r.morel 05/07/2017
Elementar, meus caros: culpado!
1.Alto valor no seguro de vida = altas possibilidades de assassinatos. Basicamente, é por este pensamento que alguns contos policiais de Cornell Woolrich seguem. Seus personagens são guiados pelo dinheiro (e qual criminoso não é?) e motivados pelo sexo. A traição não basta. O outro, marido ou esposa, transforma-se em um obstáculo que precisa ser removido a qualquer custo e, geralmente, o tal obstáculo morre.
2.Dois contos (“Janela Indiscreta” e “Post-mortem”) são histórias policiais de suspense, não utilizam a surpresa como principal elemento. Não descobriremos quem é o culpado (humm… talvez o mordomo?) na última frase do conto. A regra em Woolrich é o suspense irônico, não por acaso Alfred Hitchcock adaptou “Janela Indiscreta” e o jogo com o leitor.
3.Migalhas de pistas são postas em nosso caminho: recolhemos os detalhes incriminadores e acreditamos, gênios do crime, que resolvemos o caso do marido morto com uma facada na testa. Rimos do óbvio e reclamamos do autor: “Essa foi fácil demais” e quebramos a cara dura de sabichão. Antes de comemorar a solução de Sherlock recomendo aguardar as devidas explicações que elucidam o mistério.
4.O que move os heróis de Woolrich é uma obstinação, às vezes irritante, de ser mais inteligente e esperto do que todos. São taxativos em suas considerações e se apegam às suas suspeitas com fé irretocável: são heróis intransigentes.
Trecho de “Post-mortem”: “Em outras palavras, aquilo que parecia ser um assassinato, mas não era, antecipava um assassinato que ainda estava em andamento. Não posso incriminá-lo por nenhum dos dois. Mas, quando ponho o peso de ambos em cima do assassinato que você de fato cometeu, só que não sabia disso até agora, o do tal Tim McRae, eu posso mandar você para a cadeia por um tempo tão longo que não vai ter mais nenhum assassinato para você cometer quando sair de lá. Meio doido, não é? Mas é elegante também. Nosso táxi está esperando”.
5.Para uma (boa) história policial basta divertir; reflexões sobre a vida e o além-vida não importam e não são necessárias; porém, se calharem de aparecer, bem, isso não faz mal para ninguém.
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