Eve Fowl 13/03/2013Resenha (LV) – “50 Tons do Sr. Darcy”, Emma ThomasCortesia da Editora Bertrand Brasil para o grupo Livro Viajante
Este é um livro que me surpreendeu por vários motivos, mesmo que ele tenha sido pensado por causa de um livro tão ruim quanto “50 Tons de Cinza”.
Eu sou muito “xiita” com clássicos e suas adaptações, já que vi muita coisa bizarra, a começar pela mistura horrenda de monstros com os clássicos. Mas, com paródias eu sou muito tolerante, pois o próprio nome já diz, é uma PARÓDIA! Não é para ser fiel, é para fazer uma brincadeira, fazer rir, ser despretensioso. E este livro foi exatamente assim.
O livro mistura elementos das duas obras, mas dando claramente preferência a “Orgulho e Preconceito”, de onde tirou seus personagens, situações e locações, criando uma brincadeira familiar para quem já leu o clássico. Mas, vamos começar pelos personagens!
Lizzie Bennet é uma feminista disfarçada em uma garota do século XIX. Sua inocência perante os desejos da carne, ligado a sua vida diária baseada em leitura, passeios ao ar livre, bordados, e outras atividades “femininas” servem para iguala-la a protagonista de “50 Tons de Cinza”, porém, Lizzie é uma mulher pensante, e por mais que sua vida cotidiana seja assim e a história a leve a se envolver com um mundo diferente, seus pensamentos e certas atitudes são progressistas. Ela consegue perceber o defeito das situações em que se encontra e percebe o ridículo das mais “eróticas”.
Chegamos então ao Sr. Darcy. Esqueçam o homem maravilhoso criado pela Jane Austen, esqueça o protagonista sem sal da E. L. James, seja então apresentados ao homem original, tarado, maníaco-compulsivo e abobalhado da Emma Thomas. O desenvolvimento deste homem caricaturado foi a grande sacada do livro, pois ali você não tem o personagem por quem você deve se apaixonar, e sim, o personagem que te arranca boas risadas e te faz perceber que é realmente uma paródia.
Os personagens secundários são uma beleza a parte, a Sra. Bennet foi transformada em uma mulher cuja principal meta de vida é ter as filhas defloradas, pouco importa se tiver casamento; Lidia e Kitty estão mais assanhadas e dispostas a levantar as saias; Jane continuou praticamente a mesma, só um pouco mais disposta a ceder ao Sr. Bingulinho, que também não mudou nada, só ganhou mais jeito de “homem”. O destaque entre os personagens secundários fica para o Sr. Collins, que aqui foi transformado em Phil Collins, com direito a muitas citações musicais, escândalos “divorcianos” e camiseta colada do Genesis, continuando meio patético, mas um patético pop.
Modificar os personagens foi uma jogada bem arriscada, mas misturar as diversas situações dos dois livros foi ainda mais, principalmente se considerar a distância tecnológica entre o séc. XIX e o ano de 2012. Mas a autora conseguiu driblar isso utilizando o que estava disponível na época e adaptando as situações, e, claro, fazendo muita piada disso tudo e levando os personagens a se perguntarem se naquela época certas coisas já existiam. Para quem acha que ela só brincou com isso, ledo engano, ela brincou com muitas características do séc XIX também, como a falta de emancipação da mulher, os enormes castelos, as diferenças de classe e outras coisas. E manteve alguns dos fatos essenciais do clássico, como os bailes, a visita de Lizzie a Rosings, e a desgraça da Lidia.
Devem estar se perguntando: e o BDSM? Ah, tem também! Só que, claro, fazendo piada de como as práticas foram tratadas no livro-inspiração, servindo como uma boa alfineta da trilogia, assim como o final, um dos mais divertidos que tive a oportunidade de ler. Mais divertido do que o final de “Opúsculo”, que para mim, é um clássico das paródias.
O texto já está bem extenso, como um chicote de nove caudas, mas prometo que logo acabo…
Eu não poderia terminar sem dizer sobre a diagramação e edição do livro, que ficaram praticamente perfeitas, com poucos erros de concordância e tradução, além das notas de rodapé, que ajudam o leitor a entender algumas das piadas “internas” do livro. Por falar em piadas, o tradutor teve um grande cuidado com alguns dos trocadilhos e tiradas que não fariam muito sentido em português, mas que adaptados fizeram a diferença.
Com pouco mais de 300 páginas, é um livro que flui fácil, não tem muita enrolação e quando menos se percebe, já fica perto do final. Como eu disse lá no começo, eu encarei o livro como uma paródia e me diverti com isso, não é uma história que vai mudar minha vida ou me fazer encontrar a iluminação, mas serve bem para te fazer rir e te preparar entre uma leitura mais densa e a próxima.
Quero agradecer, por fim, a Editora Bertrand Brasil que disponibilizou um exemplar para o grupo Livro Viajante, pois assim, pude me divertir com essa leitura, que se não fosse isso, não leria tão cedo…