DêlaMartins 15/11/2022
Drauzio Varella e sua vivência única nas cadeias
De todos os livros de Drauzio Varella sobre sua vivência como médico voluntário em penitenciárias, só me faltava "Carcereiros". Completei agora: Estação Carandiru, Prisioneiras e Carcereiros.
Ele conta histórias sobre a difícil vida dos carcereiros, principalmente durante o período em que atuou no Carandiru. Histórias tristes, algumas engraçadas, outras emocionantes e até surreais, que, sobretudo, mostram a coragem desses trabalhadores que, desarmados, correm riscos diários. O relacionamento do autor com os carcereiros é de amizade e eles formam um grupo que chamam de Conselho, que se reúne até hoje.
Na contracapa do livro tem uma citação que me chamou atenção antes da leitura e que faz mais sentido depois dos 3 livros. Ele diz que, depois de 23 anos frequentando cadeias (o livro é de 2012 e até hoje, 2022, ele ainda atua numa prisão feminina), não faz sentido especular como ele seria sem ter vivido essa experiência. Ele diz: "Conheceria muito menos meu país e as grandezas e mesquinharias da sociedade em que vivo, teria aprendido menos medicina, perdido as demonstrações de solidariedade a que assisti, deixado de ver a que níveis pode chegar o sofrimento, a restrição de espaço, a dor física, a perversidade, a falta de caráter, a violência contra o mais fraco e o desprezo pela vida dos outros. Faria uma ideia muito mais rasa da complexidade da alma humana".
A visão de Drauzio Varella sobre o sistema prisional brasileiro, com cadeias lotadas por conta de um déficit de vagas enorme e que nunca será coberto, é muito clara. Pra ele, "jogamos" ali os batedores de carteira juntamente com assassinos e estupradores, sem distinção. Nas cadeias, não são "jogadas" as pessoas ricas e apenas nos "livramos" dos criminosos enquanto estão presos. Ninguém sabe e nem quer saber o que acontece dentro das prisões, ninguém se preocupa com a reintegração dos criminosos à sociedade. Sem oportunidade e após a "especialização" nas cadeias, bandidos só podem ser bandidos, não têm espaço na sociedade. Concordo com ele.
Gostei muito da leitura!