Ismael

Ismael Daniel Quinn




Resenhas - Ismael


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Mikaela! 06/09/2013

Ensine a centenas de pessoas o que eu lhe ensinei, e inspire cada uma delas a ensinar a outra centena de pessoas.


É engraçado que nós sempre temos um discurso de impor moral nas ações dos outros; ‘’não beba’’ , ‘’não fume’’, ‘’não use drogas’’ e por ai vai, ou ate um discurso sobre a hipocrisia, mas todos nós somos tocados por ela de alguma forma. Talvez devêssemos deixar um pouco esta hipocrisia de lado e fazer aquilo que a gente quer fazer e ponto. - um pouco confuso, não?! Sim... Mas talvez voce entenda o que quis dizer depois de le -lô.
Afinal, você não precisa pedir permissão pra ser, quem você, quer ser... enfim, deixemos de enrolação, e vamos ao que interessa, o fato é que as vezes ate sem querer julgamos as coisas, e principalmente as pessoas pela aparência, um livro pela capa, então partimos daqui , pra este livro espetacular.

Um grande amigo meu, me super indicou um livro, ‘’Ismael’’ – um livro pode salva a vida de uma pessoa, acredite...- logo fui ver de que se tratava... a primeira impressão que tive ao ler a sinopse foi ‘’Um Gorila, Caramba??!’’ , preconceituosamente adiei por um bom tempo a leitura, quando de repente me deu um estalo, e fiquei a fim dele. Coisa que so se acha em sebo, com um pouco de sorte achei um PDF.
Depois de um bom mês, lendo nas madrugadas de fim de semana, porque odeio ler em frente de uma tela, o meu negocio se resume a páginas, ou seja, papel . Enfim, terminei e com todas as letras uma OBRA-PRIMA.

Agora imagine, voce acorda de manha, pegar o jornal e ao se sentar pra tomar seu delicioso café, se depara com um anúncio que te tira do serio, a ponto de acabar com seu dia, mas ainda sim vai ver do que se trata.

‘’ A primeira vez que li o anúncio, engasguei, xinguei e atirei o jornal no chão. Como nem isso pareceu bastar, apanhei-o de novo, marchei até a cozinha e joguei-o no lixo. Já que estava lá, preparei uma pequena refeição matinal e deixei que o tempo me acalmasse. Comi e pensei em assuntos totalmente diversos. Isso aí. Depois tirei o jornal do lixo e o abri na seção de Classificados Pessoais, só para ver se o maldito anúncio continuava lá, do jeito que me lembrava dele. Continuava.
‘PROFESSOR procura aluno. Deve ter um desejo sincero de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente.’ ’’

‘’ Vocês devem estar se perguntando: por que esse homem está tão indignado, tão amargo? É uma pergunta justa. Na verdade, é a pergunta que eu fazia a mim mesmo.
A resposta remonta a uma época, há algumas décadas, em que eu enfiara na cabeça que tudo que mais queria no mundo era... encontrar um professor. Isso mesmo. Imaginava que queria um professor, que precisava de um professor.
Alguém que me mostrasse como fazer algo que se podia chamar de salvar o mundo.
Idiota, não?’’


Chegando no prédio, no endereço dos classificados, na sala 105 que se encontra vazia, voce entra pra dar uma conferida, e vê algumas janelas, sente um cheiro estranho, uma pequena estante num canto da sala com alguns livros falando de historia,um cadeira estofada também vazia, e um vidro laminado que dava entrada pra outra sala, chegando perto do seu reflexo no vidro voce se depara com outro par de olhos.


‘’ Como a escuridão lhe servia de Fundo, o vidro dessa janela era negro — opaco, reflexivo. Não tentei ver além dele ao me aproximar: era eu o objeto de minha observação. Chegando perto continuei a olhar o reflexo dos meus olhos por um momento. Depois, focalizando além do vidro, vi-me diante de outro par de olhos. (...) A criatura do outro lado do vidro era um gorila dos grandes.’’


Daí voce vai se fazer a mesma pergunta que eu me fiz ‘’ Um Gorila, caramba???! O que eu posso aprender com um gorila?!’’
E eu te respondo, coisa inimagináveis meu amigo!!!

Apenas, te digo que ‘’Ismael’’ é aquele tipo de livro que você dever ter na mala de viagem, na cabeceira da sua cama, pra ler e reler, você sempre vai descobrir uma coisa incrível e entender como as coisas vieram a ser como são,a ponto de estar sentado e de repente ficar tão surpreendido, de ter que dar um salto do sofá, por a mão na testa e dizer ‘’Santo Deus’’ –que FODA!!!


