DIRCE 22/10/2010
Mero detalhe
Ao ler a resenha da minha amiga Vivi, não resisti a tentação e conclui: tenho que ler esse livro, mesmo porque já compartilhamos leituras de alguns livros e não me recordo de discordâncias em nossas opiniões (exceto Saramago, mas este não conta – ainda chego lá).
Logo na primeira página pensei: que lindo!Este livro promete,mas (tem sempre um mas) o que vejo de repente? Um demo fuxiqueiro servindo na venda do judas? Um gigante? É isso mesmo? Reli e era isso mesmo. Ai!ai!ai!... não vou gostar. Afinal em Cem Anos de Solidão tive que travar uma batalha...Será que o Sol carioca "fritou" os miolos da minha amiga?
Vamos ver no que vai dar, pensei, e segui em frente.
Gostaria muito de dar uma de intelectual, de sabichona, e de poder dizer que entendi tudo o que José Luiz Peixoto quis transmitir com suas alegorias. Dizer que entendi o porquê de todos os nomes bíblicos. Dizer que sei dizer qual é protagonista da história, entretanto, o que aconteceu foi que os meus QI´s se tornaram polar: o meu Q.E ( quociente de entendimento) foi lá pro Polo Sul, e o Q.S ( quociente de sensibilidade) foi lá pro Polo Norte e, penso que não houve,em momento algum,uma congruência entre eles.
Entretanto, a cada linha lida, o meu quociente de sensibilidade começou a se fazer presente. O ENTENDIMENTO? Diante da beleza da escrita ele( o entendimento), se tornou tão, mas tão minúsculo. A cada frase, a cada página, a emoção começou a tomar conta de mim de forma contundente. A leitura desse livro foi como ouvir uma bela canção interpretada numa bela voz, porém, em um idioma que eu desconhecia só que, isso, era um mero detalhe porque a beleza e a dor vislumbradas eram tamanhas que me levaram as lágrimas. Terminei o livro numa espécie de estado de choque. Transcrevo abaixo três dos muitos fragmentos que fizeram com que as lágrimas rolassem:
(...) Imagino-te a ver esta noite da varanda dos meus olhos, a entrares nesta floresta de mil estrelas por contar, estas estrelas que não chegam para iluminar a terra, mas que iluminam pequenas circunferências do céu à sua volta. Imagino-te a ouvires-me enquanto se calhar embalas o menino com essa cantiga com que o teu pai, quando eras pequena, te adormecia e que assobiava no telheiro da tarde. pág. 55
(...) Mãe como gostava de ter de ter-te sentido dentro dos meus braços, como gostava de ter estado dentre os teus. Mãe para ti a morte não é cruel , pois há muito escolheste existir apenas para me lembrares o amor e, agora que nada em mim tem regresso eu sou definitivamente uma vertigem (...), pág. 181.
(...) Aproxima-se o fim e o desespero, E, sei agora, o fim e o desespero são a serenidade de uma solidão eterna e irremediável, tudo eterno e tudo irremediável, são o silêncio de quem chora sozinho numa noite infinita(...)pag.182
Afinal de que trata o livro? Penso que da DOR, da SOLIDÃO, do TEMPO, da existência , melhor dizendo, da NÃO EXISTÊNCIA, da morte e de tudo que está “impresso no DNA” da humanidade.
MAG-NÍ-FI-CO, mais um a figurar um dentre os meus favoritos.
Obs: Releitura em 10/2019. Melancólico, lindo. Graças a generosidade da minha amiga Vivi , tenho um exemplar com uma dedicatória do autor com os dizeres: Para a Dirce. Este é um romance de homens e mulheres da terra. Com a estima de José Luiz Peixoto. Rio (17/12/2012)
Hoje (11/11/2019) acrescentaria às palavras de J.L.P as palavras sobreviventes heroicos.
Um livro que deve ser LIDO, RELIDO E DIVULGADO.