Lethycia Dias 10/03/2019Uma leitura estranhaAmbientado na década de 1920 na Indochina Francesa (colônia da França hoje correspondente ao Vietnã, Laos, Camboja e parte do sudeste da China), "O amante da China do Norte" é a história de amor proibido entre uma adolescente branca e pobre e um homem chinês milionário. E é também inspirado em vivências da iniciação sexual da autora.
O livro é curto e quase todo estruturado em frases curtas e diálogos. É quase cinematográfico, com descrições de cenas semelhantes a "imagens" de filmes e até mesmo indicações, em notas de rodapé ou no próprio texto, sobre como poderia ser adaptado para o cinema.
Essa estrutura fez com que eu demorasse a me acostumar com o texto e a me sentir "transportada" para esse lugar tão distante e diferente do que conheço. Outra barreira veio da falta de nomes para os protagonistas. Ele é denominado apenas como "o amante" ou "o chinês", enquanto a garota é chamada a todo momento de "a criança". Isso me incomodou profundamente, porque me fazia pensar que a protagonista era bem mais nova do que é, embora "quase 15 anos" não seja muito.
O livro é um retrato profundo de contrastes sociais e culturais. O amante de 29 anos jamais poderia se casar com a garota, por ela ser pobre, por não ser chinesa. Filha de uma colona que imigrou da França e que foi enganada, perdendo tudo o que possuía, "a criança" não tinha futuro nessa sociedade.
Poderia ter sido uma boa leitura, não fosse pela forma tão ousada. Pode ter sido uma inovação, mas a falta de uma narração usual me fez perder detalhes preciosos sobre as relações familiares da "criança", que parece ter tido uma relação incestuosa com o irmão mais novo, e sofrido agressões do irmão mais velho. Foi uma leitura confusa, e por isso lenta: levei duas semanas para ler menos de 200 páginas. Foi interessante, mas eu não leria de novo.
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