Anita Blanchard 10/03/2014Por meio desta, eu confesso: adoro a série Sociedade Secreta!Não sei nem por onde começar a falar dessa série. Confesso que demorei a decidir lê-la, mas, em um belo dia, a vontade veio de algum lugar e nunca uma vontade foi tão recompensada. Os livros são super divertidos. Não sei bem se podem ser classificados como jovem-adultos (não sou muito boa com classificações...), pois a história se passa com os personagens na faculdade, e alguns temas comuns naquela categoria já não são mais tão relevantes. A personagem principal, Amy Haskel, é muito engraçada, tem aquele tipo de humor sarcástico, é uma fã de teorias da conspiração, e seu jeito diverge totalmente do dos outros membros da sociedade, o que contribui bastante para o desenrolar das tramas. Ela lembra bastante a minha queridinha Jessica da série Jessica Darling da Megan McCafferty, com seu humor ácido, suas listas e confusões. Um dos pontos que me chamaram muito a atenção nesses livros foi que eles não se apóiam em um casal para conquistar o público, não sei se devido à já citada idade dos personagens ou se essa é uma característica da autora, pois não li nada mais dela. Até um certo ponto da série, a Amy tem seus rolos amorosos, mas sem um envolvimento sentimental mais profundo. E, quando ele finalmente acontece, é com um cara inesperado (pelo menos para mim...) e é muito bem desenvolvido e diferente.
Toda a trama da série rola em torno da convocação da sociedade secreta mais tradicional do campus da fictícia Universidade Eli, a Rosa & Túmulo. Para quem não sabe, essas sociedades são bem comuns na Ivy League, que compreende as universidades de maior prestígio dos Estados Unidos: Cornell, Harvard, Columbia, Yale, Brown, Dartmouth, Princeton e da Pensilvania. A mais famosa dessas sociedades é a Skull & Bones (tem até um filme baseado nela, “Sociedade Secreta”, com o falecido Paul Walker e o Joshua Jackson), de Yale, que foi onde a Diana Peterfreund se formou. Muitas das situações nos livros são referências a Skull & Bones, como o broche com a rosa em um caixão que cada membro recebe como símbolo da sociedade (na sociedade da Yale, é um relógio de pulso); o bar em que os Coveiros (como os membros da sociedade são chamados) costumam se encontrar, a bebida secreta que eles pedem; o número que representa a Rosa & Túmulo, 312 (no caso da Skull & Bones, o 322); a ilha em que eles passam a folga de primavera; e outras cositas más.
Na história (e acredito que na Yale também), a Rosa &Túmulo tradicionalmente só convoca homens para a sociedade, mas no início do primeiro livro da série, os atuais membros decidem convocar mulheres. Nem preciso dizer que isso causa uma revolução. Os patriarcas tentam revogar a decisão, membros do próprio clube discordam e tentam de tudo para impedir, mas sem sucesso. Amy é uma dessas convocadas, e as cenas dela na entrevista, na convocação e no ritual de iniciação são as mais hilárias possíveis. Aliás, as tradições e rituais da sociedade fazem você querer ser parte dela e dão uma vontade louca de voltar para os tempos de faculdade.
Focando mais no último livro, Escolhas de Formatura, Amy está para se formar e precisa escolher um novo membro para substituí-la na Rosa & Túmulo. Isso acaba aprofundando um pouco a questão das sociedades secretas, sua importância nas universidades e na sociedade em geral, seus quesitos de escolha, seus rituais, etc. Muitas vezes nesse livro eu fiquei pensando como toda a história das sociedades secretas parece uma repetição do colegial nos Estados Unidos. Neste último nós vemos uma supervalorização de certas figuras, como a líder de torcida e os atletas, que culmina na escolha do rei e da rainha do baile. No caso das universidades da Ivy League, ocorre o mesmo com os membros das sociedades secretas. Ser parte delas é supervalorizado, pois se acredita que dali sairão os futuros líderes da sociedade, diminuindo aqueles que não são convocados (tem até uma situação que retrata bem isso no primeiro livro). Com isso eles perpetuam o elitismo, a segregação, o nepotismo, o poder aquisitivo e a ambição. Nesse contexto a convocação de mulheres e algumas decisões e atitudes dos membros do atual clube, embora desagradem os tradicionais patriarcas, são uma tentativa de que a Rosa &Túmulo reflita as mudanças da sociedade como um todo, e ela tenha uma importância social, em vez de se tornar obsoleta.
Ainda sobre essa questão, fiquei morrendo de vontade de ler a fictícia monografia de conclusão de curso da Amy, que fala sobre o papel da mulher como guardiã na poesia épica: “(...) enquanto o conhecimento desses mistérios permanecia um privilégio exclusivamente masculino, a entrada ou iniciação nessa percepção era mais frequentemente guardada por uma entidade feminina”. Não é à toa que esse tema é usado pelo clube de Amy para a iniciação dos novos convocados, focando na viagem de Dante através do Inferno, do Purgatório e do Paraíso na Divina Comédia. Aqui ainda temos uma coincidência: muitas vezes a crítica referiu-se à série Sociedade Secreta como um “Código da Vinci” para jovens, e no último livro da série temos o Inferno de Dante como tema da iniciação da Rosa &Túmulo, tema esse que também foi usado pelo Dan Brown, autor de “O Código da Vinci”, em seu novo livro da série do Robert Langdon, que se chama “Inferno”.
Por fim, deixo aqui meu juramento eterno à Rosa &Túmulo e à série Sociedade Secreta: “eu, Anita Blanchard, Bárbara-Assim-Chamada, juro solenemente e declaro meu amor e afeição, lealdade eterna e fidelidade sem fim. Pela Chama da Vida e pela Sombra da Morte, juro ser absolutamente fiel aos princípios dessa antiga ordem, favorecer seus amigos e me comprometer com seus inimigos, e colocar acima de todas as outras as causas da Ordem Rosa & Túmulo”.