spoiler visualizarTaylor 17/12/2023
Teatro, Fascismo, Anarquia e Escuridão
V de Vingança se passa numa Inglaterra que vive um ?futuro? distópico ? o fim da década de 90. Governado por uma ditadura fascista, o povo vive com a constante repressão e vigilância do Estado (tão intensa e eficaz que me lembrou 1984). Minorias sociais e grupos étnicos não-brancos sofreram perseguição e, como fica mais evidente ao longo da história, genocídio.
Dentro desse contexto, surge V. Nosso protagonista mascarado é um personagem bastante incomum: tendo, alguns anos antes, sido vítima de um experimento químico com humanos num ?campo de readaptação? (análogo aos campos de concentração nazistas), V sobreviveu e, além disso, parece ter se tornado tão insano quanto inteligente ? ?parece? porque não fica muito bem explicado se ele já não tinha algo disso antes.
V age, fala e se movimenta de forma que, muitas vezes, parece algo teatral. Às vezes isso pode dar um toque poético à cena, mas também dá um ar trágico em outros casos. Além disso, a simbologia do seu ?nome? é marcante durante toda a obra: ele foi o paciente da sala cinco (V, em algarismo romano), executa sua Vingança, busca iluminar os outros com a Verdade?
Até mesmo Valerie, uma outra personagem que é citada posteriormente como sendo a responsável por escrever uma carta marcante e bastante pesada, que teria sido a razão da epifania de V, ainda no campo de ?readaptação?, tem como sua inicial a letra V. Outro detalhe interessante sobre a simbologia do V é que, se você inverter o círculo com o V no meio, você vai ter algo bem semelhante ao símbolo da Anarquia.
Apesar de ser uma obra fictícia, V de Vingança acaba por nos deixar órfãos de ídolos. Em certo momento da história, V tortura psicologicamente e fisicamente Evey, seu par ?romântico? ? se é que podemos chamar assim. O motivo? Retirá-la da prisão na qual ela vivia, libertá-la, fazer com que ela enxergue a Verdade. A justificativa é suficiente para o perdoarmos?
V destrói todos os principais monumentos e edifícios estratégicos do governo fascista inglês ao longo da obra. Nos momentos finais, quando as pessoas estão conscientes de que os tentáculos do Estado Policial em que vivem não mais conseguem contê-los, tudo vira uma verdadeira barbárie. Evey se assusta e pergunta a V se era aquilo que ele queria, se era aquela anarquia. O mascarado a responde que não, aquilo não era anarquia. Aquilo era caos. O caos era a reação que sucedia o fim da ordem anterior, ainda não era a anarquia.
Depois da morte de V, que tem como seu funeral uma nova e última explosão, Evey acaba tomando o manto de seu antecessor e se torna V. Afinal de contas, não importa o rosto por trás da máscara, V é uma ideia.
Escuridão. No meio do caótico cenário final ? ou ato final, já que, por muitas vezes, a obra parece ter uma estrutura de peça teatral ?, a hq acaba. V de Vingança acaba no meio de uma rua escura e deserta, o detetive caminhando sem rumo com o rosto apático e o cachimbo aceso. Não há final feliz?