Diogo.Cimini 23/02/2023
A busca pela Virtude e o enfrentamento da Morte
Em suma, são diálogos relativamente simples, de fácil entendimento em grande parte (às vezes até divertidos pela forma que Sócrates conduzia os diálogos) e que mostram quem foi Sócrates (claro, da perspectiva de seu discípulo Platão) e a base de que princípios um dos maiores homens que andou na Terra viveu.
O livro começa com uma boa introdução sobre a vida Platão, suas obras e suas ideias. Depois, é dividido em 4 diálogos socráticos desse filósofo, sendo eles:
Eutífron (da Religiosidade):
É uma classica demonstração do questionamento socrático, onde Socrates, entre sua acusação e condenação, debate com Eutífron, um homem dito como religioso e conhecedor dos deuses, sobre o que é a piedade.
Eutífron denunciou seu pai de homicídio e diz estar apoiado na justiça e vontade divina para executar essa denúncia.
Porém Sócrates desmancha os argumentos de Eutífron e demonstra como ele além de não entender o que é a piedade, também não sabe o qual é a vontade divina e apenas se apoia nela para seus interesses pessoais
Apologia de Sócrates:
Defesa e julgamento de Sócrates perante as acusações de não acreditar nos Deuses do Estado, de introduzir novos cultos e de corromper os jovens.
A primeira parte é a defesa em si, onde Sócrates, com sua clássica ironia e argumentação, derruba todos as acusações e demonstra como as denúncias são na verdade de caráter pessoal.
A segunda parte é a escolha da pena, em que após um julgamento acirrado que Sócrates foi condenado, a acusação oferece a pena de morte (como ja esperado por Sócrates) e a defesa oferece uma multa pífia e ainda mostra porque não deveria estar sendo acusado, mas sim condecorado.
A ultima parte é o discurso de Sócrates após sua condenação de morte para aqueles que votaram a favor e aqueles que votaram contra. Sócrates diz que a morte aceita morte a melhor pena plausível, pois já que viveu sua vida buscando a virtude e a justiça, não seria de seu caráter suplicar por misericórdia ou fugir como um covarde.
Críton (do Dever):
Diálogo entre Críton, que suplica a Sócrates que fuja de Atenas após sua condenação, alegando que terá sua reputação manchada por não ajudar um amigo e que o próprio Socrates estaria abandonando sua família ao aceitar a morte) e Sócrates, que refuta toda a argumentação de Críton e mostra como é digno e de acordo com seus princípios não fugir e desrespeitar as leis.
Primeiro, Sócrates diz que Críton não deveria se preocupar com toda opinião alheia, apenas às qualificadas. Além disso, diz que assim como um atleta deve respeitar e ser obediente ao seu técnico (não a multidão) se não será prejudicado, sua alma também sofreria prejuízo caso desobedece a sentença.
Depois, diz que ao desrespeitar as leis, estaria abalando as instituições de Atenas e completa dizendo que não se combate injustiças com mais injustiças, assim como não se combate o mal com o mal, demonstrando isso com um diálogo fictício entre ele mesmo e as Leis.
Fédon (da Alma):
Nesse diálogo que é um pouco mais extenso, Fédon descreve os momentos finais da vida de Sócrates e seu último diálogo em vida, sobre o enfrentamento da morte por um filósofo e a imortalidade da Alma.
Há presente nesse diálogo uma chama do que se tornaria a Teoria das Ideias de Platão, onde o mundo seria dividido entre o sensível e o inteligível, visível e invisível, mortal e imortal; onde tudo que presenciamos com nossos sentidos são meras copias de modelos ideias, que nossa alma faz parte.
Primeiro, Sócrates demonstra porque morrer para um filósofo não é algo a se temer (apesar de condenar o suicídio) uma vez que este passa sua vida buscando distanciar sua alma de seu corpo (estes que são opostos), que impede a alma de alcançar à sabedoria.
Depois Sócrates expõe seus primeiros argumentos sobre a imortalidade da Alma: alternância dos opostos (tudo nasce de seu oposto), a reminiscência (a alma existe antes do corpo e não aprende, apenas se lembra) e a Teoria das Ideias, mostrando como a Alma é invisível, simples e imutável, pertencendo ao campo das ideias.
Mesmo assim, ainda há dois homens presentes que não se convencem do que Sócrates expõe e o questionam e também são refutados.
Sócrates termina a discussão descrevendo, embasado na mitologia, o destino das almas.
Por fim, Sócrates se despede de sua família, depois de seus amigos, pede que não se aborreçam (Fédon faz um comentário interessante de que não chorava pelo sofrimento de seu amigos, já que este estava contente com a morte, mas chorava pela sua perda), sejam corajosos e morre, expelindo ultimas palavras no mínimo curiosas.