Leitora Viciada 30/10/2012A capa possui tantas similaridades com a história que representa o livro tão bem que ao terminá-lo provoca até um aperto no peito ao olhá-la. Após finalizar a leitura e criar uma conexão forte com o livro, modifiquei completamente minha visão de uma simples imagem. Como isso é possível?
Antes de ler Um Ano Inesquecível eu via uma imagem com promessas de um bom enredo e conexão do passado com o presente. Após ler o livro, a capa parece ter criado vida. Me emocionei ao fechá-lo e observar com atenção a foto. O idoso agora parece vivo, real para mim. Não uma imagem que simboliza uma personagem de um livro. Não sei explicar, ele parece de verdade. Como se fosse uma história de um conhecido, amigo ou parente de tão poderosa agora é a ligação entre o conteúdo do livro e a capa.
Por mais belas capas que vejo, essa é diferente. Repito, criou vida! E o casal logo acima, representando o passado do idoso provoca ainda mais intensidade nesse inexplicável vínculo.
Além da capa cheia de significado e representação, o trabalho gráfico está lindo, porém encontrei algumas falhas, como a primeira observação de rodapé, o ¹ está lá, mas o rodapé está vazio. Encontrei um erro de continuidade, na verdade não estou certa e nem posso comentar, pois seria spoiler. E mesmo assim é algo muito fútil, que nem deve ser comentado.
A narrativa é casual e dinâmica. Favorece o cotidiano, enriquece relacionamentos. É feita tanto em terceira pessoa quanto pelo Jesse, filho de Mickey. Jesse é o mais novo filho de Mickey, que surge na vida do casal sem planejamento, quando estão em idade um pouco avançada. Portanto, ele é bem mais jovem que seus três irmãos.
É notável a beleza na escrita do autor quando ele utiliza o dia-a-dia para demonstrar a convivência entre o pai de oitenta e tantos anos e o filho de trinta e dois. A dificuldade de conseguirem se relacionar, o conflito de gerações e ideias.
Um idoso viúvo com sua enorme experiência de vida, porém grande parte intacta apenas em suas lembranças. Um jovem que agora cuida do pai cheio de manias que não pode mais morar sozinho, pois a idade avançada criou perigos para ele. Pai e filho que não possuem uma relação íntima e direta passam a morar na mesma casa e a conhecer um ao outro.
Por vezes a narrativa em terceira pessoa muda para o ponto de vista de Mickey, quando ele resolve se abrir para o filho. Na verdade, pela primeira vez na vida, ele resolve falar de um segredo do passado, um relacionamento grandioso e marcante, um ano inesquecível nunca antes contado a alguém.
São momentos mágicos, mostrando os anos 1940 através de uma história romântica e nostálgica.
E o mais bonito: Mickey nunca compartilhou esse fato de sua vida com os outros filhos, então Jesse, além de se emocionar se pergunta a todo instante o porquê de estar sendo beneficiado. Sim, porque os acontecimentos do antigo romance do pai são emocionantes, lindos, únicos.
O autor aborda diversos temas delicados, singelamente, de forma doce e ao mesmo tempo real. Você se compadece com a história de vida de Mickey e em como a velhice o está afetando. Como qualquer um torna-se mais vulnerável conforme a idade avança e os problemas de saúde surgem.
O amor e desentendimentos entre pai e filho, estampado nas páginas de modo tão natural é comovente. Por mais implicâncias que um tenha com o outro, por mais diferenças de pensamentos e ideias eles possuam, por maior que seja a distância entre as gerações, eles se amam. Apesar de tudo, de Jesse fingindo que não aguenta mais as manias do pai e de Mickey fingindo que o filho ainda tem muito que aprender, eles passam uma imagem linda de como deve ser: o filho cuidando do pai quando este fica idoso. E o mais belo é ver a amizade surgindo, as confissões, a companhia que um faz ao outro, os ensinamentos passados tanto pelo pai quanto pelo filho. Mesmo que ambos finjam insatisfação e apontem falhas em suas vidas.
Quando a narrativa fica a cargo de Mickey e Jesse descobre aos poucos um ponto crucial da vida do pai, ele desvenda aos poucos não apenas o passado, mas também quem é seu pai verdadeiramente, porque ele é esta pessoa. E ao se abrir com o filho, Mickey possui o mesmo retorno, passa a ser mais íntimo dele.
O que Jesse demora a compreender é o motivo para essa incrível história estar sendo contada pelo pai assim, de repente. E justamente para ele, o filho com quem ele menos tem intimidade. Por que ele divide agora, nesse momento da vida dos dois, esse segredo?
E o leitor é levado juntamente a imaginar, descobrir, deduzir.
O livro é lindo, apreciei cada página, me apeguei muito a ambos, porém mais ainda ao pai.
As personagens secundárias são interessantes, os fatos em segundo plano também, mas o foco principal que é o relacionamento de Jesse e Mickey e a história do passado sendo revelada aos poucos é o grande destaque.
Outra personagem que gostei é a namorada de Jesse, Marina, que torna-se mais rapidamente amiga de Mickey que o próprio Jesse. Por que Mickey, quase sempre amargo e fechado cria um vínculo tão forte com Marina e passa a defendê-la e a desejar que o filho assuma de vez o relacionamento com a moça? Será apenas um pai querendo ensinar ao filho que não se deve desperdiçar um amor sincero, uma pessoa especial? Existe muito mais para o leitor descobrir nesse livro!
O clímax e final são comoventes, uma finalização previsível. No entanto, o livro não deixa de emocionar e cativar do início ao fim. Logo nas primeiras páginas já imaginava como seria o desfecho. Mesmo assim, não passou pela minha cabeça a ideia de parar de ler o livro e admirei todos os detalhes.
Muito realista e gracioso. O equilíbrio ideal de momentos tristes e alegres, como a vida realmente é.
Depois de ler uma história linda assim, onde refleti como cada relacionamento é único, como o respeito e o amor podem ser laços bastante fortes e especiais é impossível não pensar em minhas próprias relações e no rumo que dou à minha vida. Pense nisso também: um livro que diverte, cativa e deixa uma marca. Até mesmo nos mais durões.
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