Diego Alves 26/02/2011Trecho do livroPoema de Chris Schatz - Defensor Público Federal de Portland (Descrevendo a vida de um prisioneiro):
Sou um prisioneiro numa terra estranha,
a circunstância de minha vida reduzida a uma janela imprópria para um cão,
um prisioneiro do desespero que não foi causado por mim –
pois eu fui traído.
Quando os soldados do Ocidente me trouxeram para esta confusão de tumbas,
meu coração ainda era jovem,
agora minha barba está cinzenta e a rosa da minha vida murchou,
dia após dia meus captores me testam com suas perguntas,
insistindo que eu seja outro que não eu,
quando respondo, a voz que ouço não é mais a minha,
minha alma se tornou um penacho de fumaça, meu coração – pedra.
Na paisagem lunar de meu quarto solitário
eu caminho em silêncio com o medo seguindo implacável cada passo,
medo não só de ser esquecido, mas de que com o tempo eu mesmo
me esquecerei do ritmo de vida e morte,
do toque da mão de minha velha mãe,
do calor do lar e do leito conjugal,
até minhas memórias se tornaram como caídas num poço seco –
enterradas na areia.
Apenas quando o rosto suave de minha irmã paira no ar
diante de mim,
confortando-me com suas lágrimas, é que me lembro que ainda amo.
De minha cela não posso ver o mar, embora esteja próximo,
seus olhos escuros assombram meus sonhos
e quando rezo ouço sua canção de liberdade – onda após onda.
Um dia o mar se lançará contra estes muros
e os derrubará
e eu flutuarei embora por sobre seu peito
sob o céu azul do dia e o vazio da noite perfurado de estrelas
até ser por fim devolvido às montanhas e vales de meu próprio país,
ao Afeganistão, onde minhas duas queridas esposas
e meus bravos filhos me receberão com sorrisos tímidos e
beijos ternos,
e eu serei de novo um homem, e livre.