80 anos de poesia

80 anos de poesia Mario Quintana




Resenhas - 80 anos de poesia


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Arsenio Meira 04/07/2013

O OUTRO LADO DA MARGEM


Já conhecia todos os poemas escolhidos para esta edição comemorativa. Mas não importa.

De Mário Quintana, Paulo Mendes Campos reconheceu que, por amar tanto a poesia do colega gaúcho, os versos nem precisariam estar “impressos em tinta e papel: eu os carrego de cor, e às vezes brotam em mim como se fosse meus”.

Aclamado pelo público, pouco conceito angariou pela crítica (o que demonstra o grau de estupidez da dita-cuja), talvez porque tenha sido o poeta das reticências ou pouco inclinado aos temas dito profundos ou pseudo-profundos, ou ainda, desligado das panelinhas literárias, esfera ideal para alguns embusteiros e calhordas.

Mário Quintana era um homem avesso a ênfases – no escrever, no falar, no proceder. Mas escreveu sobre temas banais e não-banais e conseguia extrair de todos os cálices uma dimensão mais ampla, transformando essas vivências em metáforas com entonações simples e significados belíssimos, todos providas de uma substância sensível e acolhedora.

O livro "80 anos de Poesia", uma seleção que abrange poemas pinçados de todos os seus livros, em bem apanhada edição da editora Global, nos remete à conclusão de que em termos de tema e tom, predominam recortes pungentes de cenas urbanas em registros irônicos ou sutis, enquanto em termos formais domina o prosaísmo coloquial de extração modernista, com exceção dos seus deliciosos sonetos, tão ao gosto de um neo-simbolismo mais abonador do que depauperado.

Queiram ou não queiram os críticos, jamais faltará mérito a Mário Quintana. A possibilidade da hecatombe nuclear, como não podia deixar de ser, sensibilizou o Poeta, gerando vários poemas. Poesia é emoção inteligente, ou inteligência emocionada.

Mas não se trata aqui, bem entendido, de exigir que o poeta só se refira a grandes temas ou episódios, menosprezando os outros – uma formiga trazendo o frêmito da vida à página em branco era um poema para Quintana, quanto um mosquito fazendo sombra de lira em outra, era também material poético para Vinicius – pois se o Poeta é a antena da raça, ao público leitor os temas não tem índice, abordagens e formas.

Em Quintana, uma das surpresas é a exclusão voluntária a que o poeta se submeteu, como se isso pudesse atrapalhar a sua poesia ou como se ele não estivesse preparado para abordar poeticamente assuntos mais complexos, superando, assim, a província com a qual vivia e conviva extraindo dela também forte aparato para sua poesia.

Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente…
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda gente,

Nem é deste Planeta… Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu Anjo da Guarda, ele somente,
É quem lê os meus versos afinal…

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebizonda…

Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
Nossos comuns desejos e esperanças!

Ele tinha o gosto pela matéria simples da vida, traço que marcaria toda a trajetória do grande poeta gaúcho.

A poesia de Quintana é a humanidade posta em verso.

Daí seu humor não apresentar o traço racional, intelectualizado (o que talvez explique a birra da crítica), e que traduz uma visão chapliniana do mundo, não distanciada da que teria o homem comum.

Em permanente “estado poético” Quintana não escolhia assunto: todos lhe serviam, tudo era lirismo poético na sua percepção feiticeira.

E, convém não esquecer que é de sua lavra uma das mais belas, gigantes e suscitas definições do relacionamento amoroso:

“Amar é mudar a alma de casa.”

Ao fazer poesia como quem respira, Quintana não se situa, como poeta, acima dos demais ou fora do mundo.

Ao contrário, sendo um entre outros (“Eu nada entendo da questão social./ Eu faço parte dela, simplesmente…”), como dirá, ele se dilui no contexto geral.

Assim, o social, em Quintana, não está designado pelo poema: é o poema. Portanto, mesmo que tenha tentado excluir-se dos temas sociais, ele não conseguiu.

Em determinado dia, Quintana declarou: “Pertencer a uma escola poética é o mesmo que embarcar num barco que pode ir ao fundo, quando esta escola sair da moda. O melhor é cada um no seu barquinho, e talvez alguns consigam chegar à outra margem. Isto é: à posteridade”.

Ele, com seu barco imenso de poemas, não precisou da crítica e conseguiu chegar do outro lado da margem.
Maria Isabel 04/07/2013minha estante
Linda resenha! Parabéns.


Arsenio Meira 06/07/2013minha estante
Oi Bell, obrigado mais uma vez. Deixei um recado em sua página.




