A Cartuxa de Parma

A Cartuxa de Parma Stendhal




Resenhas - A Cartuxa de Parma


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Mateus Sant'Ana 03/11/2023

Esse livro teve um papel pessoal importante pra mim. Desde a pandemia e do fim do mestrado, em que desenvolvi sobre história, imprensa e literatura francesa, voltar a ler por fruição não foi exatamente fácil. Recomecei com os folhetins mais curtos de Dumas, cheio de reviravoltas e ação. A Cartuxa foi o primeiro romance extenso e com um estilo mais seco que li, se tornou um desafio. Como alguém aqui comentou em sua resenha, é um livro que passa algumas centenas de páginas sem que o leitor possa entender exatamente pra onde ele vai. Além disso, no meio, quando parece que o sofrimento do nosso personagem se concentraria em torno de sua relação com Gina, surge Clélia.
É semelhante ao Vermelho e o Negro, acho inclusive curioso que ambos possuam edições em que Napoleão esteja na capa. Ambos foram escritos em um momento em que se associar ao bonapartismo ou ao liberalismo poderia ser revolucionário, e embora haja algo de conservador em depositar na figura de Napoleão toda a agência, os heróis de Stendhal veem o imperador com seus próprios heróis. É interessante pensar nisso atualmente, em um momento em que a crença no crescimento individual não mais é revolucionário, na verdade, é extremamente conservador. O mito do homem que se constrói, que se coroa, tal qual Napoleão, é incentivado aos montes pelos grandes empresários e "coaches" com os quais lidamos hoje em dia. Daí, a imagem do imperador francês ainda é poderosa, afinal, em 2023 está sendo feito uma épica biografia de Napoleão, de uma magnitude que não nos havia sido entregue até então. Faço essa reflexão pois o livro se permanece atual. Talvez os Del Dongo e Sorel de nosso tempo não idealizem líderes militares, mas com certeza ainda se espelham nos self made man de nossos tempos. Assim como Del Dongo, dariam tudo para estar próximos aos seus heróis.
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Paulo 20/09/2023

Um romance de fôlego
Eu não sabia o que significava “cartuxa” e fui pesquisar: ordem religiosa fundada por São Bruno. Pensei, então, que se tratava de um romance sobre religiosos de um convento situado em Parma, na Itália. À medida que avançava na leitura, percebi que o título não guardava nenhuma correspondência com a história.
O jovem milanês Fabrice Del Dongo, então com 16 anos, inspirado por livros que continham gravuras de batalhas, resolve unir-se ao exército de Napoleão Bonaparte. Com um passaporte falso, o ingênuo e romântico herói cruza a fronteira, é preso, mas se junta ao exército francês, comandado pelo lendário marechal Ney, e participa de atividades militares.
Em meio a diversos acontecimentos engraçados e quixotescos, Stendhal nos deixa na dúvida se Fabrice participou da famigerada batalha de Waterloo.
O herói tem uma tia, a belíssima condessa Gina Pietranera, uma das mais carismáticas e envolventes mulheres da literatura universal. Entusiasmada, inteligente, belíssima e sedutora, ela cativa todos os homens à sua volta, inclusive os leitores. Uma personagem absolutamente marcante.
A narrativa alterna entre as aventuras e confusões amorosas de Fabrice - sua fuga das autoridades italianas, a utilização de identidades falsas, seus amores e duelos - e a escalada social da condessa na corte de Parma, onde ela conquista notável influência sobre a realeza.
Fabrice era um jovem mulherengo, deslumbrado com sua condição nobre e destemperado. Como não tinha um propósito de vida, era levado pelos acontecimentos, sempre ajudado por mulheres atraídas por sua beleza. Por outro lado, a condessa era uma mulher determinada que manipulava e seduzia os homens à sua volta para tornar-se cada vez mais poderosa. Há uma espécie de amor platônico entre os dois.
Penso que Stendhal quis mostrar o poder da beleza na sociedade da época, na medida em que os protagonistas, ambos belíssimos, se beneficiam dessa virtude excepcional durante toda a trama.
Somente quando Fabrice finalmente é detido e passa um bom período isolado no alto de uma torre é que ele se apaixona de verdade por Clélia Conti, filha do governador local.
Sua vida passa a ter um propósito e ele finalmente encontra a felicidade. Mas seu amor tem que enfrentar diversas dificuldades até se consumar: Clélia estava prometida para casar com outro, fizera uma promessa de não o ver se ele saísse da prisão com vida e Fabrice era então padre.
De certa forma, a obra pode ser considerada um romance de formação. De jovem impetuoso, marcado por aventuras e depois pelo sofrimento, Fabrice amadurece e percebe que a vida só faz sentido quando se vive um verdadeiro amor.
O final é trágico e escrito de forma açodada, com muitos fatos se sucedendo em ritmo frenético. Parece até que o autor se cansou do livro para terminá-lo logo.
Mas, no conjunto, a obra é genial. A leitura me prendeu do início ao fim. Romantismo, aventuras, lições de política, reviravoltas, fatos históricos, intrigas, crítica social, tudo isso escrito em apenas 53 dias. Haja fôlego.
Ah, com a ironia que lhe é peculiar, a cartuxa de Parma é o local onde Fabrice passa o resto de seus dias e é mencionada uma única vez no final do romance. É isso mesmo: o título não tem pertinência nenhuma com a obra…
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Marcos606 22/03/2023

