Debora696 22/06/2019
Esse livro foi escrito em menos de dois meses, porém levei uns quatro para terminar a leitura. Não é propriamente enfadonho, mas tem tantas reviravoltas que eu precisava parar um pouco a fim de assimilar a história.
O começo fala um pouco da família do nosso herói, Fabrice Del Dongo, segundo filho do marquês Del Dongo. É aí que somos apresentados a um personagem crucial para o desenrolar da história, a tia de Fabrice, Gina Pietranera (futura duquesa Sanseverina).
Em parte devido ao seu caráter romanesco e em parte influenciado pela tia, Fabrice toma simpatia por Napoleão e foge de casa para se juntar às tropas napoleônicas. Infelizmente, o momento é de derrota para Napoleão, pois ocorria a fatídica batalha de Waterloo, que culmina no exílio em Elba.
Após isso, Fabrice não volta para casa. O pai não quer um revolucionário na família e o governo local expatria aqueles ligados à causa napoleônica.
Nesse ponto há um ponto comum entre Fabrice Del Dongo e Julien Sorel (protagonista de O Vermelho e o Negro): a admiração por Napoleão Bonaparte. Apesar de Sorel mantê-la por todo o livro, n’A Cartuxa de Parma esse apreço transparece somente no início.
É então que Fabrice, com ajuda da mãe e da tia, se refugia em Napóles, levando uma vida frívola, com amantes, sem se preocupar com o futuro.
Isso muda quando Gina conhece o conde Mosca, primeiro-ministro de Parma, e se torna sua amante. Influenciada pelo ministro, Gina contrai núpcias com o velho duque Sanseverina e passa a brilhar na corte parmense. É aí que ela traz o sobrinho e o aconselha a seguir estudos eclesiásticos, a fim de não se transformar em um dândi frequentador de cafés e colecionador de cavalos e de mulheres.
A opção pelo clero é outro ponto em comum com Julien Sorel, a diferença é que Fabrice não escolhe por ambição, é tão-somente uma questão de conveniência política, pois um Del Dongo já fora arcebispo em Parma e seria vantajoso para a duquesa e o conde Mosca. É claro que isso não impede que Fabrice continue com seus casos amorosos, o que leva a muitas confusões, fugas precipitadas, uso de passaportes falsos…
Um desses amores, uma atriz de vaudeville, mesmo namorando se envolve com Fabrice. O amante enjeitado se enfurece ao ponto de fazer uma emboscada na estrada e morre pelas mãos do nosso herói. Essa é a parte que rende mais assunto no livro. Primeiro Fabrice foge, depois é capturado e levado à cidadela sob o comando do general Fabio Conti, do partido contrário à duquesa Sanseverina. Na cidadela ele revê a filha do general, Clélia, e se apaixona por ela. O sentimento é recíproco, sendo que a moça até o ajuda na fuga, ao levar vários metros de corda para que Fabrice desça pelo muro da fortaleza.
Porém a fuga tem um alto preço: os amantes passam quatorze meses sem se ver. Fabrice se torna coadjutor do arcebispo de Parma; Clélia se casa com o marquês Crescenzi.
Fabrice adquire fama de homem virtuoso, sem nunca esquecer Clélia. Contudo, depois da fuga da fortaleza, Clélia precisava cumprir a promessa de nunca mais ver Fabrice, que ela fez quando seu pai foi dopado com láudano na noite da evasão.
Mil e uma manobras e finalmente eles se reencontram, sempre às escuras. O resultado desses encontros é um filho que Fabrice quer que o reconheça como pai. Um rapto é planejado. Entretanto, a criança adoece e morre. Nesse ponto a narrativa se precipita para o final, há uma sucessão de mortes. A parte mais interessante do livro (o romance de Fabrice e Clélia) é muito curta. Porém é interessante notar como era a política na Itália antes da unificação, estados absolutistas, prisões à revelia, processos injustos, sem falar na naturalidade com que se ama mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Há, no Youtube, uma série de 1982. Ainda não consegui assistir.