Paula 08/05/2018Uma declaração de amor em forma de livro"Antes de dormir eu falei para mommy: 'Você não vai gostar, mas vou falar uma coisa. Não fala pra ninguém, mas lá no fundo do meu coração eu fico contente que meus pais morreram." A mommy quase se engasgou: 'Kat, você não sabe o que está falando. Seus pais te amavam muito!" "Sei, sim. Já imaginou se estivessem vivos e viessem me desadotar de você e do daddy?" Mommy começou a chorar, me deu mil beijinhos e não parava de dizer "eu te amo muito, minha princesa". E eu pensei que ela ia ficar zangada comigo."
Por favor, façam um favor para vocês e leiam esse livro.
Vocês já devem ter ouvido falar na família Schürmann... Aqueles velejadores... Os menois jovens talvez lembrarão de quando a volta ao mundo deles virou uma série no Fantástico. A cada domingo, a gente via por onde eles andavam. Nessa viagem, havia uma menininha: Kat, a filha adotiva do casal, que pela primeira vez saía numa jornada.
O que a família escondeu o tempo todo é que Kat era soropositiva. Eles a adotaram 2 anos antes, quando a mãe já tinha morrido (ela contraiu o vírus numa transfusão de sangue) e o pai, amigo da família, estava muito mal. A eles visitaram todos os continentes, em meados dos anos 1990 (quando pouco ainda se falava sobre o HIV) com uma criança portadora e que demandava de acompanhamento periódico e idas "de repente" a especialistas em Miami, independente de qual continente estavam. Essa viagem recebe bastante destaque no livro e é humanamente impossível não se encantar com as descobertas de Kat pelo mundo. Ela cresceu sem saber de sua condição, apesar de estranhar sempre estar doente apesar de tantas vitaminas.
A mãe da família, Heloisa, é apontada como autora, o que é errado: ela escreve pouco mais da metade. O resto fica por conta da própria Kat, morta em 2006. Suas palavras foram imortalizadas em um diário que retrata desde passagens simples do fim da infância, como o fato das demais amigas não brincarem mais de boneca, até algumas da chegada da adolescência, como a compra do primeiro sutiã e preocupações como "um dia eu também vou menstruar?". Kat também relata dificuldades decorrentes da condição, como o bullying que sofre por ser menor que as outras crianças e, quase nas páginas finais, descreve como foi descobrir ter HIV - nessa parte, Heloisa também participa da narrativa, com complementos.
Dica amiga: se não quiserem soluçar de chorar, parem de ler assim que o diário acaba. Há mais umas 5 folhas só e o final todos já sabem. Eu fui até o fim, mas é forte demais conhecer Kat, sabendo que ela foi de verdade, e se despedir da forma como aconteceu - ela estava bem e em menos de 48h, estava morta. Ainda assim, se quiserem, tenham forças para irem até o final: o livro é uma declaração de amor póstuma.
Ah, um dos filhos do Schürmann, levou essa história a um filme, que chegou a ser finalista na escolha do Oscar. Ainda não assisti, mas dizem ser diferente: no livro, temos a visão da Heloísa e da Kat. No filme, dele - ele também esteve presente sempre. O livro foi relançado na ocasião disso, mas optei por comprar uma edição antiga por um simples motivo: não havia sentido um livro sobre a Kat com outra criança na capa (no caso, a atriz mirim - nada contra ela, nada mesmo, mas o livro é sobre a Kat).