Vício Cult 05/04/2024
Qual a importância da democracia?
Eu reformulei esse início de texto algumas vezes. Achei clichê demais, principalmente com os últimos acontecimentos. Mas aí me peguei pensando que, exatamente tendo o 08/01 como exemplo, fica claro que a pergunta é ainda pertinente e nada clichê.
No dia 15 de fevereiro de 1971, em plena ditadura militar, um jovem mineiro desaparece para nunca mais ser visto por sua família e amigos. Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto (ou Breno) foi levado pelo regime. ?Levado?... essa palavra tem aqui uma série de camadas.
Beto era amado por todos. Adorava MPB (e fazia essa adoração nítida ao cantar letras aos amigos, como forma de mostrar talvez, o orgulho pela cultura de sua terra). Acreditava na liberdade acima de tudo, inclusive, ao que parece, à despeito de sua própria.
Tornou-se Breno por necessidade, quando na clandestinidade por fazer parte de movimentos como VAR-Palmares, foi obrigado a viver longe de tudo que amava, menos de uma coisa: a luta!
?Seu amigo esteve aqui? (2012, Zahar) é uma obra que reúne relatos dos últimos momentos de Beto. Seus feitos, suas dores, sua fé. Mas não apenas isso. O livro da jornalista Cristina Chacel reúne um documentário riquíssimo de sua vida. Sua juventude com os colegas de escola, as festas de família, as descobertas na faculdade e por fim, o encontro com a social democracia.
A obra é recheada de citações de pessoas próximas de Beto, algumas ilustres (como a ex-presidenta Dilma Rousseff), outras desconhecidas do grande publico, mas igualmente engajadas com uma missão: o sonho da liberdade de regimes autoritários.
O livro reúne trechos de cartas, fotos, recortes de jornais num incrível material adicional, prova de árdua e respeitosa pesquisa.
Embora muito anterior, a narrativa lembrou-me bastante Cova 312 (2015) de Daniela Arbex tanto no conceito como na escrita, buscando uma condução mais empática do jornalismo denúncia, ponto positivo para Cristina.
A leitura de ?Seu amigo esteve aqui? está definitivamente além do simples desejo de conhecer uma história não contada, e Beto como seu protagonista. É uma prova de respito pela luta, pela memoria e importância da democracia.