Maiara 19/03/2021

Efeito calmante
Certamente não sei se a intenção de Mario Quintana era a de me proporcionar calma mas, foi isso que ele conseguiu com essa coletânea. Mesmo os textos mais diferentes, provocadores de reflexões, me induziram a uma tranquilidade, que somada à playlist de Lo-Fi Oriental, produziram uma sensação de dispersão muito rara nesse momento pandêmico em que estamos vivendo. Recomendo muitíssimo até mesmo a leitura contínua, de um poema atrás do outro, pois eles somados resultam em um mix de pensamentos e emoções que casam bem juntas.
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Rodrigo 06/11/2020

O poeta das coisas simples
80 anos de poesia, coletânea de poemas do poeta Mário Quintana, é um livro pra ser lido sem pressa.

Poeta das coisas simples e avesso às transformações que a modernidade de seu tempo lhe trazia, Quintana teceu, como ninguém, poemas de esperança, de afeto, de solidariedade e de utopias.

Abordou como ninguém a passagem do tempo e sua efemeridade, revelando-nos que "as únicas coisas eternas são as nuvens". Mas, citando um poeta inglês, John Keats, "a thing of beauty is a joy forever", Quintana adota uma linha de pensamento um tanto quanto espiritual, seguindo o pensamento da filosofia japonesa "ichi go ichi ê": "Não é de uma vez que se morre/ Todas as horas são extremas".

Cantou ainda Porto Alegre e suas memórias, com o Chalé da praça Quinze, seu céu transcrito em um cartão postal, as ruas da infância, os feirantes e tantas outras paisagens do cotidiano.

Em tempos em que o ódio parece sobrepor-se ao amor, precisamos muito mais do que nunca do encanto da poesia e, mais do que nunca, precisamos de poetas e escritores que nos salvem de tamanha ignorância. Afinal, "Quem faz um poema abre uma janela./ Respira, tu que estás numa cela abafada,/ esse ar que entra por ela./ Por isso é que os poemas têm ritmo/ - para que possas profundamente respirar./ Quem faz um poema salva um afogado".
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Evy 27/07/2011

Poesia em tudo!
Mario Quintana é de uma doçura infinita. Só de olhar a foto dele atrás do livro me veio um sorriso ao rosto. Tenho para mim (e sei que não posso dizer pois não o conheço intimamente) que Mário era um ser especial. Alguém que vê poesia em tudo, desde as menores coisas até as mais improváveis, só pode ter um coração magnífico e uma alma iluminada!

Neste livro que abrange os 80 anos de poesia do autor, incluindo seus principais livros como "A rua dos Cataventos", "Sapato Florido" e "Baú de Espantos", pude notar o quanto quintana tinha a poesia no sangue, conseguia enxergá-la em qualquer objeto e qualquer cenário e foi isso o que mais me chamou atenção nesse livro.

Principalmente quando li "Parada km77":

...até onde irá a procissão dos postes, unidos, pelos fios, à mesma solidão?

Dentre inúmeras outras tão belas quanto esta. Como é o caso de "A carta", "O poema", "Epílogo" e "Crônica". Mario emociona, cativa com sua escrita simples e tão poética. É impossível não sorrir ou se identificar pelo menos com algo que ele tenha escrito. E para finalizar, uma das coisas mais lindas que já li de Quitana:

"Da vez primeira em que me assassinaram perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha..."

Leitura recomendada!
Léia Viana 30/08/2011minha estante
Adoro Quintana, vou procurar por este livrinho aqui na minha cidade.




Bea 22/06/2020

Ah! Mário Quintana...
Uma delícia de leitura!
Poesias curtas com uma leveza ímpar.
Digna de Mário Quintana!!
Recomendo!!!
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brunaentrelivros 16/12/2023

Grandes sentimentos
Li Quintana pela primeira vez no ensino médio, me apaixonei por Rua dos Cataventos e se tornou um dos meus favoritos da vida, mas nunca tinha lido mais. Gosto de ler antologias, são um bom panorama da vida de um poeta. Quintana é gigante, tem um humor inteligente e aquelas frases marcantes que a gente sempre vai lembrar. É impossível não se apaixonar por uma escrita tão grandiosa.
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jota 20/12/2021

BOM: uma amostra geral de tudo o que Quintana escreveu, aqueles que seriam seus melhores poemas
Lido entre 17 e 20/12/2021

Do poeta gaúcho Mario Quintana (1906-1994) não li tanta coisa assim, já que não sou grande leitor de poesia, prefiro ler prosa a maior parte do tempo. Mas apreciei bastante A Vaca e o Hipogrifo (Círculo do Livro, 1986) do próprio Quintana e as 130 historinhas compiladas e adaptadas por Juarez Fonseca que constituem o pequeno volume Ora Bolas, o Humor de Mario Quintana (L&PM, 2006).

