selvia.ribeiro 05/02/2016
Inteligente e revoltante
Provavelmente, por já ter visto o filme, este livro não entraria na minha lista de leitura. E devo dizer, ainda bem que esses desafios literários existem, porque eu adorei. Deixo abaixo um pouco sobre o livro para, quem sabe, como eu, vocês também não tomem gosto por ele.
Ao fim da Segunda Guerra e com a polarização política entre comunistas e capitalistas, na chamada Guerra Fria, houve um período conturbado nos EUA que perseguia e condenava qualquer militância comunista, atividades consideradas antiamericanas. Movimento que ganhou muita força com o senador Joseph McCarthy, que, com discursos e leis, qualquer atividade “antiamericana” e tudo que fosse minimamente considerado influenciado pela esquerda era sumariamente punido. Tal período foi chamado de Macartismo, a era da caça às Bruxas. Tal perseguição resultou em diversas listas negras divulgadas levando seus envolvidos à investigação e condenação severa, mesmo que as provas fossem totalmente questionáveis.
O que isso tudo tem a ver com As Bruxas de Salém? Não foi por acaso que Arthur Miller, na época sofrendo as repressões do Macartismo, escreveu The Crucible (As Bruxas de Salém).
Na segunda metade do século XVII, em Salém, a filha e sobrinha do Reverendo começaram a apresentar comportamento estranho, médicos foram consultados e logo outras meninas da cidade começaram a apresentar o mesmo comportamento. Os médicos na época, claro, concluíram, que não poderia ser outra coisa se não o Demônio. Exorcistas foram chamados e acusações de prática de feitiçaria começaram a espalhar pela cidade num clima histérico.
Sem todo esse conteúdo histórico a peça já seria sensacional. Durante a leitura é fácil se indignar com os personagens e com o julgamento nada imparcial do juri. Era uma época de declarada intolerância religiosa. Várias pessoas foram acusadas e julgadas. O direito era confundido com religião, a histeria uma bola de neve que levou a mais de 150 pessoas, entre mulheres e homens acusados, condenados e 19 dessas foram executadas. Saber que boa parte da história de Millher é verdadeira deixa a gente ainda mais indignada com os acontecimentos do livro.
O livro, em formato de peça teatral, como foi originalmente produzida, começa na casa do Reverendo, onde sua filha aparentemente se encontra em estado catatônico após o pai a flagrar com suas amigas dançando na floresta num ritual de aparente feitiçaria na companhia da escrava da família. A história se espalha e as pessoas começam a falar em possessão demoníaca. Da possessão para a histeria é um pulo e logo Abigail e as outras meninas começam a acusar várias pessoas da cidade.
Pessoalmente eu gostei muito desse livro. Perceber que o autor conseguiu, em uma história curta relatar fatos acontecidos no século XVII, criticar o sistema penal, insinuar um dos primeiros casos conhecidos de histeria coletiva e ainda atacar a situação política na qual ele vivia é sensacional. Provavelmente é um dos livros que eventualmente irei reler.
Arthur Miller também foi o roteirista do filme As Bruxas de Salém (1996), levando inclusive o Oscar de melhor adaptação. O filme conta com a atuação de Winona Ryder, no papel de Abigail Williams e Daniel Day-Lewis, como John Proctor. Não assisti ao filme depois que li o livro e faz muito tempo que não o assisto, mas me lembro de ter gostado bastante.
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