Eduarda Petry @paginaoito 19/11/2019Uma leitura lenta mas que recompensaNo planeta Solaris, os humanos estão estudando um oceano que dá sinais de ser uma entidade viva, consciente e inteligente. Kris Kelvin, um psicólogo, é chamado para contribuir nessa tentativa de compreender esse ser e prestar suporte à equipe, uma vez que alguns acontecimentos estranhos e inexplicáveis estão acontecendo no laboratório em Solaris. Essas perturbações também afetarão Kelvin, trazendo á tona emoções reprimidas, sentimentos subconscientes e memórias obscuras.
Solaris é um livro que põe em perspectiva o que nós consideramos humano e nossas certezas como sociedade, questionando os limites morais da ciência, as consequências da exploração espacial e o que isso diz sobre a nossa natureza. Para Lem, essa obsessão da raça humana por criaturas além-Terra (sejam elas alienígenas, entidades mitológicas ou deuses criados pela fé) fala sobre o nosso medo de estarmos sozinhos. Da mesma forma, em Solaris, a ânsia dos cientistas de se comunicar com essa nova criatura é um reflexo da necessidade humana de ser compreendido. Buscamos comunicação por que queremos dialogar ou para provar algo? Na nossa arrogância, consideramos que esse ser, maior e infinitamente mais complexo, pode simplesmente não sentir interesse em nós?
Falar desse livro é? complicado. É uma leitura lenta e arrastada, com alguns capítulos que parecem intermináveis e sem propósito algum. No entanto, nas últimas 20 páginas, com a mudança do fluxo de consciência do protagonista, tudo parece se encaixar perfeitamente. A estrutura que Lem constrói é perfeita e sem falhas, nada está ali por acaso. É um livro que até hoje, alguns meses depois de ter lido, continua fazendo meu coração disparar. É engraçado, porque acho que não gostei tanto dele na época como gosto agora. Os questionamentos persistem em mim e, volta e meia, me pego pensando em Solaris. No oceano. No mundo lá fora. Mas mais do que isso, no mundo aqui dentro.