Fabrice del Dongo, um jovem aristocrata e ardente admirador de Napoleão, luta em Waterloo e retorna a Parma, onde se junta à igreja para obter vantagens mundanas.

Tolstoi foi fortemente influenciado pelo tratamento de Stendhal da Batalha de Waterloo em sua representação da Batalha de Borodino, formando uma parte central de seu romance Guerra e Paz.
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Michele Soares 24/04/2022

do amor etc.
Tem um trecho muito bonito de um ensaio do Italo Calvino em que ele começa especulando sobre a quantidade de leitores que uma adaptação cinematográfica d'A Cartuxa de Parma pode vir a angariar (um pouco como, hoje em dia, depois de assistir as duas temporadas de Bridgerton, entramos na Estante Virtual e pesquisamos o preço da coleção de livros da Julia Quinn). Só que essa especulação do autor fracassa de largada, quando ele constata que:

"o dado importante que nenhuma estatística poderá fornecer consiste em quantos jovens serão atingidos por um raio desde as primeiras páginas e se convencerão de repente de que o mais belo romance do mundo só pode ser esse, e reconhecerão o romance que sempre haviam desejado ler e que servirá como termo de comparação para todos os outros que hão de ler depois."

"A Cartuxa de Parma", sem dúvidas, é um romance do coração, do meu coração (e parece que do coração de Calvino também). Uma vez, Stendhal escreveu como as coisas que amamos são as mais difíceis de pronunciar, de falar sobre, e eu sinto isso quando tento escrever sobre a beleza ? e a consequente promessa de alegria ? que um leitor em potencial d'A Cartuxa pode vir a encontrar, tão logo vença a primeira página. É mais cômodo, nesse sentido, me apoiar nos escritos de outro sobre o objeto amado ? assim é que me apoio na resenha de Calvino pra falar dois segundos sobre o romance.

Eu gosto do trecho da resenha porque suas observações se provaram verdadeiras pra mim antes mesmo de conhecer o escrito. Não poderia contar nos dedos quantas foram as vezes que, no meio do caminho duma leitura, escrevi na margem, acima, abaixo, em qualquer canto das palavras: "isso me lembra Fabrice, n'A Cartuxa acontece o mesmo, tal personagem se daria bem com Gina etc." (mesmo ante um casual "etc." podemos lembrar de Stendhal e, por isso, o título da minha resenha ? ele é rei absoluto em, na sua tentativa de dizer apenas o essencial, cortar discursos e cartas inteiras com um abrupto e mortal "etc." ?, estou me vingando). É uma história que fica, sabe? Fica tanto por meio de cenas icônicas ? plasticamente gravadas no nosso cérebro até muito depois de termos terminado o romance ?, quanto por personagens queridos, que parecem caminhar ao nosso lado mesmo depois de termos nos despedido. Essa companhia nem sempre é percebida, não precisamos lembrar dela o tempo todo (como é inevitável fazer), mas ela está lá ? um pouco como o louco Ferrante, encenando o papel de apaixonado e seguindo os passos de Gina, personagem que a todos encanta e que hoje é, inclusive, minha personagem feminina favorita.

