leonardo.capis 24/06/2021
Deve haver um sem-número de livros que se ocupam da depressão, e esses livros devem, provavelmente, sempre figurar em outro número infinito de listas que se ocupam desse tema; é exatamente o caso da obra de Andrew Solomon, "O demônio do meio-dia", que ocupa sempre os primeiros lugares dessas listas, senão o primeiro. E isso porque seu livro é conhecido como o atlas da depressão, vista a imensa abrangência que este possui dentro das ramificações deste assunto.
Partindo de sua experiência pessoal, o autor nos faz mergulhar naquilo que é tão difícil expressar com as palavras: a sensação da depressão, seus sinais de aproximação e sua instalação. Recordando os próprios colapsos, Andrew nos conta como lidou com eles, detalha os tratamentos pelos quais passou, os medicamentos que tomou e seus efeitos. É chocante ver o quão devastadora pode ser a depressão; a escrita de Solomon é detalhista e me fez chegar perto (até demais) dos seus sofrimentos – a empatia surge automaticamente.
A pesquisa aliada à entrevistas com inúmeras pessoas que também sofrem ou sofreram com a depressão me levaram, por vários capítulos do livro, aos momentos mais comoventes e marcantes para mim. A dedicação que Solomon colocou neste trabalho é realmente admirável: ir tão fundo num problema que o afetou tão profundamente deve ter exigido muita coragem.
A redoma sob a qual fiquei durante a leitura do livro era um misto de sensações. Muitas coisas ainda me pareceram muito complexas e no escuro (apesar dos avanços científicos) e os relatos dos entrevistados e do próprio Andrew me deixaram um pouco com a sensação de que não tenho muito do que reclamar. Por outro lado, o apuro e diversidade das informações e reflexões acerca de questões polêmicas me deram a certeza de estar lendo o trabalho de alguém muito inteligente, o que é sempre agradável.
O livro é extenso, o assunto exige que o seja, então pode ser cansativo para a maioria de nós, mas é uma obra extremamente importante, até mesmo para pessoas que nunca enfrentaram essa doença. O fato de não a enfrentarmos nós mesmos não quer dizer que vamos passar incólumes à ela, pois nossos amigos ou nossos parentes mais próximos podem, um dia, sofrer dela. Solomon, como autor e também paciente, nos fornece um riquíssimo material para que a depressão tenha para nós uma forma, senão completamente definida, ao menos menos distorcida do que ela geralmente é, o que dificulta o entendimento sobre a doença e os que são acometidos por ela. É um livro que ainda pretendo consultar infinitas vezes.
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