Obs : Não há resenha digna desse livro.
Igor Gabriel 14/10/2013minha estante
Pelos poucos trechos do livro que você colocou deu pra perceber que a escrita é muito boa, além de uma proposta bem fora do comum (o que nos desperta curiosidade para ver se o autor consegue cumprir aquilo que propõe) percebi que é um livro que não só quero ler, mas também preciso ler.
Mais uma excelente resenha.




Vanessa.Issa 13/02/2020

Peguei a recomendação desse livro no canal da Cacá Souza. Ela se emocionou tanto ao falar dele que despertou curiosidade em mim, embora não seja o tipo de leitura que eu costume fazer.

Hoje, após ter finalizado a leitura, entendi o sentimento dela. É muito lindo mesmo. Essa fábula me fez questionar muitas coisas sobre a nossa origem, nosso espaço, e principalmente refletir sobre muitos comportamentos humanos péssimos que estão nos levando para um futuro muito complicado.

Algumas coisas que o gorila diz nunca tinham passado pela minha cabeça. E isso me deixou triste, pois sempre pensei que eu fosse uma pessoa muito consciente da nossa condição. Agora vejo que ainda tenho muuuuuito a aprender e a mudar em mim. Mas, pelo menos, estou aberta a aprender e a levar essa mensagem pra outras pessoas também.
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Mama 23/04/2020

Leitura necessária em tempos sombrios!
Faz um bom tempo que li esse livro maravilhoso, inclusive pretendo reler esse ano. Mas o que tenho a dizer é que esta obra é perfeita! Chorei, refleti e nunca mais fui a mesma depois de tantos tapas na cara! Acho que nossa sociedade precisa um pouco mais de filosofia, de leituras que questionem e nos façam sair do conforto da nossa caverna. Indico sem sombra de dúvidas essa leitura tão instigante, não há aventuras pelos sete mares, mas faz nossa mente viajar!
Kathlen 23/04/2020minha estante
Me deu vontade de ler, nunca tinha visto antes. Vou colocar nas metas! Obrigada pela recomendação!


Mama 23/04/2020minha estante
De nada! Espero que goste :)




Robson Barros 18/05/2010

Leia, vale a pena.
Para aqueles que tem um desejo sincero de salvar o

mundo, um livro imprescidivel. Uma belissima fábula do que a humanidade faz e vive e para onde isto está nos levando... no final, fica fácil descobrir a resposta à pergunta chave do livro: "Com o fim da
humanidade, haverá esperança para o gorila?”
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Leonardo Robert 03/03/2009

É uma pena não achar reediçóes desse fantástico livro. Procuro pelos outros livros do autor, que se propõe a descrever a humanidade pelos olhos (distanciados) de um gorila. Vale lembrar que esse livro inspirou um belíssimo filme com Anthony Hopkins: Instinto. Resumindo. Uma obra e tanto.
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fvizeu 21/08/2009minha estante
Olá, Leonardo! Cara, o Ismael foi reeditado em 2007 ou 2008, se não me engano. Até a capa mudou. Continua saindo pela Ed. Peirópolis. Aqui tem todos: http://preco2.buscape.com.br/proc_unico?id=3482&raiz=3482&kw=daniel+quinn



Abração!




Gabriel.Maia 11/02/2023

"O mundo não foi feito para nenhuma espécie em particular"
Ismael é um gorila muito sábio que tem um objetivo: passar seus conhecimentos para a frente com a finalidade de mudar o mundo e tentar interromper o ciclo vicioso de destruição global adotado pela raça humana nos últimos 10 mil anos. Nosso protagonista e narrador, que não é nomeado, passou toda sua juventude em busca de um professor que o ensinasse sobre a vida, e um certo dia, enquanto estava lendo o jornal, encontrou o anúncio de um professor buscando por um aluno que tivesse um desejo sincero de mudar o mundo. Movido pela curiosidade de descobrir se se tratava de charlatanismo barato, nosso protagonista vai ao encontro de Ismael, e aí se inicia uma linda e curiosa jornada pela cultura humana.

