Cassia 05/11/2012
Um livro muito, muito bom!
Nos últimos tempos, houve uma supervalorização dos contos de fadas, que têm sido republicados, modernizados, analisados à luz da ciência, atualizados,.... e por aí vai.
Num lance genial, a Cosac & Naify decidiu lançar a primeira edição dos Contos de Grimm (1812-1815), traduzidos diretamente do alemão, em uma edição caprichada, em dois volumes muito bonitos, sem todas as notas técnicas contidas no original (mantendo apenas aquelas que julgaram interessantes ao leitor brasileiro). E é um item obrigatório para quem gosta de contos de fadas e boa literatura.
A primeira surpresa do livro é mostrar que, originariamente, essa não era apenas uma coletânea de contos de fadas, mas de outras coisas como fábulas, apólogos e poesias e, principalmente, mista: há coisas ao público infantil, claro, mas há muita coisa voltada para os adultos, também.
Outra surpresa interessante é ver como nem todos os contos receberam um tratamento mais ‘poético’. Alguns foram melhor desenvolvidos; outros, estavam em uma linguagem quase telegráfica, publicados sem maiores firulas, talvez apenas esquematizações do que foi recolhido ao entrevistarem os contadores de histórias da época.
É uma delícia ver como determinadas histórias apresentavam-se completamente diferente do que vemos hoje. Alguns sofreram melhoras com o passar do tempo, pois originariamente foram pouco trabalhados, mostrando evidente potencial para um maior desenvolvimento estilístico. Outros, porém foram amenizados, pois apresentavam um grau de sanguinolência e brutalidade que se adequa pouco à atual suscetibilidade das pessoas. E muitos foram suprimidos por serem fortes demais (e até perversos), como, por exemplo, “Quando as crianças brincaram de açougueiro”, onde um grupo de pequenos tenta imitar o açougueiro e acaba degolando um coleguinha.
Alguns poucos erros de tradução não tiram o brilho da obra.
A minha única critica ao livro seria, talvez, a escolha do artista J. Borges como ilustrador da obra. Talvez o objetivo por trás da escolha de um artista com linguagem estilo cordel fosse dar um ar mais “universal” à obra. Porém, em algumas narrativas mais pesadas, o ar suave e divertido das gravuras arruína a força dramática do que estava sendo narrado.
Um livro recomendadíssimo (mas que não deve ser deixado desavisadamente ao alcance das crianças, principalmente as menores).