Calvino escreve o ensaio em 1982 e, passados exatos 40 anos, é reconfortante encontrar uma leitura sincera e amiga do romance de Stendhal, tecendo exatamente o tipo de comentário crítico-ensaístico que teria valor para S. caso ele conhecesse C. ? S. queria ser lido por leitores que pudesse considerar amigos. Por amigos entende-se, não pessoas que só o elogiassem a torto e a direito, mas pessoas com disponibilidade para ler e avaliar e ajudar a construir uma escrita romanesca digna; isso também significa não qualquer pessoa armada com suas pré-concepções, disposta a já atirar pedras em tudo e em todos os seus personagens, a fazê-los tentar sucumbir de largada em nome da moral.

Stendhal, como uma miríade de compositores do XIX, queria antes quem o escutasse e, não encontrando quem fizesse isso em sua época, S. projetou, como tantos, o seu sucesso para o futuro. Cada pessoa que se dispõe a ler seu romance de 1839 a 2022 prova que ele não estava errado; que, no futuro, ele encontrou amigos, mais do que jamais teve em vida, todos abertos para as histórias que ele tinha para contar. Esse gesto de amizade, essa dispobilidade tão valiosa, pode ou não resultar a descoberta de um romance do coração, como no meu caso, como foi no de Calvino. De qualquer modo, acredito que essa abertura para o romance é essencial, em qualquer momento da vida (não só pro jovem, portanto). O leitor, assim, pode encontrar mais um livro, bom ou mau, ou um romance pra vida inteira ? um amigo, desses que sempre vamos querer revisitar. Não vejo muito a perder.
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Michele Soares 01/10/2021

to the happy few
Faz um mês e pouquinho desde que terminei esse livro e quanto mais penso nele, melhor ele fica. Muitas cenas continuam me voltando, é com saudade que lembro do livro, com vontade imedita de releitura.

Ler A Cartuxa de Parma foi uma baita experiência (e que eu recomendo com muita insistência). Depois de "O Vermelho e o Negro" eu não sei que tipo de expectativa eu esperava que "A Cartuxa" cobrisse, enquanto segunda (apenas em termos cronológicos, não qualitativos) obra prima do Stendhal. No final, há muitos motivos para aproximar os dois livros, mas ambos conseguem se distanciar em ainda mais pontos.

Uma coisa que me fascina é como o estilo narrativo do Stendhal combina a fluidez e a emoção mais sublime e afetada com as páginas mais maçantes, que delineiam o tédio mais mortal. Está aí o grande inimigo deste romance (e também de O Vermelho e Negro), mais do que qualquer promotor da justiça Rassi: o tédio é aquilo que faz um príncipe tentar mobilizar o inferno, a fim de não deixar partir aquela que o afasta desse mal interminável. Na altura das cem páginas, o leitor se pergunta o que rolou. Nas cento e trinta, como assim. Nas duzentas, como isso pode acontecer. Nas duzentas e cinquenta, onde isso vai levar. E ninguém há de descansar enquanto não encontrar respostas (eu não descansei).