Os ensinamentos de Ismael se baseiam na tentativa de desconstruir a cultura enraizada na sociedade humana há 10 mil anos, desde a revolução agrícola, que foi a revolução mais impactante da nossa história. Graças ao sedentarismo, pudemos ter acesso a mais comida e mais estabilidade, gerando assim um aumento populacional exponencial, chegando ao ponto em que chegamos, à beira dos 8 bilhões de humanos. Porém, essa revolução bateu de frente e massacrou os mais de 3 milhões de anos de sabedoria dos caçadores coletores, que, até o momento, haviam vivido uma vida em harmonia com a natureza, respeitando todas as espécies e seguindo as leis da natureza e dos deuses, como é dito no livro. A partir do momento em que começamos a perder essa sabedoria ancestral, que havia norteado nosso modo de viver por tanto tempo, tivemos que começar a criar novos modos de viver e, com isso, veio também o autoritarismo. Enquanto entre povos primitivos (que Ismael denomina como Largadores) cada tribo tinha seu modo de viver e respeitava os outros, nós, os civilizados (Pegadores), acreditamos por toda a nossa vida que deve existir apenas um modo de viver, que esse modo deve ser espalhado por todo o globo e que as sociedades que não adotarem-no, devem perecer.
Além desses problemas sociais, a revolução agrícola também trouxe o começo de nossos problemas ambientais: como o ser humano se considera o centro do mundo e acredita que é o ápice da criação, adotamos uma política de expansão populacional, que depende do aumento constante da produção alimentícia. Essa política gera vários problemas ambientais, entre eles, a diminuição da diversidade. A diversidade de espécies, ao contrário do que muitos pensam, não é importante apenas para sanar a curiosidade humana e divertir as pessoas ociosas em zoológicos; um planeta com 100 milhões de espécies diferentes pode sobreviver e se adaptar a praticamente qualquer mudança ou catástrofe global, o que não acontece se tivermos 100 mil espécies. E nós humanos, na nossa arrogância e mesquinhez, colocamos em nossas cabeças que o mundo nos pertence e que devemos determinar quais espécies vivem ou morrem, assumindo o papel de verdadeiros deuses, destinados a governar o suposto caos que assolava o mundo pré-agrícola. Porém, conforme estamos vendo, esse papel não pode ser mantido por muito tempo, e a cada dia que passa a ação humana faz mais uma vítima direta ou indiretamente, nos deixando cada vez mais órfãos de diversidade.

Gostei muito dos paralelos que o autor faz com a bíblia, explicando-nos sobre as metáforas presentes nas histórias de Adão, Caim e Abel. Fazem muito sentido, historicamente falando, e eu nunca havia visto por esse ângulo. De acordo com ele, Abel representava os povos semitas, antecessores dos hebreus, enquanto Caim representava os primeiros povos agrícolas da região, que começaram seus processos de expansão populacional e, para isso, precisavam aumentar suas terras cultiváveis, invadindo as terras de seus irmãos semitas ao sul. Os semitas, que era povos pastoris, conseguiram resistir parcialmente, e suas lendas chegaram até os hebreus que passaram elas para a frente, tendo chegado até os nossos dias atuais.

Esse é um daqueles livros ao estilo "Sapiens" de Yuval Harari. É simplesmente impossível sair dessa leitura com a mesma visão de mundo que se tinha antes de lê-lo, e esse tipo de leitura é o que mais me fascina. Ele usa e abusa dos diálogos para nos passar suas ideias, e o protagonista faz com que tudo venha mastigado para nós. Ele faz várias perguntas para Ismael, perguntas essas que eu mesmo queria fazer, e isso faz com que pareça que somos nós que estamos sentados na sala ouvindo as explicações do primata gigantesco. Simplesmente inesquecível e essencial.
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Renataellenc 20/02/2023

Espetacular!
Ismael foi sem dúvidas uma das melhores indicações e me fez começar o ano de 2023 (minha primeira leitura do ano) com uma série de reflexões que giram em torno da nossa existência. Seguindo aquela história: "Se cada um fizer a sua parte, teremos um mundo melhor". Farei a minha também em indicar essa obra para que ilumine mais mentes quanto possível for.
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Raquel Lima 25/05/2012

Maravilhoso!
Mas somente para quem tem um desejo sincero de salvar o mundo!!! Em minha formação acadêmica, nunca me foi indicada esta obra, apesar de ter uma formação em educação ... No entanto, após ter lido esta obra descobri que no fundo , enquanto era um " largador" estava sujeita a história contada por eles meus " pegadores/professores". Sinceramente, devorei o livro, em questionamento, em questionamento, fui aluna do Ismael e mais uma que deseja muitíssimo que gorilas e homens sobrevivam...sem um ter que se submeter sua vida ao outro. Um livro muito interessante para ser adotado em várias universidades e lido por seu professores ( o que é mais difícil...)
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Jessica Fiuza 20/09/2013

Traduzido para mais de 20 idiomas, o livro de Daniel Quinn “Ismael – Um romance da condição humana”, também serviu de inspiração para o filme ‘Instinto’, estrelado por Antony Hopkins e Cuba Gooding Jr.

