Resenhas - Requiem

Luciana Fátima 09/05/2009

Italiano em Português
Por que um escritor como Antonio Tabucchi – um italiano nascido em Piza – escreveu este texto em português? “Porque uma história como esta só poderia ter sido escrita em português, e pronto”, responde o autor em nota no início do livro, completando que Requiem “precisava de uma língua diferente, uma língua que fosse um lugar de afeto e de reflexão”. E para uma história tão fantástica quanto esta, não poderia haver melhor cenário do que Lisboa.

Um homem está lendo, tranqüilamente, o Livro do Desassossego em uma cidade distante quando, inexplicavelmente, ele vai parar em uma Lisboa deserta e tórrida, apresentada em um ensolarado domingo de verão. Sob um sol incandescente, o homem passa a percorrer vários locais, encontrando pessoas que morreram há muito tempo.

Esses encontros e desencontros representam uma espécie de acerto de contas. O narrador busca respostas que ficaram pendentes em algum lugar do passado. “Tu morreste sem me dizer nada, há anos ando a roer-me...”, zanga o personagem.

Na liturgia, réquiem é a prece que a igreja faz aos mortos. E é exatamente este o significado do livro, uma prece aos mortos do passado; uma forma de resgatar pendências passadas; um passeio onírico pelo mundo dos mortos. Passeio este que culmina com um encontro muito especial. O encontro com Fernando Pessoa!

Já que nesta estranha alucinação tudo é possível, o poeta dá-se ao luxo de filosofar sobre o sentido da leitura: “... não acha que é isso mesmo que a literatura deve fazer, desassossegar?, eu cá por mim não tenho confiança na literatura que tranqüiliza as consciências.”

Um livro que desassossega; que, definitivamente não tranqüiliza as consciências. Em que outro idioma poderia Tabucchi escrevê-lo, senão na nossa querida língua portuguesa?