spoiler visualizarMarcos 06/07/2023
V de Vingança
V de Vingança é uma hq poderosa dos anos 80. Alan Moore e David Lloyd conseguiram produzir uma maestral obra que traduzisse os sentimentos de revolução e libertação. Na hq, eles trabalham conceitos políticos, retratam a essência humana e as deturpações advindas do poder absoluto. Em meio a um universo soturno, as personagens vão se transformando para poder reagir a tanta opressão. Algumas se adequam ao sistema, outras (poucas) entendem que viver necessita de liberdade, consequentemente, resistência.
Após a Terceira Guerra Mundial, a Inglaterra volta a se estabelecer, porém em um regime ditatorial. Um governo fascista que abomina homossexuais e socialistas, impõe a censura e rechaça qualquer tentativa de oposição ao regime.
O século XX é marcado pelo medo, o Estado vigia constantemente o cidadão e controla a liberdade de expressão. Nesse cenário, a "Inglaterra triunfa!", o governo tem olhos, ouvidos, nariz, dedos e, principalmente, cabeça. Sendo essas partes do corpo, setores estruturais desse sistema.
As pessoas que não se adequam à nova ordem são interrogadas, torturadas, mortas e, até, submetidas aos mais horrendos experimentos nos "Campos de Readaptação".
Fruto desse regime totalitário e opressor, surge um vingador, um ser enigmático e poético de codinome "V". O indivíduo ergueu-se das chamas, de uma quase-morte, agora, renascido como fênix, com capa e máscara, num estilo Guy Fawkes. V inicia sua vingança. Entre explosões e mortes, o Estado sofre ataques diretos. Os cidadãos começam a acordar para a triste realidade em que vivem. Mais do que uma pessoa, V representa um ideal. Durante sua jornada salva uma jovem de homens-dedos. Era Evey, o novo elo de seu plano. V reforça a ideia de que destruindo o regime atual um novo futuro seria reconstruído, sendo Evey uma importante peça desse movimento.
Muitas voltas e reviravoltas acontecem, V continua atacando e desistabilizando o totalitarismo fascista.
Enfim, os principais membros do Estado morrem. V também morre, mas torna-se um símbolo de luta. As manifestações populares se intensificam, a força policial se fragmenta e Evey não deixa a ideia de revolução se extinguir. Era um novo tempo, um tempo de esperança.
V de Vingança é uma hq extremamente sensorial, o leitor envolve-se facilmente na trama, o mistério de V, a perda da liberdade e a luta pela integridade carregam o ávido leitor a lugares de desconforto e de reflexão.
O protagonista convence com sua luta, no entanto é tão doentio quanto o próprio sistema. Evey serve de pano de fundo para as ações de V, mas é uma aliada necessária para a trama, trazendo um respiro final, juntamente com o investigador Finch, eles resgatam a sensação de recomeço.
O segundo tomo parece ser o mais confuso, entretanto, não perde em qualidade, o leitor precisa estar atento para as minuncias dos núcleos das personagens coadjuvantes que vão se colidindo até o momento final.
É inegável o valor literário que V de Vingança tem, consegue ser uma obra bem atual. Ela desenvolve perfeitamente um modelo de sistema totalitário e retrata de forma genuína a ideia da busca pela liberdade