A obra narra a história milenar da dominação humana sobre a natureza, e a relação belicosa do homem com todos os outros seres vivos, discorrendo sobre as diversas formas de exploração e manipulação da terra e suas consequências futuras em nosso ecossistema.

O mais interessante é que a história é contada por Ismael, um Gorila que fora retirado de seu ambiente natural na floresta Africana, para entreter á seres humanos em exposições itinerantes, e que acaba por ir parar em um galpão locado, onde procura por um aluno com quem possa compartilhar seu conhecimento sobre a civilização e a chamada “evolução” humana, atentando para as transformações que se deram com o inicio da agricultura moderna.

Os diálogos entre Ismael e seu aluno estão presentes em quase todo o livro e apesar de possuírem uma ideologia muito profunda, a linguagem simples e o recorrente uso de metáforas simplificam a leitura, o que a torna fácil e envolvente, sem exigir muita concentração por parte do leitor. Sem dúvida, o livro possui uma ótima fruição.

A obra não possui exatidão histórica, mas imerge o leitor em uma intensa reflexão sobre a civilização, questionando valores atuais como o status social e a imagem pessoal como principal cultura da mais valia.

Por diversos momentos é possível se reconhecer como uma das peças desse quebra-cabeça, e ansiar por mudanças. Mas mais importante do que deseja-las, é realiza-las. Nós devemos ser a mudança que desejamos ver.

site: http://tabusp.wordpress.com/2013/01/28/daniel-quinn-ismael/#more-419
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Janos.Biro 17/11/2017

Um resumo de Ismael, de Daniel Quinn
O romance “Ismael” (1992), de Daniel Quinn, apresenta como personagem um gorila telepata chamado Ismael, que durante seu cativeiro aprendeu muito sobre a humanidade, e que procura um aluno humano para passar seus conhecimentos. É o primeiro livro de uma trilogia que inclui “A história de B” (1996) e “Meu Ismael” (1997). “Além da civilização” (2000), que não é um romance, mas um livro de textos curtos, de certa forma complementa a trilogia. É complexo falar da trilogia como um todo, porque o primeiro livro se diferencia demais dos outros. Quinn se recusou a resumir Ismael, dizendo que não é “esse tipo de livro”, mas a teoria por trás dele pode ser exposta de forma clara em algumas páginas. Compreender essa teoria e suas implicações, porém, exige mais esforço.

A tese central de Quinn é que a civilização é uma prisão. Estar preso à civilização significa ser compelido a manter o processo de avanço da cultura civilizada, custe o que custar. Ao mesmo tempo, a civilização “mais ou menos nos compele a prosseguir destruindo o mundo para continuar vivendo”. Para Quinn, nós destruímos o mundo por estarmos presos à civilização, e deixar de destruí-lo implica em superar a civilização, abandonando esta cultura em troca de uma cultura sustentável.

Quinn afirma que a cultura civilizada foi construída num processo histórico que tem início definido: o advento da agricultura, ou de um tipo de agricultura chamada por ele de agricultura totalitária. Significa que nem sempre foi o caso dessa cultura existir, e por isso não é necessário que ela continue a existir. Para Quinn, povos primitivos são exemplos de culturas sustentáveis, logo não é humanamente impossível viver de forma sustentável. Quinn pretende anunciar que, sendo a civilização uma invenção humana, e não uma manifestação do destino do homem, ela pode ser abandonada e substituída por uma invenção melhor.

Mas por que o homem iniciou a civilização? Quinn interpreta o mito judaico-cristão de Adão e Eva como se o pecado original fosse pensar que podemos ser deuses, isto é, escolher entre o bem e o mal, o que seria uma atribuição exclusivamente divina. Ele usa também o mito de Caim e Abel para dizer que os caucasianos agricultores regaram seus campos com o sangue dos semitas pastores. E usa a teoria da evolução para dizer que o segredo dos povos primitivos é que eles seguem a “lei da vida”, que é como uma lei biológica que permite a sustentabilidade de uma espécie.

