Os Quarenta Dias de Musa Dagh

Os Quarenta Dias de Musa Dagh Franz Werfel




Resenhas - Os Quarenta Dias de Musa Dagh


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GIPA_RJ 17/09/2012

PRECIOSO
Talvez tenha sido o mais longo livro que li , mas foi com muito prazer e interesse que cheguei à página 878.
Uma heróica saga do valente povo armênio na primeira guerra mundial, que resistiu bravamente contra o gigantesco exército turco , encurralados no alto da montanha Musa Dagh por 40 dias até serem resgatados pelos navios aliados.
Um relato fascinante , de muita fé , coragem , resistência , que merecia ser retratado em filme.
Os bastidores do genocídio armênio são apresentados com muita clareza de forma que é impossível negá-lo como um fato histórico.
Mag 18/09/2012minha estante
Tenho esse livro mas confesso que o tamanho me desanima. Com sua resenha encontrei mais disposição pra encarar a leitura! ;)


GIPA_RJ 15/04/2013minha estante
Que bom , dou a maior força para que você o leia , Mag.




Luísa Coquemala 19/12/2017

Para o inexplicável em nós e acima de nós

Em 2015, tive meu primeiro contato verdadeiro com a história do povo armênio. Por conta do centenário do genocídio do povo armênio, um concurso de redações sobre o tema foi promovido. Muito mais que a ambição pelo prêmio, me inquietou a falta de conhecimento sobre acontecimento histórico tão espantoso. Em uma rápida busca virtual, me deparei com uma série de informações inquietantes. Como assim, alguns países não reconheciam uma matança de tal proporção? Afinal, quem era esse povo tão curioso e injustiçado?
Tomada do desejo de saber mais, fui à biblioteca e emprestei alguns livros sobre o assunto. As palavras de Arnold Toynbee e Lorde James Brice em Atrocidades Turcas na Armênia me deixaram um pouco mais à par da questão. Me empolguei e mergulhei em outros livros. Perdi o prazo do concurso, mas me emocionei com o triste relato de Soghomon Telemian e Michael Arlen – um, o armênio que perdeu tudo no genocídio e buscou remediar o sofrimento em um ato desesperado, assassinando Talaar Pasha; o outro, um fruto da diáspora que tenta compreender sua identidade armênia, essa eterna questão.
Em um primeiro momento, portanto, o que me marcou em relação aos armênios foi a questão do genocídio. Sempre que pensava no primeiro povo oficialmente cristão do mundo e no belo monte Ararat, a sombra do sofrimento vinha atrás, com o sabor da injustiça e do fardo a ser carregado.
De fatos, mesmo que por leituras e fotos muito antigas, é impossível esquecer o sofrimento dos eruditos enforcados em praça pública; dos cadáveres de mulheres, crianças e idosos empilhados em Deir-el-Zor; da conivência silenciosa dos aliados dos turcos na Primeira Guerra Mundial.
Até para quem não vem de uma família armênia, como é meu caso, a ferida aberta pela falta de reconhecimento total (e sobretudo dos maiores responsáveis) incomoda depois de um pouco de conhecimento sobre o sofrimento de tantos inocentes.
E assim me mantive, por algum tempo, em relação aos armênios.

