Felipe Novaes 23/09/2015A história fala de um futuro não muito distante, em que a tecnologia domina a vida diária das pessoas através de inteligências artificiais fracas. Tudo muda quando, nos galpões de uma das empresas que pesquisa IAs, surge V.I.S.H.N.U., uma inteligência artificial forte, ou seja, com capacidade cognitiva igual ou superior à dos humanos.
A sigla V.I.S.H.N.U. é uma clara referência à divindade hindu chamada Vishnu, que é conhecido como o Mantenedor, aquele que mantém a realidade funcionando até que Shiva surge para destruir e reiniciá-la. Da mesma forma, o sistema de nuvem da história é responsável por manter outros sistemas em funcionamento, mas tudo vira de cabeça para baixo quando um pane na rede faz com que ele "acorde" e exija uma "encarnação". A IA deseja, literalmente, um corpo. Esse desejo também é outra referência ao deus hindu, uma vez acredita-se que ele assume vários avatares ao longo das eras, para encarnar e andar entre os humanos.
V.I.S.H.N.U agrada aos fãs de ficção científica, especialmente aos interessados em distopias futuristas e discussões sobre IA e a possibilidade de considerar organismos artificiais como seres realmente vivos, o que traz mais outras mil discussões, como o que seria vida.
Graficamente, a revista é primorosa. Adorei o formato quadrado e grande do material, assim como os desenhos em preto e branco e com um aspecto de borrão, lembrando bastante os suibokugas, desejos japoneses feitos com pinceladas contínuas.
Os argumentos do roteiro também são ótimos, só gostaria que tivesse sido trabalhada mais longamente as partes que explicam a natureza da IA Forte e sua relação com a matéria. Espero que isso seja esmiuçado na sequência, que me parece já estar programada.