Francine122 18/01/2024
Obrigada, Guy Debord
"Nas sociedades frias, para continuar humanos, os homens devem permanecer os mesmos."
Eu nunca pensei tanto na vida. Eu li e reli os mesmos trechos várias vezes, às vezes conseguia entender algo, mas às vezes precisava revisar porque parecia que não era o mesmo. E, apesar de não ter entendido completamente o livro, o que entendi já é bastante útil.
Essas relações que temos mediadas por imagens nos torna impotentes, espectadores hipnotizados e alimentados por uma falsa consciência que não nutre nada, nos deixando raquíticos de corpo e alma. E essa visão materialista, idealista e positivista de mundo que enche o saco, bicho. É preciso ter para ser e, como se não bastasse, parecer. Viver de aparência, de duas faces, de superficialidades, de espetacularizações. E essa sociedade que construímos e desconhecemos, nos torna estranhos. Estranhos e preenchidos de um juízo pouquíssimo capaz de julgar. A mais-valia aqui, além de econômica, é também temporal e congela nossa história. Revisita o passado dos poderosos, pune o presente e condiciona o futuro o denominando "irreversível". E dessa expropriação somos os acessórios, os produtos, as mercadorias, o novo arcaico e o invisível em outdoors propagandistas. Qual a nossa história? Você trabalha ou sobrevive ao trabalho? Por que a civilização está ficando cada vez mais doente e silenciosa? E que abstração e inacessibilidade acerca do conhecimento é essa? É preciso tornar ordinário o extraordinário. A cultura, a arte, a filosofia, a história... Para quem produzimos e de que forma? A teoria não vale de nada sem prática. A filosofia não serve de nada se você cessa e deixa ela pensar por você. A arte não serve de nada se não representa quem somos e grande parte das vezes só será vendida o mais caro possível. Os livros não servem de nada se deixados na sua estante empoeirando e não debatidos com outras pessoas. As músicas não servem de nada se ousam falar por nós e (é muito fácil amar usando o amor do outro) e os filmes não servem de nada se usam da inquietação para lucrar e trazem o lema: "O que aparece é bom e o que é bom aparece." Se Debord estivesse vivo, teria um treco. Um treco daqueles.
Fico imaginando um debate gigante com o Debord e o Nietzsche sobre religião e contemplação do real, o tornando "intangível". Outro do Debord e o Marx sobre a economia quantitativa que separa o trabalhador do que ele produz. E um último do Debord com o Dussel sobre a filosofia autônoma da sociedade aristocrata.
Tive uma overdose de pensamentos intermináveis e fiquei pensando na ausência da minha alteridade e do verme corroendo minha carne enquanto ignoro o que acontece em estado de conformismo e estagnação no sofá. Leiam. Não é ficção, é real e necessário. Assistam ao Show de Truman logo depois. Eu saí do quarto e quase urinei no aparelho de televisão da sala que estava exibindo o BBB. Apenas leiam.