Ettore 17/03/2021
Pós-modernidade e spray
Afinal, quem é Banksy? Se esta é uma pergunta cuja a resposta você não sabe, após este livro continuará não sabendo. Sendo a sua primeira edição lançada em 2005, Guerra e Spray se torna uma obra, quase que obrigatória, para a introdução ao artista que vive no anonimato, mas causa um barulho ensurdecedor e uma gigante identificação.
Lançado no Brasil pela editora Intrínseca, sendo sua última edição feita em 2012, este livro apresenta uma espécie de coletâneas de variadas obras do artista britânico, ou seja, a maior parte do livro são de fotografias de grafites espalhados por todo o mundo. Auxiliando na contextualização dessas fotos, há trechos biográficos escritos pelo próprio Banksy, recortes que abordam momentos de sua vida nos quais fazia sua arte, algumas dessas histórias chegam a ser cômicas devido as situações apresentadas.
A partir do momento em que começa a relatar histórias próprias, Banksy inicia a exposição de suas ideias e, também, ideais naqueles pequenos relatos. Umas das formas que sua arte traz, é a crítica, esta feita evidentemente aos fatores capitalistas nos quais estamos inseridos, assim como as consequências deste sistema, e para fazer essa crítica, tanto em sua arte quanto em seus pequenos relatos, Banksy utiliza de uma ferramenta poderosa que, em grande parte dos casos, quando utilizada tem êxito: a ironia.
Além de comentários próprios do artista, há também recortes de notícias ou comentários os quais ouviu, como por exemplo na página 54 do livro, onde ele relata uma piada que ouviu em um bar, e como fonte coloca: “um cara no bar”. Estes recursos ajudam a contextualizar o que é mostrado na obra, além da enriquecer toda a ideia ali colocada.
Apesar de haver pouco texto, fato que não esperava, pois quando comprei o livro imaginei que seria uma explicação redigida de suas ideias em contexto com suas obras, porém o livro não decepciona (a leitura não se limita ao texto, não é?) e acaba se tornando uma obra quase que autoexplicativa. As críticas são feitas não somente a governos específicos, mas a todo um sistema mundial que visa o lucro e à transformação capitalista que ocorre a todo momento na sociedade, e o melhor disso é ver na interpretação dos grafites mostrados no livro. Ao meu ver, não há maneira melhor de realizar essa crítica, pois todo o trabalho ali produzido está, verdadeiramente, acessível a quem por ali vive, não se fechando aos salões de galerias, lugares que muitas vezes são intencionalmente criados para alcançar um lucro desejado por alguma companhia (Banksy deixa isso bem claro).
É incrível como as fotografias em si já conseguem contextualizar, quase que completamente, com os relatos dado por Banksy. Ao ler esse livro, é possível descobrir como uma pequena parcela de um pequeno momento pode ser enfático na criação de algum componente artístico, ainda mais sendo expressado por uma pessoa que vive no anonimato. Logo no primeiro texto senti uma diferença, pois diante daquele momento me identifiquei com a ideia expressada ali, e seguindo através das imagens e dos recortes esta assimilação foi mais profunda.
Com tudo isso, posso dizer, Banksy é quase que um personagem a parte da sociedade, que visa e expressa suas ideias diante do cenário urbano, enriquecendo-o e, até mesmo, completando-o. Me sinto muito frustrado por estar no meio de tantos artistas grandiosos que complementam a cidade de São Paulo através dos muros, mas não há uma obra de Banksy no meio. Fico mal por terminar esta crítica desse jeito, pois sinto que há muito mais a acrescentar sobre esse livro, e mais ainda sobre Banksy e o que ele representa, mas não quero modificar a sensação e, quem sabe, a identificação de vocês ao lerem esse trabalho.