Otavio.Paes 09/11/2020
LA SOCIÉTE DU SPECTACLE (1967)
A palavra ?espetáculo? é derivada do latim ?SPECTACULUM?, que significa ?algo para se observar visualmente, vista?. Também de ?SPECTARE?, ligado a SPECERE, ?ver?, e do Indo-Europeu SPEK, ?observar?.
O conceito atual da palavra já se afastou dos seus inícios, puxando mais para o significado de ?excelente, sensacional, grandioso?.
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Mais importante obra teórica produzida no contexto que precedeu os acontecimentos de Maio de 1968, Precursor de toda análise crítica da moderna sociedade de consumo. Trata-se de uma crítica teórica sobre consumo, sociedade e capitalismo. Um dos principais libelos contra o capitalismo. Uma obra transgressiva.
Debord, criador do conceito ?sociedade do espetáculo?, definiu o espetáculo como um conjunto de relações sociais mediadas por imagens; entretanto ele também deixou claro que é impossível a separação entre essas relações sociais e as relações de produção e consumo da mercadoria. A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens. O papel desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra perfeitamente bem o que Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por imagens. O que permite a caracterização do capitalismo como a sociedade do espetáculo é o caráter cotidiano da produção de espetáculos, a quantidade incalculável de espetáculos produzidos e seu vínculo com a produção e o consumo de mercadorias feitas em larga escala.
Na sociedade capitalista, o poder espetacular está disseminado por toda a vida social, na qual há simultaneamente produção e consumo de mercadorias e de imagens, constituindo-se na forma difusa desse poder, conforme definição dada por Debord em 1967, ou ocorre vinculado à ação do Estado, de forma concentrada, com a produção de imagens para justificar o poder exercido por seus dirigentes. Assim como o conceito de ?indústria cultural?, o conceito de ?sociedade do espetáculo? faz parte de uma postura crítica com relação à sociedade capitalista.
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?A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da ocupação total da vida social pelos resultados acumulados da economia condu.z a um deslizar generalizado do ter em parecer, de que todo o "ter" efetivo deve tirar o seu prestígio imediato e a sua função última.? Enquanto a primeira fase do domínio da economia sobre a vida caracterizava-se pela notória degradação do ser em ter, no espetáculo chegou-se ao reinado soberano do aparecer. As relações entre os homens já não são mediadas apenas pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria de que Marx falou, mas diretamente pelas imagens.
?O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação entre pessoas, mediadas por imagens?. Uma frase que retrata bem isso está presente no filme Beleza Americana, em que a atriz fala: ?não importa ter sucesso, mas sim projetar uma imagem de sucesso?; e ela, no filme, tinha um péssimo relacionamento com seu marido, mas para os outro ela passava uma imagem totalmente oposta. É só abrir o feed das redes sociais que nos deparamos com inúmeros exemplos- usuários que projetam uma vida fictícia; passam filtros de beleza( modificando ou escondendo características de seus corpos), de alegria(estão o tempo todo sorrindo), e o filtro da família ideal( ótimo relacionamento com familiares). Nossa sociedade atual suscita que os indivíduos façam de suas vidas um reality show, com as redes sociais como palco, mesmo, muitas vezes, estes indivíduos não tendo praticamente nenhum talento e conteúdo; daí se vão passear, se vão à uma festa ou mesmo se vão comer algo, registram tirando uma foto com o celular- querem dizer, na verdade, ?olhem pra mim, eu estou aproveitando minha vida", pois não ser seguido significa não existir. Como num trecho da obra: Ele(o espetáculo) nada mais diz senão que ?o que aparece é bom, o que é bom aparece". As pessoas produzem uma imagem ideal de si mesmos- o marketing das nossas próprias vidas É difícil encontrar algo real em nossa sociedade: estamos rodeados por vidas ?fotoshopadas?, por publicidade- tudo é mercantilizado e cercado por imagens. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade. Imagens que não passam duma abstração da realidade.
?E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não é senão a ilusão, mas o que é profano é a verdade. Melhor, o sagrado cresce a seus olhos à medida que decresce a verdade e que a ilusão aumenta, de modo que para ele o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.? (Feuerbach, prefácio à segunda edição de A essência do cristianismo)