A galeria de personagens que desfilam aos olhos do leitor é variada; deste monte, algumas se sobressaem ? a do próprio Fabrice, a de Gina Del Dongo, sua tia, a do conde Mosca, a de Clélia Conti. Não é uma história sobre tentativa de ascenção social; aqui mergulhamos de cara nos meandros da nobreza e como os detalhes parte dessa vida podem mobilizar tragédias, ameaças, enredos dos mais mirabolantes possiveis. Existem cenas que sei que ficarão ficarão por muito tempo, cenas que vai ficar esculpidas na minha memória como ligadas a esse livro (Waterloo, a condessa Pietranera, o padre e seu pupilo partilhando um abraço emocionado, a amante em vias de salvar o amado de um veneno etc etc). Trata-se de uma incursão emocionante pela Itália do século XIX (lida, como deve-se lembrar, por um francês) e que recomendo grandemente.
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Debora696 22/06/2019

Esse livro foi escrito em menos de dois meses, porém levei uns quatro para terminar a leitura. Não é propriamente enfadonho, mas tem tantas reviravoltas que eu precisava parar um pouco a fim de assimilar a história.

O começo fala um pouco da família do nosso herói, Fabrice Del Dongo, segundo filho do marquês Del Dongo. É aí que somos apresentados a um personagem crucial para o desenrolar da história, a tia de Fabrice, Gina Pietranera (futura duquesa Sanseverina).

Em parte devido ao seu caráter romanesco e em parte influenciado pela tia, Fabrice toma simpatia por Napoleão e foge de casa para se juntar às tropas napoleônicas. Infelizmente, o momento é de derrota para Napoleão, pois ocorria a fatídica batalha de Waterloo, que culmina no exílio em Elba.

Após isso, Fabrice não volta para casa. O pai não quer um revolucionário na família e o governo local expatria aqueles ligados à causa napoleônica.

Nesse ponto há um ponto comum entre Fabrice Del Dongo e Julien Sorel (protagonista de O Vermelho e o Negro): a admiração por Napoleão Bonaparte. Apesar de Sorel mantê-la por todo o livro, n’A Cartuxa de Parma esse apreço transparece somente no início.

É então que Fabrice, com ajuda da mãe e da tia, se refugia em Napóles, levando uma vida frívola, com amantes, sem se preocupar com o futuro.

Isso muda quando Gina conhece o conde Mosca, primeiro-ministro de Parma, e se torna sua amante. Influenciada pelo ministro, Gina contrai núpcias com o velho duque Sanseverina e passa a brilhar na corte parmense. É aí que ela traz o sobrinho e o aconselha a seguir estudos eclesiásticos, a fim de não se transformar em um dândi frequentador de cafés e colecionador de cavalos e de mulheres.

A opção pelo clero é outro ponto em comum com Julien Sorel, a diferença é que Fabrice não escolhe por ambição, é tão-somente uma questão de conveniência política, pois um Del Dongo já fora arcebispo em Parma e seria vantajoso para a duquesa e o conde Mosca. É claro que isso não impede que Fabrice continue com seus casos amorosos, o que leva a muitas confusões, fugas precipitadas, uso de passaportes falsos…

Um desses amores, uma atriz de vaudeville, mesmo namorando se envolve com Fabrice. O amante enjeitado se enfurece ao ponto de fazer uma emboscada na estrada e morre pelas mãos do nosso herói. Essa é a parte que rende mais assunto no livro. Primeiro Fabrice foge, depois é capturado e levado à cidadela sob o comando do general Fabio Conti, do partido contrário à duquesa Sanseverina. Na cidadela ele revê a filha do general, Clélia, e se apaixona por ela. O sentimento é recíproco, sendo que a moça até o ajuda na fuga, ao levar vários metros de corda para que Fabrice desça pelo muro da fortaleza.

Porém a fuga tem um alto preço: os amantes passam quatorze meses sem se ver. Fabrice se torna coadjutor do arcebispo de Parma; Clélia se casa com o marquês Crescenzi.

Fabrice adquire fama de homem virtuoso, sem nunca esquecer Clélia. Contudo, depois da fuga da fortaleza, Clélia precisava cumprir a promessa de nunca mais ver Fabrice, que ela fez quando seu pai foi dopado com láudano na noite da evasão.

