e, claro, como a guerra entre Irã e Iraque afligiu tantas pessoas - tudo isso do ponto de vista de uma garotinha cuja realidade era baseada em uma família com ideais progressistas e que lutavam pela liberdade.
Marjane cresceu com pais marxistas e era bisneta de um dos últimos imperadores do Irã, mas através de suas experiências na infância, ela passa a ter sua própria visão de mundo, apresentada, aqui, por ela em sua infância.
Se no começo da história vemos apenas uma criança que quer se divertir com os amigos, ir para a escola e ler bastante, aos poucos entendemos as dificuldades de sua vida e as complexidades de sua cabeça: ao perceber as mudanças sociais que começam a existir ao seu redor, conhecer pessoas que acabarão sendo presas e assassinadas, descobrir que a família é perseguida por discordar do governo atual e presenciar os horrores da guerra, Marjane vai se transformando por dentro, desde suas crenças religiosas até suas convicções políticas.
É devastador acompanhar a vida real de uma garota que apenas quer ser uma garota: se expressar como quiser, se vestir como quiser, acreditar no que quiser, viver como quiser... Só para ver como a sociedade na qual ela está inserida, os conflitos políticos e a violência diária influenciam, pesam e destroem tantos sonhos, enchendo uma criança de traumas e medos e determinando o seu futuro. E é mais doloroso ainda quando percebemos que isso acontece ainda hoje - e que crianças, em diversos lugares do mundo, vivem o mesmo (e até bem pior!) que Marjane.
Eu simplesmente amei como essa autobiografia é mostrada ao leitor, em blocos sobre reflexões e acontecimentos específicos, mas seguindo uma ordem cronológica, sendo que podemos seguir o crescimento dela e as mudanças radicais e profundas que se instalaram nela ao presenciar tantas tragédias.
Os traços simples e as artes em preto e branco servem perfeitamente para demonstrar os contrastes na vida de Satrapi - e ela é totalmente honesta com o leitor na hora de se abrir e nos contar sua história.
"Persepolis" é uma hq extremamente necessária, não apenas por narrar a verdadeira história de uma menina crescendo em meio à guerras, mas por nos mostrar a realidade tão dura e cruel que tantas pessoas ainda enfrentam...
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