Por um lado, a cultura seria uma prisão porque somos compelidos por ela a fazer algo que não queremos: destruir o mundo. Por outro, ela é resultado do nosso desejo de sermos deuses, isto é, não ter limites. Quinn diz que nenhum de nós quer destruir o mundo, e, no entanto, cada um de nós contribui com essa destruição diariamente. Mas Quinn acaba se voltando para a ideia de que existem desejos humanos genuínos, e que basta termos a liberdade para exercê-los.

Ismael procura um aluno com o desejo sincero de salvar o mundo. A dificuldade aqui é compreender o que significa estar preso a um processo destrutivo que ao mesmo tempo visa o progresso. O que significa estar preso ao desejo de poder e ao mesmo tempo ter o desejo de salvar o mundo? O verdadeiro objetivo é a sustentabilidade ou a liberdade?

Para Quinn, as revoluções que fizemos em busca de liberdade falharam em nos libertar porque não fomos capazes de encontrar as paredes da prisão, ou seja, identificar em que exatamente consiste nossa prisão. Então, o que realmente nos impede de parar de destruir o mundo? Seria a incapacidade de definir o processo ao qual estamos presos?

A definição do processo é dada historicamente, usando um espectro mais amplo da história humana. Assim, Quinn critica um suposto “vazio da pré-história”, a ideia de que nada aconteceu no período que antecede a cultura que chamamos de civilizada. O que ele aponta é que a pré-história não é vazia, nela ocorreu algo muito significativo: sobrevivemos, o que quer dizer que tivemos sucesso evolutivo, isto é, vivemos tão bem quanto qualquer outro primata. Partindo do ponto de vista biológico, não há porque esperar algo melhor que isso.

Para Daniel Quinn, portanto, o homem nunca viveu fora da história. Afirmando que os “pensadores basilares da cultura” não sabiam como o homem teria vivido fora da cultura civilizada, Quinn critica a concepção determinista segundo a qual o avanço da cultura civilizada seria o resultado inevitável da história e da evolução humana. Ele critica a ideia de que “o homem daquela ficção conhecida como pré-história atingiu nossa consciência cultural como uma espécie de desencadeador de um processo muito, muito lento, e a pré-história tornou-se uma sequência de pessoas desencadeando um processo, lento, muito lento para se tornarem agricultores e criadores de civilização”.

O ponto central de Quinn é apontar para o modo de vida baseado na agricultura como uma cultura própria, distinta das outras culturas, que se caracteriza pelo acúmulo e pela expansão. Estudar a história da humanidade centralizando-se na história dessa cultura agrícola seria comparável ao geocentrismo, que colocou o planeta terra no centro do universo. Ou seja, Quinn tenta tirar nossa cultura do centro do universo histórico, para colocá-la como inimiga de todas as outras culturas. “Em poucas palavras: a ideia de Revolução Agrícola é que há cerca de dez mil anos as pessoas começaram a abandonar a vida de caça e coleta em favor da agricultura. Essa afirmação é um equívoco em dois planos profundamente importantes. Primeiro, ao sugerir que a agricultura é basicamente uma coisa só (assim como a caça-coleta é basicamente uma coisa só). Segundo, ao sugerir que essa única coisa foi adotada pelos povos do mundo inteiro mais ou menos na mesma época”.

Quinn diz que somos constantemente coagidos pela voz da “Mãe Cultura” a pensar que a nossa história é a história da humanidade. Então, Quinn introduz termos novos para lidar com a questão. Ele chama o nosso tipo de agricultura de “agricultura totalitária”, o que isenta outros povos com culturas agrícolas, mas que nunca formaram impérios. A agricultura totalitária se caracteriza pela produção exclusiva de alimentos para seres humanos, ou da transformação incessante e crescente de biomassa em massa humana, o que se relaciona ao fenômeno da superpopulação. Por isso, Quinn associou a sua crítica a uma tese sobre produção de comida e crescimento populacional. Ele diz que o problema de Malthus foi dizer que não haveria produção suficiente para o excedente populacional, enquanto seu próprio problema é que, embora a produção possa acompanhar o excedente populacional, o planeta não suportará tamanha produção de alimento exclusivamente humano. Ele indica a extinção massiva de espécies nesse ponto: “Com o fim do gorila, haverá esperança para o homem?”.

Este crescimento humano depende do acúmulo de recursos e retira o homem dos ciclos sazonais de fartura e fome. É este processo que gera expansão de um modo de vida específico pelo globo, destruindo outras culturas. “Essa expansão e essa obliteração de estilos de vida continuam sem interrupções pelos milênios que se seguiram, acabando por chegar ao Novo Mundo no século XV e continuando até o presente momento em áreas remotas da África, Austrália, Nova guiné e América do Sul”.