Com seleção e organização da então professora da UFRGS Tania Franco Carvalhal temos este 80 Anos de Poesia, um apanhado geral do que seriam os melhores poemas de Quintana, volume publicado em 1986, ano em que o poeta tornou-se octogenário. Completam o livro uma bibliografia de Quintana, uma outra bibliografia selecionada sobre ele (livros, teses, artigos etc.) e uma cronologia desde seu nascimento até a morte.

A apresentação (ou prefácio) Quintana, a Aventura da Poesia, escrita em 2008, é da professora da UFRGS, Maria do Carmo Campos, na qual ela destaca em Mario Quintana seu “transito poético entre os extremos de uma melancolia reflexiva, do humor, do ludismo.” Como posfácio, o poeta e escritor Heitor Ferraz Mello faz o elogio de Quintana, destaca as qualidades de sua escrita poética e finaliza com a seguinte observação:

“Aqui, a graça, a ingenuidade quase infantil de alguns poemas, a descrição simples e precisa da realidade comparecem e pedem uma leitura amistosa. É a palavra fazendo e gerando amigos.” Verdade: através de seus poemas me pareceu que a alma gentil de Quintana era a mesma de um menininho. Ou de um passarinho, algo assim, mesmo sabendo que o animal que lhe parecia ser o mais perfeito da natureza era o cavalo. Hipogrifos têm a sua porção cavalo...
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Leila 06/10/2023

80 anos de poesia
Este lo livro é uma compilação de poemas do Mario Quintana, dos seus 80 anos de poesia. ele começou a publicar em 1940 e faleceu em 1994 mas deixou um grande acervo de livros.
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Rafa.Ramos 17/04/2021

Esse livro me surpreendeu bastante, pois não costumo ler poesia. Não posso dizer que entendi tudo que li, mas muita coisa me encantou. O autor escreve de uma forma muito leve e calma, e todos os poemas são muito bem construídos. Pretendo ler mais livros do gênero.
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Nika 19/03/2021

Hum...
Este livro possui muitos poemas com relação ou citam a morte

Não gostei dessa parte
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Ari 24/05/2020

"Um gole d`água bebido no escuro."
O “poeta das coisas simples” respirou e suspirou poemas leves e despretensiosos. Sussurrou o que via através de palavras; fez delas sua forma de retratar o seu mundo.

Leitura agradável para uma tarde de domingo chuvosa.
nic 06/06/2020minha estante
Quintana é coisa de alma. ?


Ari 06/06/2020minha estante
Ah, se ele fosse meu avô! Não casou-se e nem teve filhos. Viveu apaixonadamente - pela vida e por suas paixonites. ?




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Pal-lo 08/04/2023

Mario Quintana
Olha não sei como fazer uma resenha de um livro de poemas, a não ser sendo: "muito bom! Gostei pra krl!".
Incrivel como em poucas palavras pode fazer uma pessoa se emocionar a ponto de chorar. Por isso eu gosto de poema, são tão simples mas ao mesmo tempo complexo, o bastante para você ficar um tempo refletindo sobre. Valeu abbas.

Um assunto reconreente nos poemas de Quintana é sobre pessoas mortas ? não no sentindo de terror ? mas como uma homenagem. O que me deixa com uma pulga atrás da orelha "o que ele passou para escrver tanto sobre isso?" bom não pesquisei pra saber, talvez até seja um assunto que se perdeu no tempo. Mas achei muito bonito como ele fala disso, e concerteza um dos meus poemas favoritos dessa coletânea é sobre esse tema.

Adendo sobre um texto que Quintana fez a uma fã, sobre "como ele faz para escrever um poema" que não é sobre "fazer tal coisa e tal coisa. Não!" Mas não tendo um jeito certo de se fazer, é até sem sentido. Você Vicência algo ou algum sentimento e o passa ao papel. Só.
Arte você não precisa ter noção tecnica, se tiver é bom, mas não necessariamente precisa seguir as normas. É mais sobre fazer.

Dedico este texto a Quintana, por me "ensinar" e me fazer escrever os meus próprios poemas, não sendo tão bons quanto, não que eu me importe com isso. Obrigado Mario Quintana por me mostrar mais uma vez esse mundo que eu desconhecia.
E obrigado pela minha ti, ao me dar o livro, que à princípio achei ser um tédio, mas rapidamente me fez mudar de opnião e apreciar o trabalho desse poeta maravilhoso, que apesar de já ter partido deixou o seu legado pra trás.
Tem até um poema que ele diz mais ou menos isso: data e dedicatória.
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