Bruna Fernández 21/05/2013Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.brNão sei por quê demorei tanto para ler Espíritos do Tâmisa, já que ele algumas das coisas que eu mais gosto nessa vida: história policial, humor, magia, e claro, Londres. No primeiro volume da série do autor inglês, acompanhamos um jovem policial: Peter Grant, um herói fora do comum, com um senso de humor peculiar – cínico, sarcástico, no melhor estilo de humor britânico. Ele é o tipo de personagem que é tão real e palpável que a gente se apega e acaba vendo ele como um amigo. O livro é contado pelo ponto de vista dele e isso dá um toque todo pessoal e animado ao livro.
Grant estava protegendo uma cena de crime em Covent Garden enquanto sua amiga/parceira/interesse amoroso Lesley May foi buscar um café para ambos quando o evento que mudaria a vida do jovem policial de pernas para o ar acontece: um homem se aproxima e revela que viu toda a cena do assassinato que ocorreu de madrugada. O problema? A testemunha é um fantasma.
“- Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava fora? – ela perguntou.
Eu bebi meu café. As palavras “acabei de conversar com um fantasma que viu a coisa toda” se recusaram a sair de minha boca.” – pág 16
A partir daí, Peter descobre que existe um ‘departamento’ meio-que-secreto na polícia que trata de casos que envolvem magia e acaba tornando-se o aprendiz do inspetor Nightingale – que é um dos últimos magos da Inglaterra. Paralelamente à investigações que ele deve fazer com seu inspetor, Peter precisa aprender tudo sobre esse novo mundo que se abre para ele: desde aprender a fazer magia e entender como ela funciona (e como ela é afetada pela tecnologia moderna) até aprender a ler e falar latim. Essa mistura do novo com o antigo, do conhecido pelo desconhecido, do real e do fantasioso é o que torna a história tão original e gostosa de ser lida. O autor soube balancear muito bem esses elementos e usá-los a favor da história.
Como toda boa história com um toque de sobrenatural, temos todo o tipo de criaturas presentes. Vampiros, trolls, deuses, orixás, espíritos… a comparação que vem na capa de que o livro seria como se o Harry Potter trabalhasse CSI quando fosse mais velho, pra mim, caiu como uma luva; apesar do universo bruxo que o autor criou ser completamente diferente do universo de J. K. Rowling. Não existe uma comunidade bruxa, e, algumas pessoas têm o dom da visão (têm habilidade de ver espíritos) e são mais sensíveis para sentir os traços de vestigium – um rastro sobrenatural que permanece no ambiente quando a magia é praticada. E como o personagem principal já é adulto, não temos nenhum pouco do drama adolescente vivido em Harry Potter.
Todos os personagens – tanto os principais como os secundários – são super bem delineados. Fazia um tempo que eu não lia um livro em que todos os personagem são bem construídos. Acredito que o fato do autor também ser roteirista do seriado Doctor Who ajudou na hora da criação. O inspetor Nightingale é um dos meus personagens favoritos, além do próprio Peter, com um jeito todo exuberante de ser. As personagens femininas de Lesley May e Beverly – ambas interesses amorosos do protagonista – também são muito interessantes, sem cair no clichê feminino ou feminista.
Para quem é de Londres ou já visitou a cidade, esse livro terá um atrativo a mais. A cidade, além de ser o ambiente da história, passa a ser quase que uma personagem de tanto que o autor descreve os locais em que os personagens passam. Nomes de ruas, estações de metrô, construções populares, rios que passam pela cidade (principalmente o Tâmisa) são citados a todo o momento. Mas se você nunca esteve na cidade, não se preocupe, isso não atrapalha a leitura. Eu mesma (infelizmente) nunca fui para lá.
O livro foi uma surpresa, o enredo é original e interessante e a capa é um charme a parte: o mapa da cidade de Londres, os respingos de sangue e os elementos (imagens) capturam muito bem a essência da história. Aguardo impacientemente pelo próximo volume da série para acompanhar as novas proezas da dupla dessa detetives magos!
“- Por que se mudou?
- Aparentemente queria morar no subúrbio.
Troll suburbano, pensei. Por que não?” – pág 104