Mil e uma manobras e finalmente eles se reencontram, sempre às escuras. O resultado desses encontros é um filho que Fabrice quer que o reconheça como pai. Um rapto é planejado. Entretanto, a criança adoece e morre. Nesse ponto a narrativa se precipita para o final, há uma sucessão de mortes. A parte mais interessante do livro (o romance de Fabrice e Clélia) é muito curta. Porém é interessante notar como era a política na Itália antes da unificação, estados absolutistas, prisões à revelia, processos injustos, sem falar na naturalidade com que se ama mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

Há, no Youtube, uma série de 1982. Ainda não consegui assistir.
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Paulo 09/02/2019

Alguns comentários
Apesar da importância do livro, não foi uma leitura agradável.
Por um lado, é possível perceber a força da obra por ter um texto sofisticado e por ter uma visão crítica dos interesses e das falsidades do poder. Os personagens nobres, por exemplo, discutem de forma direta, sem hipocrisia, o toma-lá-dá-cá que serve para ajustar suas necessidades. Favores, casamento, dinheiro, títulos, direitos, tudo serve como moeda de troca entre os personagens. É notável também o modo como é feita a investigação sentimental e romântica: os personagens estão sempre verificando o que significa aquilo que sentem por alguém, o que é particularmente mais interessante nas relações entre Fabrice e a a duquesa sua tia. Outro ponto a destacar é o que inspirou Tolstoi em Guerra e Paz: Fabrice tenta participar da guerra, ajudando Napoleão, mas a guerra é tão confusa que ele não consegue nem sequer saber se chegou perto dela. Tolstoi desenvolveu bastante esse tema em sua obra.
Apesar de toda a relevância implicada nesses elementos, a trama é tortuosa e entregue ao leitor de uma forma muito heterogênea. A rocambolesca comunicação entre Fabrice, preso, e Clélia Conti chega a ser risível. A narrativa acelera e desacelera de forma confusa, as cenas se sucedem em alguns casos com pouquíssima clareza e as múltiplas referências a diversas figuras de autoridade tornam a leitura muito truncada.
Por isso, para mim, acabou sendo uma leitura apenas acadêmica, com reduzida fruição.

Alguns trechos que marquei.
Na p. 171, vejam essas fantásticas recomendações da duquesa para Fabrice, que vai estudar em Nápoles. (Peguei na internet de outra tradução, inferior)

"Podes crer ou não crer no que te ensinarem, mas nunca faças nenhuma objeção. Imagina que te ensinam as regras do jogo de “whist”; pensarias em fazer objeção a essas regras? Eu disse ao conde que eras um crente e ele se alegrou muito; isso é útil quer nesse mundo, quer no outro. Mas se crês, não caias na vulgaridade de falar com horror de Voltaire, Diderot, Raynal, e de todos esses desmiolados franceses precursores das duas Câmaras. Que esses nomes raramente te saiam da boca; mas, enfim, quando preciso, fala desses senhores com uma ironia calma; é gente de há muito refutada, e cujos ataques não surtem mais efeito. Crê cegamente em tudo que te disserem na Academia. Lembra-se que haverá gente que tomará nota fielmente das tuas menores objeções; poderão perdoar-te uma pequena aventura galante se for bem conduzida, mas nunca uma dúvida; a idade suprime a aventura e aumenta a dúvida. "

Na página 232, a dica é do conde.
"Se quiser consentir em nada fazer de extraordinário, não duvido que será um bispo muito respeitado, se não for muito respeitável."
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Gláucia 28/11/2017

A Cartuxa de Parma - Stendhal
Fabrice Del Dongo, um galante rapaz que foi criado (e mimado) pela mãe e pela tia, a duquesa Gina Sanseverina, se envolve rapidamente na batalha de Waterloo por nutrir extremo respeito e admiração por Napoleão Bonaparte. Esse foi seu crime. A partir daí o rapaz, tão imprudente quanto ingênuo, passa a ser perseguido e o livro se arrasta por 600 páginas com suas fugas e desventuras amorosas. Entre idas e vindas se apaixona pela jovem devota Clélia Conti.
O livro tem um tema bastante político, focando nas disputas entre França, Áustria e Itália e as batalhas napoleônicas.
Fazia tanto que eu não lia um livro tão chato. E o final merece figurar entre os mais ridículos de toda a literatura.
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Dinei1 07/03/2017

Ler essa obra é entrar na política pós revolucionária francesa; Revolução Francesa.

