gabi_tosi 19/10/2012Caixa Pretahttp://onanquim.com.br/caixa-preta/
Jennifer Egan, eleita uma das 100 pessoas mais influentes de 2011 pela revista Time, foi vencedora do Pulitzer de Ficção 2011, do National Book Critics Circle Award e do Los Angeles Times Book Prize pelo livro “A visita cruel do tempo“.
Caixa Preta, projeto ambicioso originalmente produzido para Twitter, foi lançado no Brasil pela editora Intrínseca, detentora dos direitos das outras duas obras de Egan publicadas por aqui, em formato e-book. Digo ambicioso porque de fato, conceber um conto para publicação direta no Twitter, de maneira agradável, com limite de caracteres e de forma a se adequar à mídia social não deve ser tarefa das mais fáceis.
Embora não extraordinário como “A visita cruel do tempo”, o conto é conciso e dinâmico, e não se torna cansativo lê-lo em e-book por evidentemente ser menor que um livro comum.
Escrito em forma de manual de instruções, toda situação que a personagem se encontra é definida pelo “manual” que dá as diretrizes de seus próximos passos.
A personagem central da trama é uma informante que, voluntariamente alistada para uma missão secreta do governo, se sujeita a tudo para repassar informações relevantes sobre seus alvos.
Com partes dignas de “007”, a informante (denominada “gatinha”) possui engenhocas surreais para conseguir captar informações, dando ao texto um ar por vezes cômico:
“A câmera implantada em seu olho esquerdo pode ser ligada apertando-se o canal lacrimal esquerdo. Em situações de pouca luz, pode-se ativar um flash apertando-se a ponta externa de sua sobrancelha esquerda. Ao utilizar o flash, sempre cubra seu olho sem câmera para protegê-lo de cegueira temporária causada pela claridade. Nunca utilize flash na presença de outras pessoas.”
Ainda que em pequenas doses, à leitura foram incorporadas temáticas “pesadas” como violência, sexo e existencialismo. Ao governo só importa receber as informações, irrelevante se vidas se percam no decorrer do processo e à informante importa apenas fazer o trabalho e voltar para casa. Talvez o grande questionamento seja exatamente o que leva a personagem a trilhar este caminho. O amor, o patriotismo, altruísmo ou o ego, a fantasia e o glamour?
A associação por sua vez da mulher ao sexo, como alusão a sua fragilidade é talvez a única coisa que realmente não me agrada na narrativa.
“Como gatinha, às vezes espera-se que você passe de mão em mão. Em geral, você passará das mãos de um homem menos poderoso para as de um mais poderoso. Maior proximidade com a fonte de dinheiro e controle é um progresso. Seu trabalho é o mesmo, não importa nas mãos de quem esteja. Se sua vulnerabilidade e impotência chamaram a atenção de um alvo inimigo, acentue-as.”
O curto enredo de Egan ganha consistência e confirma o peculiar estilo narrativo da autora. É uma boa introdução às suas obras e vale a pena ser conferido.