Carlos Souza 19/08/2021
"Assinando por Alma e Corpo, aponho-lhes meu nome"
Um livro complicado de descrever. Folhas de Relva é um organismo vivo, algo mutável e inconstante.
Os conteúdos apresentados em suas folhas são pontuais, breves e simples, porém, também são abrangentes, longos e complexos. Whitman conseguiu materializar o conceito de paradoxo, isso de forma implícita e explícita. É possível perceber a presença de Whitman ao decorrer da leitura, é como uma voz com a qual conversamos, esse astral, ao meu ver, é uma das coisas mais valorosas da obra.
Encontramos textos dos mais variados assuntos, todos abordados de maneira crua, sem floreios ou enrolações. Os versos livres não possuem sentidos absolutos, e não adianta tentar determinar algo, porque você não conseguirá. É nítido como o texto cresce e diminui semelhante aos próprios pensamentos do leitor. Folhas de Relva brinca com o caráter subjetivo do pensamento, os poemas e seus sentidos mudam, também podendo perdê-los em determinado momento, isso depende da sua própria experiência e do local em que você está localizado na leitura. Por isso, acho essencial ir e voltar ao decorrer do aumento da proximidade com o livro.
Suas poesias transitam por todos os núcleos humanos, sem preconceitos ou disputas intelectuais, vemos muito sutilmente explanações sobre o amor, o sexo, o corpo e o companheirismo, todos envolvidos numa aura de prazer, mais especificamente, prazer corpóreo, mas não semelhante ao do indivíduo hedonista por natureza, mas daquele que necessita da liberdade para conhecer sua própria complexidade, e que para isso, de forma alguma, submete-se aos grilhões estipulados pela sociedade puritana.
Enfim, um livro maravilhoso, eis aqui um trecho que bem o representa: "Oh, enquanto eu viver para ser o governante da vida, não um escravo, para encontrar a vida como um poderoso conquistador, e, assim, nada exterior a mim assumirá o comando de mim."