Daniel 04/11/2012Jornada ao autoconhecimento Jonathan Coe voltou a acertar neste romance. Depois do triste e decepcionante “A chuva antes de cair”, neste “A Terrível Intimidade de Maxwell Sim” ele faz lembrar a prosa de seus melhores livros, “Bem vindo ao clube” e “O círculo Fechado”. Coe exercita ao máximo sua crítica irônica à medonha solidão do mundo virtual “conectado” e suas ilusórias rede de amigos: as pessoas próximas fisicamente acabam se afastando e, ao contrário, se aproximando e se tornando confidentes de meros desconhecidos. Perdeu-se o abraço, o olho no olho da conversa: basta olhar os tristes casais ou pais e filhos com seus respectivos iphones, isolados dentro e fora de casa, nas mesas de bares e restaurantes.
A história de Maxwell sim é narrada por ele próprio, com idas e vindas no tempo. O autor lança mão habilmente de recursos dentro da narrativa que a completam – uma notícia de jornal, um conto ou uma carta escrita por uma das personagens, etc. – e a viagem solitária de Maxwell pelas estradas do norte da Inglaterra fica cada vez mais estranhamente semelhante a uma outra viagem de um navegador solitário nos anos 70... E boas surpresas são reservadas ao leitor.
Além da crítica à nossa realidade monitorada ao modelo Orwell, há arestas também pelo que a globalização vem fazendo com as características peculiares de cada região. É impossível não concordar com uma personagem octogenária que lamenta o desaparecimento de tudo aquilo que dá identidade própria a uma comunidade: as lojinhas, as livrarias, os pubs dos bairros, que sumiram para dar lugar às grandes redes corporativas, com seu atendimento padronizado e comida pasteurizada.
Embora o personagem principal seja uma figura tristíssima na sua solidão, o autor soube desenvolver a narrativa sem que ela ficasse em nenhum momento pesada ou deprimente: a saga de Maxwell Sim é divertida e engraçada. Ele foi criado sem o afeto dos pais (ausência de afeto tanto entre pai e filho quanto entre pai e mãe), cresceu com baixa autoestima, tornou-se imaturo emocionalmente, incapaz de reconhecer e expressar seus próprios sentimentos, e minou todos os relacionamentos pela vida a fora. O resultado não poderia ser outro: ele “surta” quando confrontado com sua própria história e quando tem que encarar a si próprio.
“A gente dá voltas por aí todos os dias, corre para lá e para cá, a gente fica a centímetros de tocar uns nos outros, mas há pouco contato real. Sempre por um triz.. Sempre quase. É assustador, se a gente parar pra pensar. Provavelmente é melhor não pensar mesmo.”