Rosa282 07/02/2024
Fundação: a narrativa que transcende o tempo e espaço, ainda que não seja atemporal.
Existem obras literárias que transcendem ao tempo, com isso não desejo afirmar que “Fundação” é totalmente atemporal, não é isso, mas que esta produção literária consegue impulsionar discussões valiosas na contemporaneidade em termos da política, da Ciência, economia, das religiões e da educação, só para começar. Além disso, Asimov antes de escritor foi um pesquisador, era Bioquímico, conhecedor profundo das Ciências Exatas, e versado nos fluxos das tecnologias. Também dominava os conhecimentos da astronomia de seu tempo. Ele foi um homem do seu tempo histórico-cultural, influenciado por uma sociedade diferente da atual, e isso deve estar bem visível em nossas considerações diante dessa obra literária, que não finaliza neste volume, pois ainda há uma sequência em “Fundação e Império” e “Segunda Fundação”. Isso é perceptível no transcorrer dessa narrativa inovadora, pois ela traz os diálogos como foco até mesmo para descrever os cenários onde a história se desenrola, sendo assim, as longas descrições, muito comuns nas escritas de outros autores literários, quase não aparecem, o que diga-se de passagem favorece o fluxo narrativo e conecta os leitores com a história. Ressalte-se que Asimov enfatiza os saltos temporais que ocorrem ao longo do texto em decorrência das “crises Seldon”, que não explicarei, leiam o livro. Os personagens são importantes no desenvolvimento do texto, não são meros coadjuvantes, mas também não ocupam o protagonismo principal, que pertence ao tempo; que desafiador para um escritor! Conhecedor da História, que utilizou de forma inteligente, Asimov proporciona intertextualidades com a “a queda do império romano”, a “Revolução Francesa”, as “Revoluções Industriais”, apresenta descrições do Totalitarismo, do Liberalismo e do Iluminismo. O texto nos convida a discutir as relações sociais, os diferentes tipos de preconceitos, a necessidade da energia limpa para o desenvolvimento da sociedade; aponta para uma educação que não desmereça o conhecimento científico, estimule a pesquisa e o torne acessível à todos; o utilitarismo deve ser coadjuvante. Saber é poder!! Isso fica muito evidente, pois a trama nos apresenta desde o seu início o confronto entre um Império vasto e orgulhoso, e a Fundação, que exilada se ergue em Términos, e a base desta está na valorização da Ciência. “Fundação”, não se constitui em uma obra perfeitinha, sem defeitos, ela os tem; também não será bem aceita por todos igualmente, isso depende do gosto literário de cada um, da sua subjetividade. A sua compreensão dependerá dos “óculos” de cada leitor, ou seja do repertório que cada um possui, construídos culturalmente, socialmente e academicamente no processo de formação.
Asimov faleceu em 1992, com a genialidade que possuía fico imaginando que outras obras de ficção científica ele nos proporcionaria... Vamos para "Fundação e Império"!