Mas o personagem longe de ser um partidarista constitucionalista e da divisão dos três poderes( executivo,legislativo e judiciário) é um apaixonado pelo heroísmo. Ou seja; nega o governo advindo as massas e glorifica o herói nacional, o imperador absoluto. A saber; Napoleão Bonaparte.

É nessa admiração profunda pelo imperador que o jovem Fabrice del Dongo, deixa a casa paterna e vai se alistar no exército do seu herói.
Mas o jovem aspirante a militar encontra desgraças em sua jornada, encontra amores que lhe tira o sossego, que abalam seu âmago.

O livro em si,como o Vermelho e o Negro também de Stendhal, é um "caldeirão borbulhante" das paixões humanas.Ou seja; amores conjugais, política, heroísmo, militarismo etc.
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Café & Espadas 22/04/2015

Um breve comentário a este romance seria uma tarefa frustrada, e acredito um tanto pretensiosa de minha parte. Quisera eu poder proclamar em incontáveis linhas toda uma experiência pessoal vivida no decorrer desses meses ao ler A Cartuxa, mas infelizmente não é o caso. Sendo assim segue minha tarefa astuciosa em notifica-los um escaninho desta obra inigualável.

Stendhal conseguiu transmitir os conflitos pessoais profundos de seus personagens, mostrou ao mundo como um bom romancista domina a linguagem. Em A Cartuxa de Parma a sociedade da época está perfeitamente retratada e com maestria sutilmente criticada. A veracidade na descrição da batalha de Waterloo, por exemplo, foi inspiração até mesmo para Tolstói, na criação de Guerra e Paz.

"De repente, partiram a todo galope. Instantes depois, Fabrice viu, vinte passos à frente, uma terra arada que se revolvia de um jeito singular. O fundo dos sulcos estava cheio de água, e a terra muito úmida que formava a crista desses sulcos voava em pequenos fragmentos pretos lançados a três ou quatro pés de altura. Fabrice observou, ao passar, esse efeito singular; depois seu pensamento voltou a se fixar na glória do marechal. Ouviu um grito seco perto de si: eram dois hussardos que caíam, atingidos por balas de canhão; e, quando olhou para eles, já estavam a vinte passos da escolta. O que lhe pareceu horrível foi um cavalo todo ensanguentado que estrebuchava na terra revolvida, enfiando as patas dentro das próprias tripas; queria seguir os outros: o sangue corria na lama. “Ah! Até que enfim, eis-me no fogo!”, pensou. “Vi o fogo!”, repetia a si mesmo, com satisfação."

O romance em questão narra a história de Fabrice del Dongo um homem “que é feito para não encontrar obstáculos as suas vontades”, e leva-nos aos picos e desfiladeiros da vida deste herói envolvente, que parece ter vida própria, testemunhando por muitas vezes pensamentos tão íntimos que é improvável o leitor não se identificar ou até “sentir o cheiro” da italianidade, como diria Emile Zola.

O cunho dramático do romance é imbuído de intrigas políticas e amores impossíveis, contextualizado no cerco da corte de Parma assombrada pelo fantasma de Napoleão Bonaparte. Este é, como em O Vermelho e o Negro, o herói de nosso protagonista. Fabrice não é ambicioso e seu desapego às coisas materiais permeia toda a obra. Ele, na verdade, é ingênuo e imprudente. Levado no primeiro momento pelo desejo de conhecer Napoleão e depois atraído por um amor socialmente impossível por Clélia Conti.

