Regis 16/04/2024
Uma trilogia épica de verdade
Fundação, de Isaac Asimov, é uma das obras mais conhecidas da ficção científica. Essa trilogia grandiosa iniciou-se com histórias menores, conectadas umas às outras, publicadas em revistas pulp de ficção científica entre 1942 e 1944, mas com o declínio de muitas dessas revistas no pós-guerra a ficção científica foi transferida para os livros e assim nasceu essa primeira trilogia nos anos 50 e o autor voltaria a esse universo escrevendo, a partir de 1980, mais dois romances sequenciais e duas prequelas.
Essa é uma das mais grandiosas histórias da ficção científica que conseguiu o feito de mudar, para todo sempre, a literatura especulativa. Fundação recebeu o prêmio Hugo especial de melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos em 1966, e conhecendo agora esses três primeiros livros, não consigo estranhar que ele tenha superado outros concorrentes de peso e conquistado esse grande reconhecimento.
Essa trilogia trata da queda do Império Galáctico (baseado na queda do Império Romano) que reina absoluto sobre todos os mundos habitados há doze mil anos e a criação de um novo Império; a partir das previsões do psico-historiador chamado Hari Seldon que através dessa ciência recém descoberta, a psico-história, pôde prever um período ?de trevas? (fazendo um paralelo com a Idade Média) de 30.000 anos que se seguiria à queda. Para evitar inúmeras guerras, Seldon usará suas descobertas para amenizar o período umbroso que se estenderia por milênios, preservando assim o conhecimento humano e evitando o completo declínio da civilização.
Os acontecimentos dessa história vão sendo dispostos como em um tabuleiro de xadrez, para que mais adiante, na trilogia, tenha início a "partida definitiva" de um intrincado jogo político que é extremamente necessário para que o Segundo Império seja consolidado.
As reviravoltas dos acontecimentos são tão peremptoriamente satisfatórias que mesmo que saibamos que o desfecho pode já ter sido "previsto" é muito satisfatório descobrir como ele vai se dar.
Somos pegos de surpresa e deixados sem ar a cada Crise Seldon que aparece. Sei que o formato episódico em que a história é contada pelo autor (devido aos grandes saltos no tempo), incomoda algumas pessoas, no entanto, não me incomodou em nada: Asimov entrega muito com sua escrita concisa e envolvente.
Adoro a forma lenta e gradual com que o autor incutiu em nossas mentes pontos mínimos do plano central para que quando, este, esteja em ação, possamos compreender e sentir toda nossa curiosidade saciada.
Ao longo das décadas e séculos seguintes vão surgindo dúvidas sobre o Plano Sheldon, mas ele se prova consistente e de confiança já que a cada crise surge alguém capaz de mitigar o conflito da vez surpreendendo os que ainda não acreditam completamente na Fundação e no plano traçado pela psico-história.
Durante todo o livro a sensação de uma história bem contada vai deixando o leitor extasiado e sedento por mais; os grandes embates psicológicos e diálogos inteligentes fazem desse um magnífico livro para quem aprecia uma boa batalha racional.
Asimov também entrega embates políticos e sociais, conflitos éticos e personagens interessantíssimos. No primeiro livro, uma única mulher é, muito brevemente, mencionada, mas o autor remedia isso no segundo e terceiro livro com Bayta e Arcádia. Elas são personagens fortes e importantíssimas para o desenrolar da trama do segundo e terceiro livro, respectivamente.
Essa trilogia entrega além de uma magnífica ficção científica, cheia de conspirações políticas e reviravoltas, uma grande análise da verdadeira natureza humana e sua incapacidade de lidar com as mudanças e aprender com a história.
O primeiro livro é maravilhoso, mas a apresentação do grande vilão (Mulo) no segundo livro, o desfecho dos acontecimentos no terceiro livro e o grande mistério revelado no final, me deixaram sem palavras. E o que foi aquele final? Estou em júbilo com o encerramento dessa trilogia e pronta para seguir lendo as próximas histórias, seguindo a ordem que o próprio Asimov sugere ao final de Segunda Fundação.
Tenho que comentar o quanto é perceptível a influência de Fundação em grandes obras cinematográficas que admiro: destaques para Star Trek, Star Wars e seu magnífico vilão Darth Vader: que possui muito do Mulo em sua composição e ainda tem a princesa Léia que lembra muito a Bayta. Fundação influenciou nomes como Paul Krugman, Steven Spielberg, George Lucas, Sagan... e isso é mérito de uma história bem contada, um universo conciso e personagens marcantes.
E por fim preciso falar dessa edição da Aleph que é primorosa: ela possui partes muito bem divididas, proporcionando uma praticidade enorme na programação da leitura. Quero ressaltar também a excelente tradução e a beleza das ilustrações que dividem cada parte dos três livros e os capítulos. E ainda tem uma entrevista de Isaac Asimov que coroa o término do livro.
Eu adorei essa leitura! Foi uma grande jornada, acompanhada do Leandro e do Léo (Meninos, eu amei compartilhar a leitura, criar teorias e discutir o livro com vocês!). ?
Sei que essa saga épica ainda não chegou ao final, mas até aqui já me conquistou completamente.
Recomendo