Josué Brito 13/05/2018
Para se ler em dias de boa preguiça
De pouco a pouco enquanto crescemos, até alçarmos à maturidade, é-nos incutida à ideia de que o trabalho dignifica a alma. Ele é uma necessidade humana e a preguiça é um dos pecados capitais, a preguiça é o que leva os homens à miséria. Será mesmo que esse papel do trabalho é absoluto e diz tudo sobre nossos valores morais? Será, outrossim, que o trabalho inveterado é uma forma de grandeza?
Adriano Suassuna, em um dos seus mais divertidos livros, responde várias questões mostrando que os conceitos são relativos. Para tal feitura, o autor coloca de um lado o poeta Joaquim Simão, um homem dotado da preguiça, que evita o trabalho inveterado e só quer escrever seus versos e deles um dia ganhar a vida, e seu Aderaldo Catacão, um homem rico, que renunciou a religião, que é louco pelo trabalho e faz vista grossa às infidelidades da esposa, uma pseudointelectual dotada de luxúria.
Nesta luta, entre o trabalho e a preguiça, são revelados dois homens, um rico, que acho que o dinheiro compra tudo, e um pobre, que quer ter o direito de viver sua vida sossegada, com sua mulher, seus filhos e a poesia. Uma cena emblemática a se desenvolver com toda a comicidade e genialidade próprias de Suassuna.
Esta obra é um convite ao divertimento e a reflexão, de conceitos morais, sociais e econômicos. Nada melhor que num momento de boa preguiça, ler e talvez assistir a essa belíssima pérola do teatro brasileiro da década de 1960. Suassuna com sua generosidade à literatura nacional nunca decepcionou. Estivera sempre no bom trabalho e na boa preguiça!!
Josué Brito