O conflito entre o amor fraternal e o carnal também é vívido no romance. Este cenário é protagonizado por Fabrice e sua tia, Duquesa se Sanseverina – Gina Pietranera, que é a fiel protetora de nosso herói. A Duquesa sacrifica-se em toda a narrativa para salva-lo das desventuras em que se envolve.

Pessoalmente não me agrada o desfecho deste livro, mas nada pode suplantar o todo, nem mesmo o fim. Acredito que a linguagem foi verdadeiramente dominada por Stendhal e não é à toa que ele está no hall dos mais unanimes escritores da história. A Cartuxa de Parma é, junto com O Vermelho e o Negro, seu principal legado.

Resta-me dizer que depois das aventuras vividas na corte de Parma com esses ilustres personagens, o imaginário do privilegiado leitor não será o mesmo. Fica, pois, ao mundo o encargo de reconhecer em Stendhal um dos maiores escritores de ficção da França e o enorme deleite na leitura deste “grand et beau livre”, nas palavras de Balzac.

site: http://cafeespadas.com/?p=2885
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jota 22/03/2015

Fabrice farsante
A Cartuxa de Parma só aparece no título e na última página do livro: é um convento de uma ordem religiosa, a dos cartuxos, onde o protagonista Fabrice Del Dongo, se refugia depois de intensa vida amorosa e aventureira. É reconhecida como a segunda obra-prima de Stendhal (o escritor francês Henri Beyle); a outra é bastante mais conhecida, O Vermelho e o Negro.

Nem de longe, no entanto, Del Dongo pode ser comparado a Julien Sorel, o protagonista de O Vermelho e o Negro. Tampouco as duas histórias. Sorel protagoniza um profundo romance histórico e psicológico, enquanto que A Cartuxa de Parma é uma farsa sobre as aventuras e desventuras amorosas de Del Dongo. Sem a graça e o magnetismo de, por exemplo, Tom Jones do autor inglês Henry Fielding.

Nas duas obras mais famosas de Stendhal questões e personagens políticas e religiosas ganham dimensões épicas. As trapaças políticas em A Cartuxa... certamente são de dar inveja ao governo decadente que vivemos agora no Brasil. Fora isso, achei o livro bastante aborrecido em muitos pontos: e são cerca de 600 páginas para atravessar! Parece que a tradução não é boa, mas na verdade a culpa não é da tradutora: Stendhal escreveu-o em apenas 53 dias e o leitor atento percebe isso.

Enquanto a saga de Sorel prende nossa atenção o tempo todo, por inúmeras vezes você se pega bocejando e com vontade de largar a história de Del Dongo pelo meio. Não parece que estamos lendo outra obra do mesmo autor que nos deu o inesquecível Julien Sorel.

Se ainda não leu Stendhal alguma vez, uma estatística: neste momento, 122 leitores do Skoob leram A Cartuxa de Parma enquanto os leitores de O Vermelho e Negro chegam a 3.082. Uma grande diferença, não? A mesma que eu encontrei entre as duas obras, dois clássicos, independentemente da avaliação que fizermos aqui.

Lido entre 18/02 e 22/03/2015.
Juca Fardin 10/11/2018minha estante
A linguagem de A Cartuxa de Parma é que me chama a atenção. Estou gostando.


jota 10/11/2018minha estante
Que bom que esteja apreciando. Minha relação com a obra (como você deve ter percebido) não foi tão boa quanto aquela com O Vermelho e o Negro.


Juca Fardin 10/11/2018minha estante
São duas obras magistrais, embora diferentes!


jota 10/11/2018minha estante
Sim, são muito diferentes.