A destruição do mundo, portanto, é resultado da criação de um tipo de economia, baseada no crescimento. Para Quinn, portanto, essa economia deve mudar. Ele não se preocupa muito com as questões éticas que permeiam esse processo. Para ele, trata-se de “mudar de mente”, e “mudar de mente” significa, nesse caso, abandonar uma estratégia de acúmulo e adotar uma estratégia de “competição limitada” ou organização tribal, supondo que esta seria uma forma mais eficaz de realizar os desejos humanos. As pessoas têm que querer mudar por acharem mais vantajoso, e não por qualquer outro motivo.

Um dos pressupostos de Quinn é que o homem está em continuidade com a natureza, sendo parte integrante dela como qualquer outro animal. Ele contrapõe isso à ideia de superioridade humana. Mas não entra no problema da dicotomia entre cultura e natureza: se o homem está em continuidade, porque a civilização não poderia ser uma continuidade do processo evolutivo do homem?

Ele também associa a história humana a uma encenação, indicando que o significado da vida é criado dentro das comunidades, e a grande questão é se este significado é satisfatório para seus membros ou não. Seu ideal de vida primitiva gera controvérsia: “Não estão agitados pelo tédio e a revolta, não estão perenemente debatendo o que deveria ser permitido ou proibido, nem se acusam uns aos outros por não viverem de modo correto, nem sentem pavor de seu vizinho, nem enlouquecem porque suas vidas parecem vazias e sem sentido, nem precisam se estupidificar com drogas para suportar os dias, nem inventam uma nova religião a cada semana para terem algo a que se agarrar, nem estão sempre buscando algo para fazer ou em que acreditar que torne suas vidas dignas de serem vividas”.

Ao mesmo tempo, a questão de Quinn não é exatamente a reconexão com a natureza, a eliminação do Estado ou o regaste de valores autenticamente humanos. Trata-se de levar uma vida satisfatória, seja como for, com ou sem tecnologia, tomando os povos primitivos como exemplo de “sistema funcional”. Em sua crítica à religião, Quinn irá dizer que os povos primitivos eram felizes sem nossas religiões, logo, não precisamos delas para ser felizes. A história desses povos é uma história que “deu certo”, porque seguiu certas leis de construção de culturas. Sua proposta se resume em construir outra cultura que siga essas leis, dadas pela própria natureza.

De certo modo, sua proposta tem um caráter profundamente econômico. Ele julga poder mudar um sistema de transação de produtos por um sistema de transação de “apoio”, ou seja, energia humana. Ele às vezes parece operar com a variável da “dádiva”, mas às vezes também com a ideia de barganhar diretamente com serviços, conhecimento e habilidades. Isto, segundo ele, geraria igualdade, e não se aproximaria nem do capitalismo nem do socialismo. Então, poderíamos fazer exatamente o que queremos fazer, realizar nossos desejos com mais eficiência, porque não haveria um sistema nos compelindo a acumular coisas para poder viver. “O capitalismo foi apenas a expressão mais recente de uma ideia que surgiu há dez mil anos com a fundação da sua cultura. Os revolucionários do comunismo internacional não se aprofundaram suficientemente para realizar as mudanças que sonhavam. Eles pensaram que poderiam parar o carrossel se capturassem todos os cavalos. Mas, claro, os cavalos não faziam o carrossel girar. Os cavalos eram apenas passageiros, como todos vocês.".

A ideia é que os outros falharam porque não criaram uma nova estória ou uma nova cultura na qual se inserir. Essa nova estória, no entanto, deve cativar os civilizados, apelar aos desejos, e então se espalhar pelo globo. Quinn cita o iluminismo e o renascimento como exemplo de movimentos que deram certo. Talvez por isso ele tenha incentivado a divulgação de suas ideias como princípio de ação em direção à mudança.

