Gabi 19/04/2024Relativamente insuportávelEu tive 4 grandes problemas com esse livro:
1° - As mulheres. Todas as personagens femininas são basicamente musas do personagem principal. Tudo sobre elas é milimetricamente escolhido para ser sexy e desejável. Até os seus defeitos fazem com que elas sejam mais atraentes para o personagem principal. Elas simplesmente não têm espaço para existirem como seres humanos.
A Midori é a garota "louquinha" e "diferente das outras". Ela tem uma energia muito forte de manic pixie dream girl. Me lembrou muito a Summer, de 500 Dias com Ela. Ela é estranha de uma forma de marca ela como sendo "diferente das outras garotas normais", mas nunca realmente diferente para não assustar o protagonista. Ela adora sexo e não tem reservas quanto a isso. Ela parece a namorada dos sonhos de um adolescente de 16 anos virgem que passa o dia jogando videogame e assistindo anime. Ela possui uma dependência emocional bem forte, e todas as cenas dela parecem focadas em agradar o protagonista a qualquer custo, independente do que ela deseja como pessoa.
A Naoko também tem uma dependência emocional bem forte. Ela é o esteriótipo da mulher submissa que precisa de um homem para salvá-la do mundo. Ela é a que mais se encaixa no papel de musa. Todas as descrições dela são quase etéreas, líricas. Ela parece só a casca de uma pessoa real.
2° - O protagonista. Ele é a parte mais insuportável do livro. Ele constantemente se julga como um "cara normal", "sem grandes atrativos". Mas ainda assim, existe um egoísmo e uma certa presunção enormes. Não vejo problema em um personagem com defeitos, mas o livro parece romantizar os defeitos dele. A melhor descrição para ele, na minha opinião, é que ele é um Cara Legal?, muito parecido com o Tom de 500 Dias com Ela. A sensação que tive lendo o livro é que ele se considera uma pessoa decente e acha que deve ser recompensado por isso, como se não fosse o mínimo. Parece que ele nem reconhece que as pessoas ao redor dele também têm sentimentos, ele só pensa em si mesmo o tempo todo. Eu já li "Sul da Fronteira, Oeste do Sol" do mesmo autor e tive a mesma sensação. O protagonista de lá também magoa quase todo mundo ao seu redor (em sua maioria, mulheres) e mal para pra pensar nas consequências para os outros.
Além disso, ele recebe alguns elogios que me deixaram muito confusa. Quase todos os personagens que conversam com ele dizem "nossa, você tem um jeito diferente de falar", sendo que no texto, as falas dele são iguais às dos outros personagens (porém acredito que isso possa ser culpa da tradução). Ele é descrito em duas cenas distintas pela Midori como "não muito bonito", mas ainda assim consegue (SPOILER*****) transar com 3 personagens principais e várias outras mulheres. No final, o protagonista parece quase um insert do autor, uma fanfic do que ele gostaria de viver.
3° - as cenas de sexo. De cabeça, sem pegar no livro para checar, consigo lembrar de 3 cenas de romantização de estupro, e 2 cenas que eu consideraria como um estupro romantizado (uma onde a personagem claramente não está em condições emocionais para consetir com o ato, outra onde a personagem quer dizer não mas fica paralisada, e o autor faz questão de entrar em detalhes sobre como ela estava excitada no momento, mesmo seu subconsciente querendo recusar). Além disso, a própria evolução das cenas de sexo parece descabido. Em um livro normal, os personagens começam flertando, para depois evoluir para o sexo. Aqui, parece que os personagens estão conversando tranquilos e de repente começam a transar. Não parece natural. Além do fato que tudo termina em sexo nesse livro. Ninguém sabe lidar com emoções difíceis sem terminar em algo sexual. Eu acharia legal se fosse um comentário sobre o conservadorismo da sociedade japonesa, que leva a pessoas mais reprimidas e com relações disfuncionais com o sexo. Mas ele nunca chega nem perto de abordar esse tema, então parece só estranho. Por fim, não vou nem comentar sobre a constante comparação das personagens femininas com crianças e adolescentes nas cenas íntimas.
4° - as interações em si. Todos os diálogos são estranhos, não parecem naturais. Acredito que parte pode ser culpa da tradução. Mas algumas cenas não fazem sentido mesmo assim. POR QUE existem cenas de personagens descrevendo atos sexuais em muitos detalhes pros outros? Quem faz isso? Entendo que parte disso pode ser devido a diferenças culturais, mas já li outros livros japoneses onde não encontrei esse problema.
Por fim, um comentário: o conceito de fidalidade simplesmente não existe nesse livro?