z..... 04/12/2020
Segundo livro publicado pela inglesa Jane Goodall, em 1991, sobre 30 anos de estudos com chimpanzés na Tanzânia. Atualmente soma 60 anos de pesquisas e, em conjunto com sua fundação, tem várias obras publicadas mundo afora, voltadas para a educação e preservação ambiental.
Jane Goodall ampliou a percepção sobre os chimpanzés, com descobertas revolucionárias sobre capacidades cognitivas e interações comportamentais, em contexto onde havia alienação, visão estereotipada e barbárie no trato com os animais. Dessa forma, fortaleceu a preservação e contribuiu para a antropologia, pois a sociedade dos chimpanzés reproduz aspectos vivenciados pelo homem, ilustrando realidade onde há disputas pelo poder, traições, articulações em manobras interesseiras, busca de ascensão social, violência entre grupos, traumas, desajustes com a realidade, guerras e ainda histórias de fraternidade. Tudo num contexto visceral e primitivo.
Algo que torna a leitura interessante é que a autora se afasta da metodologia acadêmica que privilegia dados frios e calculistas, transmitindo a informação em relatos in situ, que às vezes parecem aventuras ou contos, evidentemente, da vida real.
Acredito que se Jack London tivesse conhecido os relatos de Jane, teria escrito o seu "Antes de Adão" com mais visceralidade (ressalto que acho curiosas essas coisas, mas não creio no evolucionismo).
As partes que mais instigaram minha leitura estão nas guerras travadas com outros grupos (onde o estudado por Jane foi quase dizimado); as histórias de ascensão de três machos alfa (cada um com peculiaridades, como a esperteza de Everest, a força de Figan e a obstinação de Goblin, impondo-se mesmo não sendo o mais forte), a misteriosa e impactante disposição canibal de Passion (que deu fim a pelo menos 10 filhotes, arrancados das mães); a caça a outras espécies (aspecto até então desconhecido); o uso de ferramentas para benefícios pessoais (como a alimentação de cupins); e histórias correlacionadas a perdas traumáticas (como a orfandade, capaz de levar a estágio de letargia e definhamento mortal em poucos dias).
Entre todos os animais descritos, os que receberam mais destaque foram as fêmeas Flo e Fifi, bem como os machos Figan e Goblin. Podemos dizer, informalmente, que são "as estrelas do livro".
Curioso que, entre todos os chimpanzés, Jane tinha apreço especialmente por um que chamava David Graybeard, mas quase não é citado, apenas em sua morte e primeira observação de um chimpanzé comendo carne.
Outro aspecto interessante é que a autora é incluída num grupo de três primatologistas (chamado As Trimatas) de grande contribuição para a ciência. Foram contemporâneas, amigas e tiveram professor em comum. Além de Jane Goodall, renomada pelo estudo entre chimpanzés na Tanzânia, "As Trimatas" teve a americana Dian Fossey (que se destacou no estudo com gorilas em Ruanda, com vida retratada no filme "A montanha dos gorilas") e a lituano-canadense Birutė Galdikas (estudiosa de orangotangos em Bornéu).
Dessas três, falta-me conhecer obra sobre a última.
O livro tem galeria de fotos e, como era de se esperar, apresenta direcionamento final em alerta e incentivo à importância e preservação ambiental dos animais em estudo (que Jane denomina animais não-humanos), relatando também exemplos tristes no descaso.
Leitura no contexto da pandemia em Macapá.