Porém, duas décadas depois, qual é o lugar da trilogia de Daniel Quinn na vida de quem o leu? Para mim, Quinn apontou para uma direção intrigante, que me levou para ideias às vezes equivocadas, às vezes interessantes, às vezes confusas. Não é a leitura que eu recomendaria hoje, mas é uma que toca, ainda que de forma inapropriada, nos assuntos que eu continuo debatendo até hoje, ainda que sob uma perspectiva diferente.

site: http://www.janosbiro.com.br/post/100347460569/um-resumo-de-ismael-de-daniel-quinn
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Paccelli 12/02/2009

fabuloso
Imagina um anúncio de jornal: "procura-se pessoa interessada em salvar o mundo". Você atende ao anuncio e se vê dentro de uma sala, diante de um GORILA. O peludo se comunica com vc E LHE PROPORCIONA UM CURSO INTENSIVO DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA (... e História, e Filosofia, e Arqueologia, e...). Quer mais? Leia esse livro RÁPIDO...
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Viky.Lorenna 25/05/2023

Surpreendente
Outra forma de pensar e ver o mundo.
Inspirou o filme Instinto com o Anthony Hopkins e Cuba Jr.

Fiz um ranking dos 20 mais da vida!
- 25.05.2023:
Esse ficou em 13o lugar.
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Bruna 29/08/2019

“Descansar ou ser livres
Vivemos neste planeta que estamos destruindo — e enquanto pronuncio essa frase, tenho em mente maravilhas. Penso no mar Egeu, nas montanhas cheias de neve, na vista sobre o Pacífico que se tem num cantinho da Austrália, penso em Bali, nas Índias, nos campos da França, que estamos transformando em desertos. Tantas maravilhas em vias de extinção. Penso que deveríamos ser os jardineiros deste planeta. Teríamos que cultivá-lo. Cultivá-lo como ele é e pelo que é. E, a partir daí, encontrar nosso lugar, nossa vida. A tarefa é enorme. Poderia absorver grande parte do lazer das pessoas, liberadas de um trabalho imbecil, produtivo, repetitivo etc. Só que isto está muito longe não só do atual sistema quanto da imaginação dominante. O imaginário da nossa época é o da expansão ilimitada, é a acumulação de bugingangas: uma tevê em cada quarto, um micro em cada quarto… isso é que é preciso destruir. É nesse imaginário que o sistema se apóia. A liberdade é difícil. Porque é muito fácil a gente se deixar levar. O homem é um animal preguiçoso. Há uma frase maravilhosa de Tucídides: “É preciso escolher: descansar ou ser livre”.

Esse pequeno trecho, extraído do texto de Cornelius Catoriadis, publicado em dezembro 1, 1999 e disponibilizado pelo sitio do Le Monde diplomatique, é uma pequena síntese da pretensão da obra “Ismael: um romance sobre a condição humana”.

A história se inicia com o narrador se deparando com o seguinte anúncio do jornal matutino: “Professor procura aluno. Deve ter um desejo sincero de salvar o mundo. Candidatar-se pessoalmente”.

O narrador desta história nos revela que, durante toda sua adolescência, procurou de forma incessante por um professor que o guiasse em seu desejo sincero de salvar o mundo, sem êxito, infelizmente. Quem nunca, não é mesmo? Recobrou, supostamente, sua lucidez, muito embora tenha formado uma cicatriz em seu peito, resistente e dolorosa.

Gostaria de me adiantar e deixar só pontuada a nota distintiva deste livro: cada uma de suas passagens transparece sinceridade, dando ao livro um gosto maravilhoso e único de sensibilidade que há tanto tempo eu não me deparava (seja nas leituras, seja na vida).

Pois bem, chegando ao local indicado, o narrador se depara, novamente, com algo surpreendente: seria seu professor um gorila? Não apenas seria seu professor um gorila, como conseguiria se comunicar com ele através de uma forma não usual de comunicação – a telepatia.

Confesso que, de início, achei a situação absurda e não consegui compreender, de todo, o motivo pelo qual seria o professor um gorila, ainda mais um gorila que se comunicava por meio da telepatia. Outra passagem também chamou minha atenção, muito embora não tenha causado o mesmo espanto que a primeira – refiro-me àquela em que o narrador menciona que, num momento raro, após um de seus encontros com o professor, resolveu caminhar por caminhar, sem rumo específico.