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Em setembro, iniciei duas coisas que viriam mudar minha perspectiva sobre os armênios: o curso de Arte e Cultura Armênia na USP e a leitura de Os 40 dias de Musa Dagh, de Franz Werfel.
O romance histórico de Werfel fala sobre a célebre resistência de sete vilas de Antióquia que não se resignaram à crueldade das deportações e, subindo para o Damlaik, optaram por resistir através da luta armada de uma minoria em desvantagem, mas com vontade inabalável de viver.
Junto das primeiras páginas do livro, as aulas do curso começaram. Havia uma boa quantidade de armênios na sala – os frutos das famílias sobreviventes do passado sangrento. Os conhecimentos históricos de ambos de completavam. A narrativa fluida de Werfel, repleta de personagens vívidos e cativantes, ilustrava muito bem alguns dos aspectos culturais vistos em sala.
Aos poucos, comecei a entender que os armênios são compostos de luzes e sombras, como os contrastes nos quadros de Bachindjaghian. Ao lado do trágico histórico de matanças e perseguições, descobri um povo extremamente receptivo e culto, que valoriza seus frutos de cabeça erguida.
Pude compreender que o genocídio acontecer, mas que os armênios são muito mais do que isso: são a bela igreja e Etchmiadzin, a delicadeza das khatchkars e das rendas; as ornamentações de panteras, águias e videiras. Os armênios são fruto de uma história que começa há muito tempo, com o mito de Hayk e guerras por sua religião e território. E tal história se estendeu pelas cédulas de dinheiro com algumas de suas grandes figuras estampadas e também pelo ressoar do duduk de Léon Minassian.
Alguns desses elementos aparecem, mesmo que brevemente, no romance de Werfel. Antes da subida para o Musa Dagh, conhecemos a vida cotidiana das vilas armênias da região e sua produção de pães e artesanatos. Também nos são apresentados personagens representativos da cultura armênia: Ter Haigasum, o padre e pai espiritual de todos; Sarkis Kilikian, rebelde incompreendido cujos pais foram mortos no massacre perpretado por Abdul Hamid, em 1897; Krikor, o farmacêutico e amante de livros; Bedros Altouni e sua esposa, responsáveis pela saúde de todos; a crente família Tomasian; Gabriel Bagradian, os “estrangeiros”; Nunik, a feiticeira da região.
Através do tempo e do espaço, a resistência inabalável dos heróis de outrora sobrevivia na face dos armênios que, indo ao curso, procuravam, em pequenos gestos, eternizar sua rica cultura. O famoso verdo de Paruyr Sevak, no único e antigo alfabeto armênio, parecia ali ressoar: “somos poucos, mas somos armênios”. As fisionomias dos combatentes retratados no romance de Werfel se transformavam, ali, em outro tipo de resistência: a valorização da luz, não da sombra. Eis a prova de que esse povo é muito maior do que sua tentativa de extermínio e que o espírito do personagem Krikor, carregando seus livros montanha acima, como um bem maior, continua e podemos testemunhar o “profundo amor dos armênios pela cultura, o segredo de todas as verdadeiras raças antigas, que sobrevivem aos séculos”.
Testemunhas tudo isso e conhecer o outro lado do espectro foi uma experiência única e aos personagens inesquecíveis do livro de Werfel eu acrescento o simpático professor; a mão e a filha cujos olhos brilhavam nas aulas e que trouxeram a nova geração dançar, incluindo nós, “de fora”, em sua generosidade; o animado senhor que sentava no fundo e, usando um boné com as cores da bandeira, gritou certa feita que os armênios ainda dominariam o mundo; a senhora cujos olhos aguaram, com um sorriso melancólico no rosto, ao ouvir o som do instrumento que seu avô tocava.
Todos são parte de uma vasta história – uma das mais trágicas, com certeza, mas também uma das mais belas e artísticas já registradas. O campo de luta dos armênios é, hoje, a valorização do que eles têm de melhor em sua memória coletiva, em sua cultura. Sinto em mim, como uma esperança de quem olha de fora, que um dia a nação armênia, aonde quer que esteja, vai se reerguer completamente. Como fazem ainda hoje, pouco a pouco, em seus ensinamentos e leituras. Tal sentimento se baseia no que de mais certo e puro pude observar: os armênios, acima de tudo, vivem na chama acesa, alimentada por sua luta incansável e sua esperança.
Jovem Ulrich 21/12/2017minha estante
Não tem como curtir duas vezes. :/ Muito legal a tua história de aproximação e interesse pelo povo armênio.




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