Euflauzino 16/07/2013A miséria debaixo do tapeteToda família tem segredos e se ela for quatrocentona então, nem se fala. Munido dessa máxima é que parti para a leitura de Segredos (Dracaena, 593 páginas). Muita coisa me chamava atenção nesse trabalho vigoroso de Bolivar Soares.
Li esse livro como se fosse uma novela, não estou dizendo com relação ao formato (algo entre o romance e o conto), mas como um dramalhão televisivo, desses mexicanos mesmo (vou confessar que já fui noveleiro, hoje me encontro um pouco afastado da TV, mas ainda tenho um fraco pela atração), talvez por causa do prefácio escrito por Aguinaldo Silva (ele mesmo, o autor), um mestre desse segmento.
É claro que as quase 600 páginas do livro poderiam ser adaptadas para a telinha, mas nem de perto conseguiria passar toda a visceralidade, ou até poderia, mas fatalmente seria censurada em algum momento, sabemos como a TV aberta ainda é um entretenimento extremamente conservador (tirando a parte de mulheres seminuas que aparecem para levantar o ibope).
Vejamos então o porquê de minha ligação do livro ao dramalhão: Luiza é uma mulher refinada, linda e com sangue nos olhos, que resolve fincar moradia em Gramado para solucionar a morte de sua irmã. Para isso não mede esforços para descobrir quem teria levado sua irmã a óbito. Infiltra-se na tradicional família Souza e Lima, desvendando segredos, descobrindo fraquezas. Porém, o que não é de se espantar, apaixona-se por quem ela mais deveria odiar e sua vingança perde todo o sentido.
É ou não é parecido com uma novela mexicana? Uma única mulher, uma força destrutiva colocando na berlinda uma família com poder e tradição. A luta parece desigual, mas nada é impossível para quem quer vingança.
No começo eu estava animado, mas com o tempo fui ficando um pouco esgotado com o artifício utilizado pelo autor para manter o leitor atento. Queria algo que me surpreendesse, algo que me fizesse tomar partido, mas não consegui me afeiçoar a nenhuma personagem. Não torci por ninguém e isso acaba tornando a leitura arrastada.
Gosto de caracterizações rápidas, mas aquelas que deixam um caráter dúbio na personagem, achei todos muito planos, salvo raras exceções. Sobre a grande matriarca:
“... Era uma vitoriosa. Os 62 anos de vida foram muito bem aproveitados, com uma vida marcada por poder e glamour. Não se acostumaria nunca com a falta de dinheiro, muito menos com a rejeição social. Chamava-se Mariana Souza e Lima e morreira assim.”
Leia mais em:
site:
http://www.literaturadecabeca.com.br/2013/07/resenha-segredos-miseria-debaixo-do.html