Adriana Scarpin 29/01/2015

O lance é que não atinge o nível de excelência presente em O Vermelho e o Negro, quer dizer há todas aquelas intrigas socio-políticas belamente delineadas, especialmente capitaneadas pela duquesa Gina, uma das melhores personagens femininas do século XIX, mas algo no seu desenrolar torna-lhe falho principalmente pela falta de simpatia que inspira Fabrício Del Dongo.
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Wilton 23/12/2014

Inverossímil, e daí
Uma viagem ao Século XVIII é o que nos oferece Stendhal nesse romance. O jovem Fabrice é o protagonista. Ele carrega um arsenal de características românticas. Entrega-se descontroladamente às sensações e aos sentimentos. Seu estado de espírito varia da extrema alegria ao mais insuportável sofrimento em questão de segundos. Ele é capaz de realizar uma fuga mirabolante e inacreditável de um insalubre presídio e logo depois voltar, espontaneamente à reclusão por causa do amor de uma mulher. Para ele, não há meio termo: ou regozija-se com a vida e dela extrai os mais saborosos frutos ou entrega-se a ideias sombrias que incluem o suicídio. Volúvel, ama várias mulheres e por todas nutre uma paixão sincera. A questão política tem a sua vez; lendo A Cartuxa de Parma recebemos uma visão confiável, embora exagerada, do que foi a transição do Absolutismo para o Constitucionalismo na Europa. Naquele continente, falar da França constitucional era uma heresia sujeita a grave punição. O leitor moderno certamente achará o livro monótono e inverossímil. Para "curti-lo" é necessário viajar no tempo e imaginar-se no conturbado mundo do fim do Século XVII e início do XVIII. Indispensável é refestelar-se com os estertores do Século das Luzes e tremer com as radicais mudanças do século das grandes revoluções. Concordo: A narrativa é inverossímil. E, daí; a arte tem compromisso com a beleza, não com a realidade.
Ana Cristina 23/12/2014minha estante
Excelente resenha!


Carlos Patricio 11/04/2016minha estante
" A narrativa é inverossímil. E, daí; a arte tem compromisso com a beleza, não com a realidade."
PERFEITO




Lucas 20/09/2014

A Grande Beleza
A exemplo de Os demônios (Dostoievski), não é fácil engrenar na leitura deste romance, superado na sua forma tantos parágrafos dispensáveis, tantos personagens confusamente introduzidos, tantas mesquinharias sociais na trama, tanta dificuldade (desprezo?) em conquistar a atenção e o interesse do leitor. Ocorre que nem Dostô nem Stendhal foram superados na capacidade de análise psicológica do homem, e da sua contextualização no panorama social. A comparação termina aí. Ambos são opostos na paleta de cores, na perspectiva adotada e no sentimento que impregna a atmosfera embora ambos se utilizem da fina ironia, ferramenta que parece indispensável aos polêmicos publicistas do século XIX. Se o eslavismo do russo é sombrio, derrotista, angustiado, místico, afetado pelas ruínas de um mundo que oferece apenas o sentimento religioso como redenção da falência do projeto humanista, Stendhal é o viajante que vai ao sul, em direção ao Mediterrâneo, às paisagens ensolaradas e deslumbrantes (oh, irresistível melancolia do lago de Como!), e que, em lugar da angústia, se refestela em meio às ridículas ruínas do projeto humanista, opondo ao ethos do europeu do norte a existência solar de uma energia individual plena vontade de potência, diria Nietzsche , de espírito luminoso, repleta de promessa de felicidade, em que o amor e a arte se fundem na beleza na Grande Beleza (sim, o filme de Sorrentino tem algo de stendhaliano aliás, já ouviram falar na Síndrome de Stendhal?). Stendhal é homem da estirpe de Nietzsche. Também de Maquiavel. E de Napoleão (se eu tivesse um gato, ele se chamaria Napoleão: é fascinante a altivez e o orgulho com que pensam governar o mundo, ainda que o mundo não passe de um apartamento de 30 m², ou de uma Europa mesquinha e decadente). Por mais formalmente imperfeito na sua construção arrastado no início, estrangulado no final , vale a pena meter o nariz no calhamaço de A Cartuxa de Parma. É um romance cheio de graça e de glória artigos proibidos ao homem moderno, cuja crise é tão bem diagnosticada por Sorrentino. E o final do romance é de uma tristeza sem par, dilacerante; quase inaceitável, para quem ainda guarda alguma fé na vida.
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