Felizmente, há um bom tempo atrás, tive a oportunidade de, assim como o narrador, me deparar com um artigo com os seguintes dizeres, aqui reproduzidos sucintamente:
"O silêncio é a expressão mais verdadeira e efetiva das coisas inomináveis. E a tomada de consciência de que há determinadas experiências para as quais a linguagem não serve, ou que a linguagem não alcança, é um traço decisivo do conhecimento.
(...)
E por isso o caminhar, como o silêncio, é uma forma de resistência política. No momento de sair de casa, de movimentar-se, você de imediato se vê diante da interferência de critérios utilitaristas que evidenciam perfeitamente aonde você deve ir, por qual caminho e por qual meio. Caminhar porque sim, eliminando da prática qualquer tipo de apreciação útil, com uma intenção decidida de contemplação, implica uma resistência contra esse utilitarismo e, ocasionalmente, também contra o racionalismo, que é o seu principal benfeitor. A marcha lhe permite advertir como é bonita a Catedral, como é brincalhão o gato que se esconde por ali, as cores do pôr-do-sol, sem qualquer finalidade, porque toda sua finalidade é esta: a contemplação do mundo. Frente a um utilitarismo que concebe o mundo como um meio para a produção, o caminhante assimila o mundo que as cidades contêm como um fim em si mesmo. E isso, claro, é contrário à lógica imperante".

O primeiro trecho, acima reproduzido, felizmente, abalou um tiquinho do meu ceticismo quanto à forma de comunicação entre o narrador e o gorila. Fiquei extremamente cativada com a escrita – me pareceu tão genuína – que fiquei a pensar, portanto, que, de fato, algumas experiências não podem ser integralmente captadas pela linguagem, tal como convencionalmente conhecemos, de modo que a telepatia esboçada no livro me pareceu mais verossímil, uma ideia até mesmo romântica e sensível – novamente a acompanhar a tendência tão bonita da obra.

Como se tudo conspirasse para o mesmo sentido, na minha playlist de músicas me deparei com “Blowing in the wind”, de Bob Dylan (performada especificamente por Peter, Paul e Mary – se se interessar, procure no youtube! Prometo que você não vai se arrepender). A música deixa questionamentos semelhantes aos propostos por Ismael: a resposta está soprando no vento porque se encontra estampada em nossos narizes ou porque, assim como o vento, tratar-se-ia de algo intangível? Acredito, também, que a própria telepatia deixa no ar essa ambiguidade.

Já dizia Clarice Linspector, em “A Hora da Estrela”, que só questiona quem se sente incompleto. Como manter a esperança acesa num mundo onde a lógica imperante se resume em não-diálogos ou, se existentes, numa linguagem predominantemente violenta e parcial?

Acredito que a resposta esteja estampada no primeiro trecho do artigo que transcrevi logo no início do texto, ou seja, “é preciso escolher: descansar ou ser livre”. Desejar a liberdade é desejar – e aqui, concordo perfeitamente com a fala de Alex, como também gostava de ser chamado “Supertramp” (dica de leitura: Na natura selvagem – outro livro extremamente sensível) –, antes do amor, antes da fama, antes da fortuna, a verdade. E a sua busca será, sempre, permanente.

Mais um trechinho de Fernando Birri (a louca das citações) que nos traz esperança e, acredito, que complementa as ideias pinceladas:
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Possível, então, fazermos a seguinte subclassificação – dentre os pegadores, temos 1) aqueles que se sentem completos, satisfeitos pela cantiga da Mãe Cultura, isto é, aqueles que se propuseram a descansar; e 2) aqueles que se sentem incompletos, ou seja, aqueles que resistem à lógica consumista (lógica da agricultura totalitária explicada pela obra) e que insistem em se tornarem verdadeiramente livres.

Li este livro e tive estes pensamentos há, aproximadamente, um ano atrás. Mas, frente ao desmatamento na Amazônia, me recordei desta obra e de algo que uma amiga me disse sobre Ismael: este livro é pouco conhecido mesmo, mas dizem que esta obra só chega a você quando você está verdadeiramente preparado para compreendê-la. Espero que esses pequenos pensamentos e citações inspirem mais pessoas a ler esta obra e lutar em prol de direitos que ultrapassem apenas o ser humano, abrangendo todos os seres vivos.

site: @lovegood7
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Kathe 23/05/2021

Genial, emocionante e inspirador! Tenho vontade de indicar pra todo mundo, pois abre a mente de uma forma muito única.
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Carol 16/01/2022

Leitura fundamental para suportar o fim do mundo!
Ler esse livro no início de 2022 confesso que tem seu valor. Economizei para não acabar rápido.
Fui uma feliz aluna de Ismael, que me trouxe muuuuitas reflexões, questionamentos, algumas risadas (de nervoso) da estupidez humana disfarçada de avanço e evolução!
Ameba-homem, o mundo não é seu, você é do mundo! Aquela leitura que inevitavelmente te transforma, já que uma mente que se abre não pode retornar ao seu tamanho original! Leia!
O clipe do Pearl Jam ?Do the evolution? foi inspirado neste livro!
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