Ser e Tempo

Ser e Tempo Martin Heidegger




Resenhas - Ser e Tempo


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Cristian 22/09/2014

Tradução indispensável ao estudioso
Recentemente um skoober solicitou-me mais informações sobre qual a melhor tradução de Ser e Tempo, qual ele deveria escolher. Isso me motivou a revisar e atualizar essa resenha, tendo como objetivo esclarecer sobre a presente tradução de Fausto Castilhos frente às demais que pude confrontar enquanto realizei minha pesquisa de mestrado em Heidegger.

Uma primeira coisa que devemos ter em mente quando estamos tentando decidir qual a melhor tradução de uma obra filosófica é saber para qual finalidade a leremos. A escolha de traduções de uma obra filosófica depende muito, na maioria dos casos, de saber para qual o objetivo a estamos lendo. O que digo aqui vale em grande parte para traduções de qualquer obra, não somente da filosofia, é claro; mas a especificidade da filosofia leva as boas casas editoriais a solicitarem a tradução para algum estudioso no autor a ser traduzido. Isso reduz os problemas de tradução. Não basta saber a língua do autor, é preciso compreender minimamente seu pensamento para traduzi-lo. Então, uma primeira dica é saber se o tradutor tem experiência na filosofia do autor. No caso de Ser e Tempo, as traduções que temos em português, da ed. Vozes e Unicamp, foram todas realizadas por pesquisadores na obra do alemão. Qual a melhor? Aqui entra a pergunta: qual seu objetivo com a leitura?

Se você só quer conhecer o que disse o filósofo porque tem curiosidade, por já ter ouvido falar. Recomendo a tradução da Márcia de Sá - ela é mais amigável. Mas que seja a última edição corrigida (a de 2012). Mas se você é estudante, pesquisador, que quer se debruçar na obra do filósofo alemão, então a tradução para você é a de Fausto Castilhos. Explico o porquê disso:

Temos um problema com nossas traduções de Ser e Tempo para o português, ainda que tenham sido realizadas por excelentes especialistas. A tradução mais fácil de encontrar é a da Márcia de Sá Cavalcanti Schuback; porém ela tem muitos problemas mesmo, problemas quanto a fidelidade ao texto em alemão. A outra edição, recente, corrige muito desses problemas; mas ainda deixa a desejar. Já a tradução de Fausto Castilhos (falecido em 2015), é uma referência em Heidegger, pois o tradutor estudou com Heidegger.

É possível perceber uma diferença impactante na tradução de Fausto Castilho frente a da Márcia. A edição que saiu pela ed. Vozes é bilíngue e Castilhos levou 20 anos para fazer essa tradução. Dá para imaginar o esforço e dedicação desse trabalho. Porém, ainda que a tradução seja muito fiel ao alemão e às expressões heideggerianas, ela perde quase que toda a inteligibilidade no português. É uma tradução dura, pesada, literal. Isso mantém a fidelidade para com as palavras do alemão, mas sacrifica a compreensão. Daí que ler em conjunto com a tradução da Márcia de Sá pode ser muito útil, já que a tradução dela se esforça em dar compreensão enquanto sacrifica a fidelidade. Se for possível para você ter acesso a ambas traduções, eu te sugeriria essa opção. É por essa razão que digo que temos um problema com as traduções de Ser e Tempo. Os tradutores são competentíssimos, sem dúvidas; mas a obra do alemão não se deixa traduzir facilmente. É como traduzir poesia, algo sempre se perde na versão. É possível apreciar em uma leitura de fruição; mas, se se quer estudá-la, é preciso ler mais de uma tradução.

Claro, no caso de alguém querer pesquisar ou se aprofundar em Heidegger, não terá como fugir de ler outras traduções em outras línguas, inclusive (se pesquisa acadêmica) ler o original em alemão.

Tenho minhas reservas com essa tradução do Castilhos em algumas decisões de tradução. Se as tiver em mente, isso pode ajudar. Algumas delas poderiam ser revistas em uma 2ª edição, mas o tradutor faleceu em 2015. Por exemplo, a opção de Castilhos de traduzir "weltlichkeit" por "mundidade" ao invés de "mundaneidade"; ou ainda uma inversão que o tradutor faz dos conceitos de existencial e existenciário. Onde em alemão está um conceito ele verte para o outro e vice-versa. Mais ainda forte é a versão de "Verstehen" para "entender" ao invés de "compreender". Isso pode levar a confusões. Na linguagem do dia-a-dia, não faria diferença, mas é uma distinção importante em filosofia. De qualquer forma, isso pode ser o detalhe do detalhe para quem não é pesquisador e poderia ser ignorado tranquilamente.

Contudo, se alguém quiser aprofundar a pesquisa em Ser e Tempo, recomendo ler também as traduções para inglês (as duas mais notórias: a do Stambaugh - mais antiga - e a do Macquirre). Notável é a tradução para o espanhol de José Gaos: excelente! Consegue aliar fidelidade à compreensão do texto. Aliás, recomendaria ler no espanhol se possível a primeira vez ou usá-la como apoio principal nas dúvidas de entendimento. Obviamente o pesquisador sério teria de ir ao original em alemão, mas daí já não precisaríamos de todo esse papo sobre traduções se você domina o vernáculo do filósofo.

Detalhe (só para lembrar) essa edição da Unicamp, de Fausto Castilhos, é bilíngue.
Carlitos 12/04/2022minha estante
Muito obrigado!




Homem Sério 22/08/2021

K.
Ela roubou meu coração, levou meu ser e tempo, queimou por vingança, com o patins e o violão dentro, as cinzas chegaram até a janela do hospital, no quarto pintado eu já tossia sangue e cheirava muito mal. Obrigado.
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